31 de Dezembro de 1972. Um grupo de católicos progressistas reúne-se na Capela do Rato para realizar uma acção que decidiram baptizar de Vigília pela Paz. Em Setembro de 2009, por ocasião da campanha eleitoral para as legislativas, e num debate frente a frente entre Francisco Louçã pelo Bloco de Esquerda (um dos participantes na referida vigília) e José Sócrates pelo Partido Socialista, Francisco Louçã teve oportunidade de pregar uma mentira grande, gorda, grosseira, a respeito da sua relação com a religião. O que foi motivo para publicar o poste abaixo, comprovando o óbvio: que Louçã é, sempre foi, intelectualmente desonesto, o que não é despropositado recordar a pretexto deste episódio de que se cumprem hoje 50 anos.
«Se a memória não me tiver enganado no rigor das palavras, ontem (8 de Setembro de 2009) ouvi Francisco Louçã dizer no frente-a-frente com Sócrates que fora socialista laico e republicano toda a vida… Ora então vejamo-lo a exibir todo o seu laicismo republicano no canto superior esquerdo da fotografia acima, que foi tirada à porta da Capela do Rato, integrado num grupo de pessoas que na altura se designavam por católicos progressistas, grupo esse que se notabilizou por se ter instalado na dita Capela na passagem do ano de 1972 para 1973 para ali realizarem uma acção que decidiram baptizar de Vigília pela Paz.
Como os vigilantes costumam passar as vigílias a orar, já de há muito que tinha a curiosidade de perguntar ao Louçã de hoje, houvesse oportunidade, quais as orações que ele teria rezado durante tal vigília… O Padre-Nosso? O Ave-Maria? O Salve-Rainha? Será que ainda se lembra de alguma?... Claro que, depois desta tirada dele de ontem, a curiosidade ter-se-á tornado mais premente que nunca, embora confesse que a maneira como imagino que ele tenha passado o tempo na vigília na Capela possa ter sido muito mais variada do que pensaria originalmente: estaria a assobiar a Carmagnole? A trautear o Ça Ira? A cantar a Internacional?...
Como os vigilantes costumam passar as vigílias a orar, já de há muito que tinha a curiosidade de perguntar ao Louçã de hoje, houvesse oportunidade, quais as orações que ele teria rezado durante tal vigília… O Padre-Nosso? O Ave-Maria? O Salve-Rainha? Será que ainda se lembra de alguma?... Claro que, depois desta tirada dele de ontem, a curiosidade ter-se-á tornado mais premente que nunca, embora confesse que a maneira como imagino que ele tenha passado o tempo na vigília na Capela possa ter sido muito mais variada do que pensaria originalmente: estaria a assobiar a Carmagnole? A trautear o Ça Ira? A cantar a Internacional?...
O pudor não é republicano nem laico, é só pudor, mas convém que Francisco Louçã demonstre que o tem, pode não ser desde sempre, apenas durante estes dias que correm…»
Boua, pá! Gostei! É assim mesmo. Bai-te a eles que eu num sei!
ResponderEliminarna "mouche"...boa "malha"
ResponderEliminarApreciei muito a invocação desse acontecimento tão importante e corajoso da resistência contra o fascismo que foi a Reunião da Capela do Rato.
ResponderEliminarADENDA
Quanto a José Sócrates, que no citado debate disse mais do que uma vez e com firmeza que nunca tinha pertencido a nenhuma outra família política, consta da sua biografia que «A carreira política de Sócrates iniciou-se logo após a Revolução dos Cravos, como membro da JSD da Covilhã».
Eu considero-me Laico, Republicano e Socialista e muitas outras coisas também... No entanto já por várias vezes fui à missa, uma delas foi na Venezuela... Parte da minha visita foi com um grupo de Norte-Americanos o primeiro sítio a que a guia nos levou foi a uma comunidade de um bairro onde sectores católicos ligados á teologia da libertação desenvolviam um fantástico trabalho social em colaboração com o Governo... Não penso que ter estado nessa missa me tenha tornado menos laico...
