16 dezembro 2022

O MASSACRE DE WIRIAMU

16 de Dezembro de 1972. Ocorre em Moçambique, província de Tete, o massacre de Wiriamu. Uma companhia de Comandos do exército português assaltou a povoação de Wiriamu. Tinha como missão capturar um comandante (Raimundo Delepa) da Frelimo que ali se encontraria escondido e de neutralizar o destacamento armado que o acompanhasse. A informação veio a revelar-se errada, mas os assaltantes atacaram a povoação como se os habitantes fossem o inimigo, massacrando-os. Como acontece muito frequentemente nestes casos, é impossível precisar um número aproximado de vítimas, variando desde os 150 mortos contados pela Cruz Vermelha, até aos 385 que constam da wikipedia em português. De qualquer modo, por muito que o número de vítimas impressione (e impressiona!), o que acaba por se tornar importante nestas narrativas, são os esforços para denunciar aquilo que aconteceu e os esforços contrários para o esconder e evitar sancionar os culpados. No caso, os culpados são os membros da 6ª companhia de Comandos que esteve envolvida no massacre, que até era «constituída quase totalmente por pessoal de recrutamento de Moçambique», como se pode ler na ficha abaixo. Abafado em Portugal, a notícia do massacre acabou por ser divulgada no Reino Unido através do jornal The Times, mas sete meses depois, em Julho de 1973 (...uma oportuna semana antes da visita que Marcello Caetano iria realizar a Londres...). Mais recentemente, o primeiro-ministro português António Costa, de visita a Moçambique, pediu desculpa pelo massacre. Mas gostaria de terminar o texto com dois comentários às imagens que escolhi para ilustrar o assunto. Acima, uma fotografia feita poucos anos depois do massacre, ainda antes de ele se tornar solene, mostra uma faixa assinalando a aldeia e o local onde ocorreu: em que a data está errada, o que nada abona em favor da seriedade como o episódio foi assumido inicialmente pelas autoridades da Frelimo no novo Moçambique independente. Também em registo negligente, mas de sentido contrário, abaixo publica-se uma página relatando a «actividade operacional» da 6ª companhia de Comandos de Moçambique, a unidade que esteve envolvida no massacre. A entrada que relata a «operação Marosca» tem uma nota: «destruído aldeamento de Wiriyamu em 16 de Dezembro de 1972; na sequência da operação "Marosca", que causou vários mortos civis». Ora 150 mortos (pelo menos) parece-me muito mais do que vários, trata-se do cúmulo do eufemismo!...

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