28 julho 2022

O PEDRO NUNO SANTOS DE HÁ CEM ANOS

Tirando os estudiosos do período, poucos portugueses saberão hoje quem foi Alfredo Rodrigues Gaspar. Há cem anos era o ministro das Colónias, uma pasta em que o próprio se julgaria assaz competente, já que era a quarta vez que a ocupava. E era essa segurança acompanhada de uma indiscutível diligência, que o tornava personagem central de um assunto que transbordara para os jornais de 28 de Julho de 1922. Tudo começara com a publicação de uma notícia no dia anterior (canto superior direito), tornando pública as suas ordens para que fossem revistos todos os diplomas dimanados dos altos comissários das duas maiores colónias africanas: Moçambique e Angola. Qualquer daqueles dois altos comissários que haviam sido humilhados, Brito Camacho em Moçambique e Norton de Matos em Angola, eram tidos por pesos pesados da política nacional de quem seria de esperar uma reacção. Porém, mais do que um recuo em função das pressões que terá decerto recebido (a maçonaria protege os seus...), no dia seguinte (aqui a fazer-nos lembrar Pedro Nuno Santos no seu dia seguinte...), o ministro Rodrigues Gaspar volta à carga - artigo acima: Os actos dos altos comissários - produzindo um esclarecimento que é pior do que o original: não só disciplina os altos comissários como faz isso há mais tempo! Mais do que isso, nessa mesma edição de 28 de Julho de 1922 e numa outra notícia o ministro faz uma exibição adicional da força de Lisboa sobre as autonomias administrativas das colónias da Guiné, de São Tomé e da Índia Portuguesa. Sobre a evolução deste braço-de-ferro parece-nos esclarecedor que Rodrigues Gaspar tenha continuado a ocupar a pasta das Colónias até Novembro de 1923, durante os três governos consecutivos de António Maria da Silva. Pelos padrões da época, tratava-se de uma eternidade. Quando abandonou o cargo, também os dois altos comissários já haviam abandonado os seus. Rodrigues Gaspar veio a chefiar um governo entre Julho e Novembro de 1924. Claro que a sua passagem pelo cargo não alterou o padrão errático da política da República e, reconhecendo-lhe a coragem política (aqui demonstrada), vale a pena recordar que só há homens providenciais quando as circunstâncias também são providenciais. (os mais crédulos que esqueçam o almirante das vacinas...)

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