ResponderEliminarO que dizer então de uma acção contra a guerra colonial!!! Aliás não vejo incompatibilidade entre ser se laico e católico? É um post um bocado forçado e que cai ao lado, já aquele em que o compara a Savoranola tem o seu quê...
Sinceramente, Francisco, eu preferiria não o fazer desta forma tão frontal, mas para quem afirma não ver “incompatibilidade entre ser-se laico e católico” teria sido preferível perceber bem qual é real significado de se ser “laico, republicano e socialista (e muitas outras coisas também…)” antes de “se considerar” isso tudo ao fazer este seu comentário… É que desconfio não ter considerado o alcance daquilo que se considerou…
ResponderEliminarParece-me sempre preferível que se analisem as questões com alguma profundidade e a convivência entre pessoas religiosas (que, como saberá, as há de inúmeras confissões, para além das católicas) e laicas é um assunto muito mais profundo e complexo do que a frequência das cerimónias alheias que usou para exemplo…
Permita-me, para que o Francisco perceba melhor o que quero dizer, recuperar os pontos do comunicado então emitido pelos católicos progressistas a explicar a sua vigília, que retirei de “O Tempo das Cerejas”, blogue do socialista, republicano e laico Vítor Dias, a quem aliás, já havia feito um ligação:
1º- Tomar consciência de que a comunidade CRISTÃ portuguesa não pode celebrar um “dia da paz” desconhecendo, camuflando ou silenciando a guerra em que estamos envolvidos nos territórios de África.
2º- Exprimir a nossa angústia e preocupação de CRISTÃOS frente a um tabu que se criou na sociedade portuguesa, que inibe as pessoas de se pronunciarem livremente sobre a guerra nos territórios de África.
3º- Assumir publicamente, como CRISTÃOS, um compromisso de procura efectiva da Paz frente à guerra de África.
Fazendo parte do grupo, como se parece comprovar pela fotografia, então Louçã foi um dos co-subscritores deste comunicado acima e então, ontem, ao confessar-se “socialista laico e republicano de toda a vida”, Louçã terá mentido… Verdadeiros laicos terão sido outras pessoas (como o próprio Vítor Dias) que, ficando de fora da participação nos rituais, se associaram à iniciativa depois, com um abaixo-assinado de solidariedade.
Creio que, com algum esclarecimento adicional, aquilo que pareceria “forçado e a cair ao lado” deixa de o ser… É o que acontece com o da comparação com o Savonarola… é preciso conhecer a Florença da época e a personalidade de Savonarola.
Em retrospectiva, reconheço que adoptar este protocolo de respostas aos comentários, privilegiando os discordantes acaba por ser injusto para os demais. Que me desculpem a Donagata, o Paulo e o António Marques Pinto. Quero frisar que não considero que a assumpção da laicidade impoluta por parte de Louçã tenha sido a única mentira daquele debate, longe disso.
ResponderEliminarMas terá sido uma das piores, mais directas, que só foi proferida apostando na provável falta da memória da esmagadora maioria da assistência. É que, para comparação António Marques Pinto, até o exemplo que o António apontou da afirmação de Sócrates, esquecendo aparentemente a sua passagem pela JSD, numa resposta que se vê ter sido perfeitamente ensaiada, diga-se de passagem, pode ser argumentável e não estar errada.
Recordo que naqueles tempos pioneiros o então PPD também se reclamava da social-democracia, e que o seu “braço” para a juventude, a JSD, liderada então por Guilherme de Oliveira Martins (quem diria!), se orgulhava de se posicionar à esquerda do partido. Aliás o jornal da JSD de então intitulava-se, salvo erro, “Pelo Socialismo”… Nesse sentido, considerando o PPD e a JSD daquela época como sociais-democratas é defensável que ele possa dizer que sempre se manteve na “mesma família” política.
Agora o Louça já se esqueceu que tinha ido para a Capela rezar?
