16 dezembro 2022

UM EPISÓDIO POUCO EDIFICANTE DA HISTÓRIA DA POLÓNIA

16 de Dezembro de 1922. Um escassos cinco dias após a sua tomada de posse, o primeiro presidente da Polónia era assassinado quando de uma visita a uma exposição de pintura. Se a História da Polónia costuma ser sempre narrada enquadrada pelo seu carácter trágico, de que as sucessivas partições do país pelos seus poderosos vizinhos são o expoente, o outro lado da Verdade também demonstra que a luta política naquele país quando independente sempre se caracterizou por um gangsterismo que lhe tinge essa outra imagem de vítima. Embora seja muito menos conhecido. Esta história do assassinato do presidente Gabriel Narutowicz (1865-1922) deve ser contada, mesmo que sucintamente. A eleição para o cargo presidencial polaco naquela época processava-se através da realização de eleições sucessivas entre os membros da Assembleia Nacional até que um candidato obtivesse a maioria absoluta de votos. Era um processo bastante comum - acontecia o mesmo em Portugal. Ora Gabriel Narutowicz foi um candidato improvável, apresentado à última da hora por um partido menor, cuja virtude principal havia sido a capacidade de congregar os votos dos deputados de todas as formações que se opunham à eleição do candidato da formação nacionalista de direita que dispunha da maioria (relativa) da representação parlamentar, a Narodowa Demokracja (ND). A evolução do resultado das eleições poderá explicar o que aconteceu: na primeira votação, o candidato da ND, conde Zamoyski, recebeu 222 votos e Narutowicz apenas 62, enquanto na votação decisiva Zamoyski recebeu 227 votos enquanto Narutowicz o ultrapassou com 289 votos. Enfim, ao aproveitar-se mais do que seriam as antipatias do oponente do que propriamente das simpatias próprias, ter-se-á estado na presença de um verdadeiro fenómeno geringonçico bem precoce, embora sem o privilégio do contributo de Vasco Pulido Valente para o descrever e baptizar. A reacção da ND é que foi bastante mais exuberante do que a do PàF. No livro «A Concise History of Poland», cuja referência ao episódio também se pode qualificar de um pouco concisa em excesso (abaixo), a expressão adoptada é fúria. Talvez peque por defeito: nos cinco dias do seu mandato houve constantes manifestações de rua a acompanhar as deslocação do recém-empossado presidente. Activas: atiravam pedras à passagem da comitiva. Até à vernissage de há 100 anos, em que um pintor de nome Eligiusz Niewiadomski (1869-1923) assassinou o presidente, atingindo-o com três tiros. O que vale é que, em termos de justiça, também tudo se passava a um outro ritmo: o assassino foi fuzilado mês e meio depois. Houve quem o considerasse, ao assassino, um herói. No fanatismo, nada mudou: ainda hoje há quem continue a considerar que, em Novembro de 2015, Pedro Passos Coelho devia ter continuado a ser o primeiro-ministro, mesmo sem dispor de apoio parlamentar. Só porque sim.

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