Ao desencantar esta última manobra política de última hora, de se demitir do cargo político, mas procurando preservar o governamental, Boris Johnson dá sugestões de um preocupante desequilíbrio mental, a fazer-nos lembrar algumas personagens perturbadas dos filmes de Stanley Kubrick (Alex, Leonard "Gomer Pyle", Jack Torrance). Observado fleumaticamente, tudo aquilo que está a acontecer politicamente em Londres só se reveste daquela embaraçosa amplitude porque Boris Johnson aparece convencido de que pessoalmente goza de um tal estatuto de impunidade, que a ele não se aplicam as regras tradicionais da política britânica, mesmo num país tão tradicionalista como o Reino Unido. Num país em que a tradição parlamentar estabelece que a rejeição de uma proposta governamental nos Comuns compromete automaticamente a sobrevivência do executivo e do seu chefe, Boris Johnson aparece-nos a brincar com a ideia de poder permanecer por mais três meses no nº10 de Downing Street, sem qualquer perspectiva de receber apoio parlamentar! É delirante, só equivalente a Donald Trump e à sua recusa em aceitar os resultados eleitorais de uma eleição, apenas porque a perdeu (e assim não vale!...). Para mim é inexplicável esta tendência mediática moderna de tentar dar uma aparência de normalidade política a comportamentos que só se explicam pelo que não pode deixar de ser um desequilíbrio mental. Noutras circunstâncias é penoso; nestas, para além disso, pode ser perigoso...
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