Foi António Guterres quem popularizou em Portugal a expressão «jobs for the boys». E no entanto, uma rápida pesquisa na internet esclarece-nos o quanto a expressão é antiga, datará do princípio do século XX, já com o sentido malicioso que empregamos actualmente. Há porém, uma nuance. O idioma internacional de comunicação nos primórdios do século passado era o francês e a importância internacional da França era toda uma outra. Na edição de 14 de Julho de 1922, por coincidência o dia nacional daquele país, o aniversário da tomada da Bastilha, esta pequena notícia do Diário de Lisboa dá uma ideia do quanto era cobiçada a colocação na representação diplomática portuguesa na cidade-luz. (Mais de 80 anos depois, uma qualquer colocação naquela cidade continuaria cobiçada...) O titular, o sr. João Chagas, ainda teria para mais uns sete meses, mas o jornal já dava conta de sete(!) candidatos a substituí-lo. Entre os quais se contavam um antigo presidente da República (Bernardino Machado) e um antigo primeiro-ministro (Afonso Costa). Entretanto, numa outra notícia dessa mesma edição, esse mesmo sr. João Chagas parecia passar um recado explícito ao governo de então, de que o cargo de «administrador dos Caminhos de Ferro Portugueses» não estaria à altura das suas expectativas. Em suma, há cem anos, se os jobs ainda não eram para os boys, é só por uma questão de idioma que se pode corrigir a expressão esclarecendo que seriam para os... copains. Para aqueles que gostam de saber como é que estas coisas acabam, afinal João Chagas continuou em Paris como ministro plenipotenciário da legação até ao final do ano de 1923. Foi substituído por Ferreira da Fonseca que, como um poema de Drummond de Andrade, nem entrara originalmente nesta história.
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