11 de Abril de 1953. Com o vagar que as circunstâncias documentam, começam-se a saber dados significativos que haviam sido recolhidos pelo Recenseamento Geral da População que tivera lugar em 15 de Dezembro de 1950. Haviam-se passado 28 meses: outros tempos, outras dinâmicas... Ficava-se a saber que cerca de ⅓ - ou, mais precisamente, 34,5% - dos portugueses eram analfabetos. Mas essa era a conclusão que se extrairia da leitura do título da notícia. Para quem se dispusesse a ler o detalhe, ao mesmo tempo que fazia contas, aperceber-se-ia que essa proporção - cerca de ⅔ de alfabetizados - era apenas real para a população masculina com mais de 7 anos (67,6%). Entre a população feminina, essa mesma proporção era pouco mais de metade (52,2%). Combinando os dois géneros o número de alfabetos que se apurava era de 59,5% - 40,5% de analfabetos adultos. Estava-se em plena metade do século XX e os números que aqui se reportam equivalem aos registados em França, só que quase cem anos antes... (cerca de 1855-58, ver o gráfico mais abaixo). Esta questão é um dos grandes embaraços da nossa História recente.
Porém, a nossa História mais recente, a do século XXI, parece estar a demonstrar que ter resolvido aquela questão não foi a resposta que ansiaríamos. Se os padrões actuais de alfabetização e qualificação dos portugueses se equivalem aos da substancial maioria dos países desenvolvidos, a falta de condições da economia doméstica para os empregar, continua a alimentar um fluxo migratório para o estrangeiro, só que agora um fluxo de emigrantes qualificados, como anteriormente ocorrera especialmente para as colónias africanas. Em suma, e como tantas vezes acontece, passámos muito tempo obcecados com aquilo que era apenas um meio (a alfabetização e qualificação da população), pressupondo que, só por si, isso nos faria chegar ao fim desejado (o do desenvolvimento económico). Foi uma grande ilusão colectiva. Ou, para colocar a questão actual nos termos concretos que todos possam compreender: para trabalhar nas estufas alentejanas, não é preciso saber ler, nem escrever.
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