7 de Julho de 1982. Uma das notícias desse dia foi uma agressão pela polícia soviética de que havia sido vítima o jornalista Carlos Fino em Moscovo. O assunto tinha alguma repercussão, dado que Carlos Fino era uma cara familiar à maioria dos portugueses, já que ele desempenhava as funções de correspondente da RTP naquela cidade, de onde enviava trabalhos com alguma regularidade a respeito da actualidade soviética (acima). Carlos Fino instalara-se originalmente em Moscovo através das conexões com o Partido Comunista Português de que era/fora militante. Era também correspondente em Moscovo de outros órgãos de comunicação social portugueses. E o episódio por que passara fora particularmente violento: fora inicialmente detido, agredido, transportado para um centro de detenção e novamente agredido, mesmo depois de invocar a sua condição de jornalista estrangeiro acreditado junto das autoridades soviéticas que o haviam detido. Se o episódio é sério, já o é muito menos os esforços que vemos desenvolvidos pela comunicação social pró-comunista portuguesa para minorar a gravidade do incidente. Uma hipocrisia que é agravada pelo facto de, na circunstância, os factos se apresentaram ao contrário da narrativa dominante entre os comunistas. O Diário de Lisboa do dia seguinte faz esta habilidade (abaixo) de fazer preceder a notícia da agressão a Carlos Fino por uma outra, de uma iniciativa de uma organização de jornalistas considerada uma «extensão de Moscovo» (OIJ - Organização Internacional de Jornalistas) que enviara um telegrama ao primeiro-ministro português de «profunda inquietação» por «cinco jornalistas da Televisão portuguesa» serem «alvos de acusações injustificadas pela sua actividade profissional e» estarem «ameaçados de despedimento». Notoriamente, essa «inquietação» pelo processo administrativo aos «cinco jornalistas da Televisão portuguesa» recebera prioridade de tratamento informativo sobre o enxerto de porrada que o KGB pregara a outro jornalista dessa mesma Televisão portuguesa. Eloquente, do ponto de vista da desinformação. Mas até mesmo a própria notícia que dá conta daquilo que acontecera a Carlos Fino vale a pena ser parcialmente reproduzida para ser intercalada com alguns comentários pertinentes dando realce a esse continuado esforço de desinformar.
A agressão de que foi vítima em Moscovo o jornalista português Carlos Fino, conforme noticiámos na nossa edição de ontem (mentira: não haviam noticiado...), continua a suscitar reacções e protestos, provenientes das mais diversas origens. Depois do sindicato dos jornalistas, que lamentou a agressão e fez votos para que o jornalista se restabeleça rapidamente, embora aguarde pormenores de ambas as partes acerca do sucedido para tomar posição (é preciso ser equidistante: se calhar, ainda se poderia vir a descobrir que Carlos Fino merecera levar porrada...) (...) Carlos Fino seguiu ontem à tarde para Helsínquia, onde provavelmente terá que ser operado ao testículo direito, seriamente lesionado em resultado de duas joelhados nos órgãos genitais aplicadas por um funcionário da policia soviética (qual das polícias? A milícia? O KGB? Não havia ainda qualquer nota oficial emitida pelas autoridades soviéticas? E porque não?).A intervenção cirúrgica tornou-se quase inevitável, em virtude de um agravamento do estado de saúde do jornalista nas últimas horas. (ora cá está um detalhe que iria atrasar "sobremaneira" aqueles primeiros votos de rápido restabelecimento formulados pelos seus camaradas do sindicato...)
Carlos Fino viria a estar internado mais de duas semanas num hospital de Helsínquia, manifestando, no caso, ele que até fora para a União Soviética por ser comunista, uma preferência muito pouco ortodoxa pela medicina praticada nos países capitalistas (ou seja, depreende-se que, para Carlos Fino, Marx e Engels seriam pessoas muito respeitáveis, mas os seus tomates não tinham nada a ver com ideologia, eram um assunto para ser levado verdadeiramente a sério...).
Carlos Fino viria a estar internado mais de duas semanas num hospital de Helsínquia, manifestando, no caso, ele que até fora para a União Soviética por ser comunista, uma preferência muito pouco ortodoxa pela medicina praticada nos países capitalistas (ou seja, depreende-se que, para Carlos Fino, Marx e Engels seriam pessoas muito respeitáveis, mas os seus tomates não tinham nada a ver com ideologia, eram um assunto para ser levado verdadeiramente a sério...).
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