03 dezembro 2022

«SETENAVE EM LUTA»: CONTRA QUEM E CONTRA O QUÊ?...

3 de Dezembro de 1982. A Setenave fora um enorme estaleiro de construção naval, concebido em 1971 com a Lisnave e a CUF como accionistas principais para Setúbal. As instalações, contudo, só vieram a ser inauguradas em 6 de Agosto de 1974, depois do 25 de Abril e quando o sector da construção e reparação naval atravessava uma crise mundial. Não que isso parecesse incomodar os milhares que lá trabalhavam. Os trabalhadores adquiriram uma reputação nacional, não por causa do que faziam, mas pela militância. Se nos estaleiros da Lisnave se dizia mata, nos da Setenave dizia-se esfola. Depois do 11 de Março de 1975 uns e outros foram nacionalizados. Mais de oito passados depois da inauguração, já a soberba dos tempos revolucionários de 1975 não passaria de uma memória, a situação apresentava-se como acima o Diário de Lisboa a descreve: não há clientes, não há trabalho e não há ordenados. O subtítulo do jornal demonstrava contudo que os dirigentes sindicais nada haviam aprendido com a degradação progressiva da empresa: a Setenave estava «em luta» mas contra quem e contra o quê, já que o destino da empresa e dos seus 6.100 trabalhadores se afigurava inexorável?... Esta apropriação da actividade sindical de grandes massas de trabalhadores por parte dos comunistas destruiu as empresas em que se alicerçava. Esta gramática da palavra luta hoje só aparece nos cabeçalhos, quando a entidade patronal é o Estado (ou seja, Arménio Carlos, Isabel Camarinha, Mário Nigueira, travam grandes lutas contra o interesse público). Por outro lado e quando, muitos anos mais tarde, se fundou a Auto Europa (com os seus mais de 5.000 trabalhadores) nesta mesma península de Setúbal que conhecera a Setenave e a Lisnave, as negociações e a defesa dos interesses dos trabalhadores tiveram de ser relançada em bases completamente novas.

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