"A palavra laico é um adjetivo que significa uma atitude crítica e separadora da interferência da religião organizada na vida pública das sociedades contemporâneas. Politicamente podemos dividir os países em duas categorias, os laicos e não laicos, em que nos países politicamente laicos a religião não interfere directamente na política, como é o caso dos países ocidentais em geral. Países não laicos são teocráticos, e a religião tem papel ativo na política e até mesmo constituição, como é o caso do Irão e do Vaticano, entre outros."
ResponderEliminarA.Teixeira não confunda anti-clericalismo com Laicismo é que são dois movimentos/conceitos bem diferentes. Defender a separação do estado da igreja, a neutralidade do estado perante a igreja, não impede ninguém de ter uma determinada religião e praticá-la. Mais, defender que o estado deve ser laico (por exemplo não existirem crucifixos, crescentes ou estrelas de David em edifícios públicos), não significa que grupos confessionais de forma organizada procurem em determinados temas influenciar as regras da sociedade... Se o estado deve ser neutro, o mesmo não se deve pedir à sociedade, tal seria um absurdo, para além de ser totalitário...
Louçã teve uma formação Católica e sempre fez galhardete de ter participado na vigília do rato, esse facto impede-o de ser Laico, Republicano e Socialista, mas em quê? Lá porque o Soares e outros não são católicos, não quer dizer que os católicos não possam defender o estado laico.
Neste link pode ver um artigo intitulado "Estado laico", por... DOM ALOÍSIO ROQUE OPPERMANN
SCJ ARCEBISPO DE UBERABA, Minas Gerais
http://www.catequisar.com.br/texto/colunas/roque/57.htm
um excerto:
"Hoje somos todos a favor do Estado Laico. A esfera política e a religiosa devem ser distintas. Isso já é patrimônio da civilização.
A laicidade respeita as verdades resultantes do conhecimento natural de todos os que vivem na sociedade. Ter opinião é direito de todos os membros da comunidade social. Todos tem direito a buscar o bem comum, pois vivemos numa sociedade pluralista. Quanto mais laico é um Estado, tanto mais respeita o exercício das atividades culturais dos grupos religiosos. Impedi-las é caracterizá-las como de cidadania inferior."
Conhecendo a postura da Igreja Católica Brasileira nas questões Económico Sociais, se perguntássemos a este Arcebispo se é "Laico, Republicano e Socialista" o que é que axa q ele lhe iria responder?
Entendamo-nos sobre o que está em discussão aqui, Francisco, que eu não estou disposto a transformar esta caixa de comentários numa espécie de “bate-boca” disperso. Francamente, não me interessa a informação se já terá lido alguma definição de laico como aquela que adicionou ao seu comentário, preferiria que eu tivesse conseguido sensibilizá-lo para as vantagens em perceber aquilo que lê, para que não mostre depois, como o fez no comentário inicial, que não percebera nada sobre aquilo que escrevera… Nem perca muito tempo a tentar dispersar o assunto dessa divergência inicial, falando de confusões que eu teria tido sobre questões que nem sequer abordei.
ResponderEliminarPara o que interessa, no frente a frente de ontem, e ao contrário do que o Francisco escreveu, Louçã não quis assumir ter tido “uma formação Católica” nem “fez galhardete de ter participado na vigília do rato” ao assumir – e estou a citar Louçã tal qual me lembro de o ter ouvido na altura e, pelos vistos, não fui só eu a ouvi-lo a empregar precisamente aquela frase; veja aqui: http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/939757.html – que fora “socialista laico e republicano TODA A VIDA.”
Ora “toda a vida” quer dizer desde sempre e isso é que de certeza ele não foi. Ao dizer aquilo, naquele momento, Louçã pareceu-me ter mentido conscientemente (as causas não são para aqui chamadas…) e é sobre essa mentira descarada que eu ironizei com este poste, descrevendo-o como um beato trauteando cantigas revolucionárias…
Agora, quanto ao resto Francisco, é melhor deixar-se de elaborações complicadas sobre as confusões que eu (não) fiz sobre o laicismo, o anti-clericalismo ou a Teologia da Libertação. Sejamos dialecticamente construtivos. Não estou nada interessado em especular sobre o que o tal arcebispo diria.
