Foi em Agosto de 1999 que a revista
The Economist resolveu escolher a figura do recém-falecido Ernesto Melo Antunes (1933-1999) para
ocupar a página de obituário que as suas edições tradicionalmente incluem. Embora os critérios dessa selecção sejam sempre muito circunstanciais (dependem, desde logo, de quem tenha morrido naquela semana…), lembro-me como foi uma escolha que avaliei muito favoravelmente quanto à profundidade e imparcialidade do trabalho dos analistas daquela revista. Tenha-se em conta que a revista é britânica e que mesmo
muitos portugueses não sabem actualmente quem foi Melo Antunes e que a orientação ideológica da revista e a do então falecido não tinham mesmo nada em comum...

Mas a minha grande lição acerca deste episódio foi uma outra. Mau grado aquele e
doutros destaques da informação internacional a respeito de Melo Antunes, a nossa informação nacional, sempre sequiosa de
fazer notícias com o que
lá de fora se
diz de nós, neste caso comportou-se com uma discrição surpreendente, não dando quase nenhum destaque ao facto de Melo Antunes ter sido falado
lá fora. Eu bem sabia que Melo Antunes nunca havia sido um
favorito da nossa informação mas também deu para concluir que aquela nossa faceta
labrega de
idolatrar tudo o que vem do
estrangeiro não seria assim tão
espontânea quanto parecia. Quanto isso acontece, tem de haver um
porquê. Foi um princípio que incorporei e que creio continuar hoje válido.

O
porquê do
destaque que foi dado à notícia das duas distinções recentemente atribuídas pela revista
Institutional Investor a António Mexia e Zeinal Bava parece-me que é
transparente: amenizar o incómodo que está a ser causado pela
divulgação do valor das remunerações dos gestores em Portugal. Contudo, o veículo que transporta a notícia, a tal revista
Institutional Investor, parece ser uma coisa assim um pouco
pífia e de nada adiantará qualificá-la de
a mais prestigiada do seu segmento ou outros elogios similares. É que só se pode falar com propriedade de
prestígio (quantificado no
Factor de Impacto) quando se trata de aspectos científicos de revistas como seja o caso, para exemplo, do
American Journal of Surgical Pathology.

Ora o universo destes gestores é
um de show-off, onde o que importa é a
notoriedade. E relativamente a esse aspecto
fundamental da Gestão
moderna, creio que é relevante compararem-se as circulações da
Institutional Investor (
101.000 exemplares mensais) com a da supracitada
The Economist (
1.300.000 exemplares semanais). Ou seja, a desta última é 56 vezes superior… mas o obituário de Melo Antunes recebeu um
infinitésimo da
publicidade do prémio dos dois gestores. Como
aqui se explica, o
Troféu Tanit foi um daqueles
galardões dos anos 70 que perdurou como sinónimo de um
prémio de bimbos que se pagava. E, neste mundo das aparências, os prémios de Mexia e Bava
parecem mesmo
Troféus Tanit modernizados…
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