30 de Julho de 1997. Tornam-se públicas as imagens de um julgamento a que fora submetido Pol Pot em que o réu, como sentença, fora condenado a «prisão perpétua». Para o mundo da informação tratava-se de um grande feito, já que o antigo ditador cambojano, responsável maior de um regime (1975-79) conhecido por ter executado milhões de compatriotas, andara desaparecido durante 18 anos. Mas para quase todos os outros mundos, era uma frustração daquilo que era a capacidade abstracta da Justiça. Afinal, Pol Pot só fora julgado porque perdera um conflito interno pelo poder dentro da organização que dirigira ferreamente até aí. Os juízes eram os seus antigos companheiros que se haviam concertado para o derrubar, receando pela própria vida. As imagens do julgamento tornavam-no numa paródia. Mostravam um sala de reuniões aberta: lá dentro as pessoas estavam segregadas por sexo e levantavam os punhos, aplaudiam e cantavam em uníssono slogans como «Longa vida à estratégia nacional!» ou «Esmague-se, esmague-se, esmague-se Pol Pot e a sua camarilha!» As testemunhas(?) aparecem a uma mesa, equipada com um microfone onde denunciam o réu pelos seus crimes. Toda esta representação só se vem a tornar conhecida há precisamente 25 anos porque os juízes se encarregaram de contratar dois jornalistas ocidentais (Nate Thayer e David McKaige como operador de câmara) para, num exclusivo mundial, dar ressonância aquela encenação. Este é um daqueles momentos simbólicos, em que se procede a uma paródia de julgamento de um dos maiores criminosos da história recente, e onde os promotores desse julgamento trataram o mundo da informação como um cão amestrado, com o qual se brinca com um pau. O mundo da informação abocanhou o pau e lá o trouxe, obedientemente. O assunto ainda hoje é discutido academicamente. Mas não se espere ver essa discussão activamente transposta para os próprios meios de informação. O Circo da Informação tem uma lógica que os próprios artistas não se atrevem a questionar. Quanto a Pol Pot, esse morreu no ano seguinte, é difícil considerá-lo outra coisa que não ainda impune.
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