20 junho 2020

QUANDO A FRANÇA PROCURAVA RECUPERAR NOS DESCONTOS AQUILO QUE NÃO FIZERA DURANTE O TEMPO REGULAMENTAR DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

20 de Junho de 1945. A Segunda Guerra Mundial aproximava-se do fim. Terminara na Europa e as notícias que chegavam do outro lado do Mundo, no que diz respeito à derrota do Japão, faziam do assunto uma questão de meses, mas com o desfecho perfeitamente decidido. Nessa circunstância, as duas grandes potências anglo-saxónicas, Estados Unidos e Grã-Bretanha, começavam a encarar a questão da desmobilização dos seus soldados. O Diário de Lisboa desse dia publicava uma notícia na sua primeira pagina em que dava conta de que a França iria proceder precisamente ao contrário: «A França vai convocar mais quatro classes militares». Na mesma página invocavam-se aqueles mesmos dias de Junho, mas de 1940, cinco anos antes, em que a França fora militarmente derrotada. Depois disso, a sua participação no conflito recém terminado fora pouco mais do que marginal. E era essa marginalização que obrigava agora a França a sublimar-se numa altura em que os seus aliados mostravam cansaço. A notícia de primeira página prosseguia para as páginas centrais: «A França prepara com entusiasmo as novas forças do seu exército». E era uma notícia da última página que esclarecia o leitor mais distraído porque é que a França precisava de mobilizar: para recuperar o seu império colonial - «Os franceses vão cooperar na invasão da Indochina». A Indochina pertencia-lhes mas eram os outros (americanos, britânicos, chineses) a invadi-las; eles apenas cooperavam. O que os devia mortificar. Num daqueles rasgos de petulância de que os franceses têm o segredo, um subtítulo deste último artigo anunciava: «De Gaulle chamou a Paris o comandante das forças da Indochina». O general Gabriel Sabattier, a quem fora conferido esse pomposo título, era o comandante de um contingente estimado em dois a cinco mil homens que, fugindo, se haviam conseguido refugiar na China depois do golpe perpetrado pelos ocupantes japoneses em 9 de Março de 1945, quando desarmaram todo o resto do exército francês estacionado na Indochina. «As forças» francesas «da Indochina» notabilizavam-se por não ter força nenhuma. E daí a necessidade de tanta mobilização. Os franceses não vão chegar a tempo de aceitar a rendição japonesa (mas isso ainda não se sabia quando estas notícias foram publicadas). E o que se vai seguir é toda uma outra história.

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