21 julho 2022

UMA NOVIDADE... QUE JÁ ERA NOVIDADE HÁ QUARENTA ANOS

19 de Julho de 2022 (direita) e 21 de Julho de 1982 (esquerda). Uma das notícias chama-lhe «bio-gás», a outra «gás renovável» ou «bio-metano», mas, aparentemente, e por detrás das denominações diferentes, estas duas notícias, apesar de apartadas por quarenta anos, estarão a referir-se à mesma fonte de energia e ao mesmo processo de a produzir. O que torna ridículo o ênfase dado pela notícia mais recente ao aspecto "pioneiro" da proeza. É publicidade disfarçada de notícia, e uma carimbadela de incompetência na testa do jornalismo do Jornal de Notícias. Ele haverá algum jornalista que perceba alguma coisa de alguma coisa sobre a qual tenha de escrever? (Ter opiniões sobre política não conta...)

2 comentários:

  1. Caro A Teixeira:
    Nao discordando com o ponto de fundo do post, e duvidando que os jornalistas neste caso se apercebem das subtilezas tecnicas deste tema, neste caso especifico a novidade noticiada e mesmo novidade. Explico-me:
    O chamado Biogas, consiste na producao de gas metano atraves de um processo biologico de digestao anaerobia de materia organica.
    O produto de maior valor que se recolhe do processo biologico e o metano, mas processos mediados por organismos vivos nao se processam assim tao simplesmente... A digestao anaerobia, falando genericamente produz uma fraccao liquida/solida dependendo se o processo e um de digestao anaerobia "seca" ou "humida" que pode ser usada como fertilizante e uma fraccao gasosa consistindo tipicamente entre 50 a 80% de gas metano – CH4 - (o rendimento depende do substrato organico usado e do tipo de digestao usada); e uma fraccao de gases indesejados onde o dioxido de carbono - CO2 – tem a parte de leao com 20 a 40% seguido de vapor de agua e alguns o dioxide de enxofre -SO2- que tem de ser controlado.
    A fraccao gasosa com estas caracteristicas nao e de todo apropriada para uso nas redes domesticas de gas para aquecimento - onde o gas metano circula em concentracoes de 95% para cima – tao puro que, sendo um gas inflamavel e inodoro, como medida de seguranca, adiciona-se um gas que lhe da aquele “cheiro a gas” characteristico – o gas metano nao cheira assim naturalmente…
    Esquentadores, fogoes, caldeiras ou mesmo motores de veiculos nao toleram CO2, H20 ou SO2. O biogas tem de ser purificado quimicamente num passo posterior para poder ter esses usos especificos.
    Sem um processo de purificacao, o seu uso restringe-se ao uso em geradores electricos para producao de electricidade para a rede e venetualmente recuperacao de algum calor para outros usos locais – geradores com camaras de combustao particularmente resistentes aos gases contaminantes.
    O uso na rede domestica e particularmente oneroso porque exige processos de purificacao mais complexos.
    Assim sendo e esta a novidade da noticia de 2022, pela primeira vez, devido ao muitissimo alto preco do gas metano de origem em pocos de hidrocarbonetos (onde ja agora, o gas metano e produzido pelo mesmo processo de digestao anaerobica e posteriormente depurado e concentrado em bolsas subterraneas por processos naturais que demoram eras geologicas), e agora “quase” economicamente viavel – porque de certeza este esquema tem subsidio publico – purificar biogas para uso em rede domestica.

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  2. Caro Lowlander:

    Começo por lhe agradecer os esclarecimentos, que são precisamente o que falta ao artigo do Jornal de Notícias.

    Agora, reconheça-me o cuidado da redacção que escolhi para o meu comentário: «estas duas notícias (...) estarão a referir-se à mesma fonte de energia e ao mesmo processo de a produzir.»

    Depois dessa produção, o de 1982 era "transformado em energia térmica e electricidade» enquanto o de 2022 vai alimentar a rede e «a população do Cachão». E, como nos explica acima, é essa, e só essa, a novidade: o tratamento do gás.

    Ora a notícia mistura a produção e o tratamento: «...projecto pioneiro (...) que permite a produção de gás 100% renovável a partir da digestão anaeróbia de resíduos orgânicos que são depositados naquele aterro sanitário.»

    Nitidamente, o jornalista não percebe nada sobre o tópico.

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