O conclave é a assembleia magna de cardeais que se reúne depois da morte de um Papa para eleger o seu sucessor. Só os cardeais é que podem eleger o Papa mas, por sua vez, foram os Papas anteriores que escolheram e nomearam esses cardeais que toma parte na votação. As regras de funcionamento de um conclave são bastante estritas, com os eleitores isolados do exterior até ao seu fim do processo, que só se deverá concluir com a eleição do novo Papa. A maioria requerida para a eleição do novo Papa nos últimos conclaves tem sido de ⅔ dos votos (uma maioria robusta!) e os cardeais procedem a sucessivas votações (até 4 por dia) em que se tentam sondar as hipóteses de sucessivos candidatos favoritos (designados por papabili¹) em função da evolução dos resultados que eles vão obtendo nas sucessivas eleições.
Um papabile¹ pode obter uma maioria numa votação, mas o encadeamento das votações pode demonstrar que o seu nome não reúne o consenso suficiente para reunir a maioria requerida. Na próxima eleição experimenta-se outro candidato. Mas, por causa do rigor das regras, torna-se muito difícil reconstituir posteriormente a evolução dos escrutínios de um conclave. Os próprios intervenientes estão obrigados a uma atitude de reserva em relação ao que lá se passou sob pena de excomunhão, e as notas que eles tomaram e os próprios boletins de voto são queimados após cada votação – é aliás a queima desses papéis que torna o fumo negro na famosa chaminé (abaixo), informando que ainda não há Papa… Todas as narrativas do que poderá ter sucedido num conclave costumam por isso assentar em conjecturas e em deduções…
Mas o número das eleições que foram necessárias para a eleição de um Papa é do conhecimento público e torna-se um bom indicador (ainda que indirecto) da complexidade da eleição. Poucas votações são sinónimo de que um dos papabili¹ se impôs desde o início do conclave; muitas que houve que experimentar outros nomes para além dos mais óbvios. Para ter uma ideia concreta, nos conclaves realizados nos últimos 100 anos, no de 1914 Bento XV foi eleito ao 10º escrutínio e no de 1922 Pio XI só o foi ao 14º. Mas em 1939, logo à 3ª eleição Pio XII foi eleito. Pelo contrário, foi preciso esperar pelo 11º escrutínio para eleger João XXIII em 1958 enquanto em 1963, Paulo VI foi eleito na 6ª votação. Nos dois conclaves de 1978, João Paulo I foi eleito à 4ª eleição mas João Paulo II só à 8ª. E Bento XVI foi eleito em 2005 depois de 4 eleições.
Os conclaves tornaram-se momentos de grande importância mediática para a Igreja Católica mas, para lá das aparências e dos rituais, continuam a ser um momento crucial para determinar a evolução da instituição. O carácter pessoal do poder exercido pelo Papa – trata-se de uma verdadeira monarquia electiva – sobre uma estrutura fortemente hierarquizada, tornam-no a ele e ao processo da sua selecção importantíssimos. Lembro-me quando seguia o anúncio da eleição papal via televisão na tarde de 19 de Abril de 2005 (abaixo) e que, antes do anúncio de quem seria o novo Papa, me ter apercebido logo que o seu perfil seria de alguém consensual e/ou bem posicionado, porque só isso justificaria uma eleição tão rápida. Portanto, não seriam de se esperar grandes inovações do novo pontificado.
Hoje, passados cinco anos, apesar das críticas, da falta de imagem mediática do escolhido e agora dos escândalos do encobrimento da pedofilia, mantenho a opinião que então formulei... Mas isso também significa que creio que se enganará quem pensar que esta pressão mediática possa ter consequências sérias na alta hierarquia da Igreja Católica - muito menos a abdicação do Papa...
¹ Papabile (plural, papabili). Termo normalmente empregue no italiano original e que se refere aos cardeais com aspirações e possibilidades de serem eleitos num próximo conclave.
Um papabile¹ pode obter uma maioria numa votação, mas o encadeamento das votações pode demonstrar que o seu nome não reúne o consenso suficiente para reunir a maioria requerida. Na próxima eleição experimenta-se outro candidato. Mas, por causa do rigor das regras, torna-se muito difícil reconstituir posteriormente a evolução dos escrutínios de um conclave. Os próprios intervenientes estão obrigados a uma atitude de reserva em relação ao que lá se passou sob pena de excomunhão, e as notas que eles tomaram e os próprios boletins de voto são queimados após cada votação – é aliás a queima desses papéis que torna o fumo negro na famosa chaminé (abaixo), informando que ainda não há Papa… Todas as narrativas do que poderá ter sucedido num conclave costumam por isso assentar em conjecturas e em deduções…
Mas o número das eleições que foram necessárias para a eleição de um Papa é do conhecimento público e torna-se um bom indicador (ainda que indirecto) da complexidade da eleição. Poucas votações são sinónimo de que um dos papabili¹ se impôs desde o início do conclave; muitas que houve que experimentar outros nomes para além dos mais óbvios. Para ter uma ideia concreta, nos conclaves realizados nos últimos 100 anos, no de 1914 Bento XV foi eleito ao 10º escrutínio e no de 1922 Pio XI só o foi ao 14º. Mas em 1939, logo à 3ª eleição Pio XII foi eleito. Pelo contrário, foi preciso esperar pelo 11º escrutínio para eleger João XXIII em 1958 enquanto em 1963, Paulo VI foi eleito na 6ª votação. Nos dois conclaves de 1978, João Paulo I foi eleito à 4ª eleição mas João Paulo II só à 8ª. E Bento XVI foi eleito em 2005 depois de 4 eleições.
Os conclaves tornaram-se momentos de grande importância mediática para a Igreja Católica mas, para lá das aparências e dos rituais, continuam a ser um momento crucial para determinar a evolução da instituição. O carácter pessoal do poder exercido pelo Papa – trata-se de uma verdadeira monarquia electiva – sobre uma estrutura fortemente hierarquizada, tornam-no a ele e ao processo da sua selecção importantíssimos. Lembro-me quando seguia o anúncio da eleição papal via televisão na tarde de 19 de Abril de 2005 (abaixo) e que, antes do anúncio de quem seria o novo Papa, me ter apercebido logo que o seu perfil seria de alguém consensual e/ou bem posicionado, porque só isso justificaria uma eleição tão rápida. Portanto, não seriam de se esperar grandes inovações do novo pontificado.
Hoje, passados cinco anos, apesar das críticas, da falta de imagem mediática do escolhido e agora dos escândalos do encobrimento da pedofilia, mantenho a opinião que então formulei... Mas isso também significa que creio que se enganará quem pensar que esta pressão mediática possa ter consequências sérias na alta hierarquia da Igreja Católica - muito menos a abdicação do Papa...
¹ Papabile (plural, papabili). Termo normalmente empregue no italiano original e que se refere aos cardeais com aspirações e possibilidades de serem eleitos num próximo conclave.
Percebe-se que se utilize o italiano - "papável" seria um erro duplo, pois, no caso presente, a melhor tradução seria "intragável"!
ResponderEliminar