6 de Junho de 1960. Em Lisboa, embarcam no navio Uíge as primeiras três companhias de «caçadores especiais» que irão prestar uma comissão de serviço em Angola. Serão as primeiras de muitas centenas de unidades militares com uma orgânica semelhante (acima, quadro síntese da composição de uma dessas unidades, extraído de Guerra Colonial de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes) nos quinze anos de guerra que se seguiriam, até à concessão da independência a Angola em Novembro de 1975. Centenas de milhares de portugueses guarnecê-las-ão. Presentes à cerimónia de embarque de há sessenta anos está a nata do exército: o ministro (coronel Almeida Fernandes) e o subsecretário de Estado da pasta (tenente-coronel Costa Gomes), o chefe de estado-maior das Forças Armadas (general Beleza Ferraz), o chefe do estado-maior do Exército (general Câmara Pina) e todo um elenco de entidades que a presença das enumeradas arrastava atrás de si. A cerimónia revestiu-se de uma pompa que a banalização dos embarques veio a tornar supérflua. Refira-se o inusitado gesto do Diário de Lisboa de destacar na notícia a identidade dos capitães comandantes das companhias: num escrupuloso respeito militar pela antiguidade, os capitães Teles Grilo, Ceia (sic) Ramos e Alves (sic) Carneiro. Como se percebe pelas notas (sic), o escrupuloso respeito pela antiguidade não terá sido acompanhado de igual respeito pelo rigor das identidades dos nomeados, e comprovando que estas gaffes jornalísticas são intemporais e têm consequências, por causa dos descuidos com os apelidos é impossível identificar naquele último capitão Alves Carneiro o futuro general Soares Carneiro, candidato presidencial derrotado em 1980 e também futuro chefe do estado-maior das Forças Armadas (1989-94).
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