20 fevereiro 2023

O PRINCÍPIO JORNALÍSTICO DO, QUANDO NÃO SE SABE NADA DO ASSUNTO MAS ELE EXCITA A CURIOSIDADE DOS LEITORES, INVENTA-SE UM BOCADINHO...

20 de Fevereiro de 1953. Com a Guerra Fria em gelo ardente, tudo o que acontecia - ou aconteceria - por detrás das muralhas do Kremlin, naquele universo misterioso-sinistro onde se acoitava Staline, era tópico que excitava a curiosidade dos leitores do lado de cá. Há precisamente 70 anos o Diário de Lisboa fiava-se nas qualificações do Daily Telegraph londrino, para destacar na sua primeira página a perspectiva de uma próxima retirada de Vyacheslav Molotov, o ministro dos Negócios Estrangeiros soviético, um dos homens do restrito círculo íntimo do ditador georgiano. A explicação parecia convincente: a fragilidade da saúde de Molotov (a caminho de completar 63 anos) que «nunca fo(ra) muito saudável», lembrara o jornal inglês. Este é um daqueles artigos de emoldurar e pendurar na parede porque tudo o que lá consta veio a ser desmentido. A curto prazo veio a ser desmentido porque Molotov não se retirou, antes pelo contrário: Staline morreu dali a duas semanas (a 5 de Março) e o fragilizado Molotov foi um dos mais proeminentes candidatos à sua sucessão, só tendo sido afastado dos círculos do poder em 1957, depois de ter perdido essa luta. Mas também é um artigo que veio a ser desmentido a longo prazo quanto à questão da fragilidade da saúde de Molotov, que veio a morrer apenas dali por mais de 33 anos, com 96 anos de idade!

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