Quer uma sugestão de leitura sobre Savonarola?...
Bem metido, o post. e também as respostas. Declarar-se "laico. republicano e socialista" é praticamente uma declaração de agnosticismo; também fiquei perplexo quando ouvi a declaração de Louçã, já que sabia que ele tinha participado no movimento da Capela do Rato.
ResponderEliminarQuanto ao percurso de Sócrates, tenho a mesma ideia: ser da JSD naquele tempo era estar na social-democracia propriamente dita E até mais À esquerda do PS actual), e não na nebulosa política onde o PSD actual vagueia.
O Chomsky é anarquista. Isso nunca o impediu de participar em sessões públicas em igrejas, a começar contra a guerra do Vietname nos idos de 60 e 70. Que incompatibilidade, francamente... ;-) Eu sou ateu e juntar-me-ia sem problema a todos os católicos que fossem contra a guerra colonial.
ResponderEliminarNão, não iria rezar. Mas isso é um problema pessoal. A guerra é uma questão da polis, transcende as minhas idiossincrasias. Juntar-me-ia aos cristãos numa celebração contra a guerra colonial. Eu estaria ao lado deles. É esse o significado da solidariedade. Não faço ideia se Louçã rezou (ou se Clinton inalou), nem me interessa. Não faço parte da polícia de costumes. Muitos laicos, republicanos e socialistas foram personalidades generosas e nobres. Muitos cristãos também. E alguns terão pertencido aos dois grupos. Qual é o problema, duvida disso?
EliminarBom ano! (já me esquecia ;-)
EliminarBom Ano! Suponho que uma boa resolução sua de novo ano seria procurar dialogar nestas caixas de comentários, nomeadamente respondendo às perguntas que os interlocutores lhe deixam: P: «também iria rezar?» R: «Não, não iria rezar» P: «Conhece as orações católicas?» R: «...» P: «o que é que se lhe oferece dizer sobre o perjúrio de Francisco Louçã?» R: «...»
EliminarÉ que assim, as potenciais conversas consigo esmorecem e perdem qualquer interesse. E só para terminar: «alguns terão pertencido aos dois grupos», não duvido, só que - e isto é muito importante - não ao mesmo tempo! E aliás, o que está em questão neste poste é outra coisa: a desonestidade intelectual de Francisco Louçã a renegar que estivera no outro grupo.
E sobre isso, mesmo evitando responder, já nos respondeu.
Não concordo com a forma como enquadra a questão, é tudo.
Eliminar1. Considero a questão mal colocada. É um contexto de disputa política no qual as regras do frente-a-frente pressupõem o uso do 'bluff', da simulação e outros conhecidos truques retóricos. O caso seria diferente no contextp de um ensaio, de um texto mais elaborado, em que o nosso tele-evangelista predilecto abordasse o seu papel e o dos católicos progressistas face à guerra colonial. Resposta: perjúrio e desonestidade intelectual são acusaçõew graves que não se devem fazer senão quando a gravidade das circunstâncias o justifica. Empregado à sua maneira é mais uma daquelas cachas: "Vem aí o lobo!" Quando vier, ninguém liga. Bagatelas. Faz-me lembrar o dia em que o Louçã se lembrou de atirar à cara do Portas que era pai e que ele, Portas, não. Deve haver um nome para isso em esgrima. Em todo o caso, quem vai à guerra dá e leva.
2. Haveria de ser bonito os nossos representantes políticos andarem por aí a falar, de "coração nas mãos", atentos aos traços nos tts e aos pontos nos iss das definições. Eram logo comidos na arena internacional ... Não lhes pagamos para isso.
Sugerir que adoptar uma qualquer combinação de socialismo, laicismo e republicanismo é uma opção vedada aos cristãos é como aventar que não se pode ser biólogo evolucionista (ou astrónomo) e cristão. É de fundamentalista.
Se, por alguma bizarra razão, quisesse rezar, aprendia as orações. Como os outros, nem mais nem menos. Mas felizmente não preciso: sou ateu, graças a Deus!