07 abril 2010

OS SÍMBOLOS DA PROPAGANDA

Esta é uma pequena história sobre propaganda. Melhor, sobre as condições e os perfis adequados para que as pessoas se possam tornar nos símbolos heróicos dessa propaganda. Passa-se durante a Segunda Guerra Mundial, no Outono de 1941, depois da invasão alemã à União Soviética, em Minsk, capital da Bielorrúsia, que fora tomada pelos invasores logo a 9 de Julho, apenas 17 dias depois do início da invasão.
Mesmo assim, houve quem procurasse montar uma rede clandestina que facilitasse a evasão dos prisioneiros soviéticos feridos que tivessem sido hospitalizados em Minsk. Em finais de Outubro, essa rede foi descoberta, e três dos seus membros (na fotografia acima) – entre os quais uma voluntária de enfermagem de 17 anos, Masha Bruskina – foram passeados pelas ruas de Minsk e condenados sumariamente à morte.
Por essa altura, já as tropas combatentes haviam avançado e a ocupação de Minsk fora entregue à 707ª Divisão de Infantaria sob o comando do General-Barão Gustav von Bechtolsheim. Foi um lituano de uma unidade auxiliar dessa divisão que tirou estas três fotografias com os pormenores da execução. No cartaz pode ler-se escrito em alemão e russo Somos guerrilheiros e disparámos contra tropas alemãs, o que era mentira.
Os outros enforcados, Volodia Shcherbatsevich (o jovem de 16 anos) e Kiril Trus foram logo identificados depois do fim da Guerra, mas Masha Bruskina só veio a ser identificada em 1968 porque, sendo judia, quem a conhecia melhor acabara também por morrer... Essa descoberta veio colocar um problema grave à martiriologia soviética porque destronava em antiguidade os feitos de Zoya Kosmodemyanskaya (abaixo).
Zoya Kosmodemyanskaya, que também tinha 18 anos quando morreu, tornou-se a heroína que simbolizava a resistência da mulher soviética durante a Grande Guerra Patriótica (abaixo). Mas, pelos seus feitos heróicos, só veio a ser executada pelos alemães nos finais de Novembro de 1941, um mês depois de Masha Bruskina… Só que, em vez de perturbar a hagiografia oficial, as autoridades soviéticas preferiram esquecer Masha…
Porém, a causa de Masha Bruskina manteve-se viva, e não por uma questão de justiça mas por uma questão de interesse, o dos israelitas, que estavam interessados em chamar a atenção mundial para a situação dos judeus na União Soviética a quem as autoridades recusavam o direito de emigrar – os chamados refuseniks. A falta de reconhecimento dado ao sacrifício de Masha tornou-se um símbolo da discriminação sofrida pelos judeus soviéticos…

2 comentários:

  1. A propaganda, o controlo da informação, a criação de mitos, ferramentas para construir a história e gravar na memória colectiva os acontecimentos e as figuras convenientes. Não conhecia nenhuma das duas, mas aposto que a Zoya deve ter merecido destaque na "Mulher Soviética", para exaltar o valor da resistentes soviéticas. Parece é que, mesmo só com uma leitura transversal da wiki, afinal a heroína tinha pés de barro... Mas isso não interessa(va) nada desde ajude(asse) a vender a ideia pretendida.

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  2. Uma "boa guerra defensiva" com uma "causa justa", como acontecia naquele caso, agradece a criação de uma heroína feminina com aquele perfil, talvez numa sublimação do lar invadido.

    Só para citar as que agora me ocorrem, na mesma situação, os franceses desencantaram Jeanne d´Arc contra os ingleses, os portugueses a padeira de Aljubarrota contra os castelhanos.

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