O que este exemplo apresentado acima por Pedro Santos Guerreiro tem de rigor aritmético, tem, ao mesmo tempo, de falta de adesão à realidade das empresas portuguesas. Em décadas, nunca me deparei com uma empresa portuguesa que, para segurar um trabalhador seu, lhe tivesse oferecido um aumento de 50% (de € 1.000 para € 1.500), como no exemplo a que ele recorre no programa. E essas décadas de que falo englobam muitos anos em que as taxas de inflação foram de dois dígitos... Todo o português médio sabe que, ou negoceia bem a sua admissão a uma empresa, ou então não tem quaisquer condições de ser aumentado significativamente depois de estar "lá dentro". E tenho Pedro Santos Guerreiro na condição de "português médio", que já trabalhou em vários sítios: também terá passado pela experiência de, quando quis ser aumentado, mudou de emprego. Para que é que está ali a assumir o discurso exculpatório das empresas, para que elas não aumentem salários, invocando o chamado "hiato fiscal" com um exemplo mirabolante? A experiência das empresas portuguesas é que, quando alguém vem pedir um aumento "robusto", a hierarquia e a malta dos recursos humanos preferem deixar fugir os «colaboradores» mais cobiçados, a perturbar as grelhas rígidas de remuneração em vigor na empresa. É instintivo, é cultural e dura desde que eu me lembro. É por isso que não vale a pena dar-lhe um nome em estrangeiro, como "tax wedge". E Pedro Santos Guerreiro tem obrigação de saber que o Mundo das empresas é como é.
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