28 julho 2022

O «EXÉRCITO DO BÓNUS»

28 de Julho de 1932. Quando da sua desmobilização, os veteranos norte-americanos da Primeira Guerra Mundial haviam recebido como bónus uns títulos do tesouro, títulos esses que não podiam ser resgatados até 1945. O problema é que os Estados Unidos haviam entrado na Grande Depressão a partir do Outono de 1929 e, quando mais os seus efeitos se faziam sentir, mais crescia o movimento entre aqueles veteranos de guerra a quem a vida estava a correr mal, para que fosse possível, àqueles que o desejassem, resgatar esses títulos imediatamente, quando o capital lhes estavam a fazer mais falta. No Verão de 1932, quando (sabe-se agora) as consequências da Depressão mais se estavam a sentir, organizou-se uma grande manifestação em Washington d.C. (17.000 veteranos, acompanhados pelas famílias), pressionando pelo resgate dos títulos. Acampados pelos parques da capital dos Estados Unidos, junto à Casa Branca e ao Capitólio, os cerca de 43.000 manifestante receberam da imprensa o epíteto de o «exército do bónus» (bonus army). E é sobre este dito «exército» que, há 90 anos, as autoridades policiais atacam nos seus acampamentos, reforçadas com efectivos militares (incluindo tropas de cavalaria e mesmo 5 tanques). Militarmente, a operação foi um sucesso, os manifestantes foram corridos de Washington. Politicamente foi um fiasco embaraçoso, a simpatia da opinião pública foi toda para as imagens de uns pobres diabos que reclamavam receber aquilo que lhes fora prometido, só que quando lhes fazia realmente falta! Quanto ao envolvimento do exército - comandado à época pelo controverso general Douglas MacArthur - o desprezo público que o gesto suscitou perdura até hoje como uma das lições emblemáticas do que é que aquela instituição não deve fazer quando solicitada a intervir em assuntos de política doméstica - como Donald Trump descobriu recentemente à sua própria custa: os militares têm fama de uma obediência cega, mas ele há assuntos específicos em que se insubordinam.   

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