25 de Abril de 1983. A revista alemã Stern convoca uma conferência de imprensa para fazer um anúncio espectacular: um dos seus principais repórteres, Gerd Heidemann, havia descoberto um conjunto de 62 livros contendo o diário pessoal de Adolf Hitler! Segundo as explicações prestadas, a recuperação de tão extraordinários documentos durara três anos e haviam custado 9,3 milhões de marcos à revista. Os diários haviam-se perdido em Março de 1945 com muita outra documentação, quando o avião que os transportava de Berlim para o refúgio alpino caíra em território que depois viria a fazer parte da zona de ocupação soviética e da Alemanha Oriental. A revista prometia começar a publicação do conteúdo mais relevante dos diários a partir da próximas edição da revista. Também revistas e jornais de outras nacionalidades anunciavam a sua intenção de comprar os direitos de publicação nos seus idiomas. Como bons jornalistas, os conferencistas não eram nada discretos na promessa de que o conteúdo dos diários provocaria uma substancial revisão do que se soubera até então sobre Adolf Hitler como dirigente do Terceiro Reich. Os conferencistas foram substancialmente mais reservados na explicação da controvérsia que ainda dominava os peritos encarregues de validar a autenticidade dos diários: havia quem os aceitasse, mas também havia quem os considerasse uma fraude. Para despertar a atenção geral, os conferencistas deram destaque a pormenores pueris como a descrição dos problemas de flatulência e halitose de Hitler ((“Eva diz que eu tenho mau hálito”), a um relato de uma gravidez histérica de Eva Braun em 1940 ou a passagens demonstrando um Hitler surpreendentemente sensível que parecia não saber o que estava a acontecer aos judeus. O anúncio fora de monta, mas não conseguiu suportar o escrutínio massivo que desencadeou: duas semanas depois, os diários foram denunciados como falsos - e não particularmente bem falsificados - escritos a grande velocidade por Konrad Kujau, um vigarista e falsificador de memorabilia nazi. Kujau e Heidemann, que se apropriara da maior parte do dinheiro pago pela Stern, vieram a ser condenados a quatro anos e meio de prisão. O episódio também custou vários despedimentos de editores de jornal, não apenas na Stern mas também noutras publicações onde os responsáveis se haviam apressado a comprar os direitos antes da concorrência, sem se acautelarem da certificação do que estavam a comprar. Uma grande lição sobre o jornalismo, mencionada vezes de menos pelos jornalistas, considerando a lição que é. O episódio foi também importante para descredibilizar uma certa corrente de pensamento revisionista alemão, que procurava amenizar, ainda que de forma indirecta, o III Reich.
Trevor-Roper saiu "chamuscado" do assunto...
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