Uma das virtudes das novas tecnologias, nomeadamente das redes sociais, é a de podermos aceder à satisfação alheia, quando ela é confessada e mesmo exibida, para que a usufruamos por interposta pessoa. É uma felicidade que se consegue desfrutar por intermédio de outrem, mas que nos deixa felizes, mesmo assim. Apreciemos abaixo, à esquerda, numa página de facebook recente, um fumador de charutos clássicos, também leitor e certamente pessoa curiosa do que acontecia nos meandros da diplomacia francesa de há 70 anos, que, compartilhando connosco toda a sua felicidade, assinalando em desfrute (antecipado?) a coincidência de que a marca do charuto que escolheu tem o mesmo nome do livro que lê, Quay d'Orsay, recuperado este último (livro) porventura de um bouquiniste daqueles tradicionais das margens do Sena. Quay d'Orsay como metonímia da diplomacia francesa, titulo elegante e portentoso, em qualquer dos casos, do charuto e do livro. «E são ambos bem bons!» - remata o autor em desabafo, acariciando a intenção de excitar as invejas de quem o leia no facebook.
Outra das virtudes das novas tecnologias é a de nos dar um poder de escrutínio como nunca tivemos. Aquilo que é dito nas redes sociais pode agora ser corroborado em minutos, mercê de poderosos instrumentos de busca, que nos confirmam (ou desmentem) o que aparece escrito. Usando-os, vim a descobrir que, a marca do charuto que tanto prazer parece dar ao protagonista do parágrafo inicial, «parece estar gradualmente perdendo terreno»; aliás, «no geral, a marca estava fadada ao fracasso», se se acreditar no que se publica numa página dedicada à história por detrás da marca Quay d'Orsay. Quem poderá corroborar? Eu não, que já deixei de fumar há dezassete anos. Em contrapartida, continuo a ler. Mas sobre Quay d'Orsay o livro, aquilo que encontrei foi uma recensão na página da revista Foreign Affairs. Com a data de 1957, o comentário é curto mas concludente: «uma grande dose de recepções e de fofocas diplomáticas, mas não uma contribuição particularmente substancial». O melhor destes episódios de exibicionismo fátuo é o poder apreciar a satisfação das pessoas consigo próprias.
Eheheh ... quando a superficialidade obtem substância.
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