20 abril 2023

O FUZILAMENTO DE JULIÁN GRIMAU

A notícia (ao centro) que o Diário de Lisboa publica na primeira página da sua edição de 20 de Abril diz o essencial sobre os aspectos relacionados com a captura, prisão, julgamento, condenação e imediata execução do dirigente comunista Julián Grimau. Sobre o não essencial, esclareça-se que se trataria de uma evidente desforra sobre alguém que, durante a Guerra Civil espanhola (1936-39), fora um dos dirigentes da polícia política republicana, que era controlada pelos comunistas, e que cometeu inúmeras atrocidades. Como costuma acontecer, não há aqui inocentes de um lado e algozes do outro. A questão que se põe é se, 25 anos passados sobre os crimes, seria politicamente assisado a severidade da sanção que foi aplicada pelo Estado franquista, com uma cenografia - tribunal militar, paredão - que parecia que se regressara por momentos à Guerra Civil. Obviamente não era, tanto mais que, do outro lado, os próprios comunistas se haviam encarregado de fomentar uma campanha internacional, baseada em França, em prol do prisioneiro. Fora essa campanha, aliás, que acabara por catapultar a execução de Julián Grimau para a primeira página do jornal português. No fim, os dois extremismos - o de direita e o de esquerda - jogaram as suas cartas e obtiveram o que queriam: o franquismo ressuscitava aqui o espírito de guerra civil que o fazia sentir-se legitimado, depois de 25 anos de uma prestação governativa medíocre (os anos de grande crescimento económico ainda estão para chegar); o comunismo, mesmo antecipando que iria perder, conseguia conferir notoriedade a mais um mártir da sua causa (à direita, selos soviéticos de 1963 com a efígie de Grimau). É esse o segredo argumentativo de comunistas e fascistas que os torna aliados objectivos: pretender que não existe nada para além deles. A Democracia responde-lhes com a tolerância.

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