O nepotismo é muito mais praticado do que pronunciado em Portugal. Não se usa muito a palavra: favorecimento excessivo dado a sobrinhos ou outros parentes próximos em detrimento de outras pessoas mais qualificadas, especialmente no que diz respeito à nomeação para cargos. Mas quase todos conhecem o conceito, nem que seja porque já se deparam com casos flagrantes. A 21 de Fevereiro de 1978, aparecia esta notícia no Diário de Lisboa, no quadro das especulações sobre quem participaria do II Governo Constitucional. E a notícia, como se pode ler acima, era que o sobrinho (Alfredo Barroso) do tio (Mário Soares) não iria, afinal, ocupar a secretaria de Estado da Administração Regional e Local. A notícia era que o rumor que circulara não era verdade. Mas o mais engraçado era a explicação dada ao jornal pelo sobrinho do tio (que, por sinal, era o primeiro-ministro do governo). Ele tinha sido convidado mas, «dadas as implicações que a sua saída poderia levantar ao nível dos serviços do gabinete do primeiro-ministro, não fo(ra) considerada oportuna a sua inclusão no elenco do II Governo Constitucional». Ou seja, por ele, o Alfredinho até nem se importava de ter aceite o cargo, o tio é que ia sentir muito a sua falta... Claro que mentes mais retorcidas, menos ingénuas e com a clarividência dos 45 anos entretanto passados, podem não se convencer com esta versão dos acontecimentos. Se calhar não fora o tio e a falta que ele lhe fazia, bem podia ter sido o próprio Alfredo a esquivar-se. É que, nestes 45 anos que decorreram de lá até hoje, Alfredo Barroso nunca conseguiu ser grande coisa, a não ser quando esteve debaixo das asas protectoras do tio.
Uma nota final, em paralelo ao tema principal. A secretaria de Estado que Alfredo Barroso declinou veio a ser ocupada por Miranda Calha em 27 de Fevereiro seguinte. Esse mesmo dia é também o da tomada de posse do novo ministro da Administração Interna do II Governo, Jaime Gama. O ministério da Administração Interna era o que tutelava a secretaria de Estado em causa, e o primeiro titular do cargo, Alberto Oliveira e Silva, havia-se demitido menos de um mês depois de ter tomado posse. Mas este ambiente político de há 45 anos não tem nada a ver com o actual. Estas broncas eram abafadas e é por isso que há quem tenha imagens ideais do passado, que não correspondem de todo ao que aconteceu.
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