26 de Dezembro de 1982. O Movimento das Forças Democráticas de Casamansa (MFDC), um movimento independentista daquela região do Senegal (mapa acima), organiza uma marcha pacífica em Ziguinchor (capital regional) em direcção ao palácio do governador. Aí chegados, os manifestantes decidem substituir a bandeira senegalesa ali hasteada pela do movimento. A repressão das autoridades senegalesas envolveu uma dura intervenção policial, a que se seguiu a detenção dos dirigentes conhecidos do MFDC, incluindo o líder, o padre Diamacoune Senghor. A data passou a ser considerada o início da fase de rebelião armada pela independência de Casamansa, uma luta que tem prosseguido nestes 40 anos desde aí, com fases mais violentas e de enfrentamento armado entre rebeldes separatistas e o exército senegalês, e outras fases mais disputadas às mesas das negociações políticas: assinaram-se cessares-fogo em 1991, 2001, 2004, mas a questão de encontrar uma solução política pacífica para aquela região do Senegal persiste.
As lutas secessionistas dentro dos países africanos são um daqueles assuntos incómodos de que pouco se fala na comunicação social. Fala-se pouco porque o assunto não nos interessa, aos europeus. E fala-se pouco porque os europeus podem ser considerados a causa original de quase todos esses conflitos, quanto traçaram as fronteiras das colónias africanas na Conferência de Berlim em 1884 sem considerações pelas afinidades étnicas e a(lguma)s circunstâncias históricas que recomendariam outras soluções. Neste caso concreto de Casamansa, a história da presença formal e informal de portugueses e cabo-verdianos naquela região desde o século XV recomendaria que o território tivesse sido atribuído à esfera portuguesa como prolongamento da sua colónia da Guiné (hoje Guiné Bissau). Mas foi o interesse francês que prevaleceu e a região a sul da Gâmbia (atribuída, por sua vez, aos britânicos) acabou por lhes ser atribuída, sobrepondo-se às ambições portugueses. O irónico de toda esta história é que já os portugueses haviam abandonado as suas pretensões coloniais e África há uns anos (o que aconteceu em 1975), quando esta espécie de herança lusitana vem a ser brandida pelos independentistas da MFDC para a sua luta política e a sua guerrilha. Assim é desde há 40 anos, com a diplomacia portuguesa a fazer os melhores esforços para explicar que o assunto não tem nada a ver connosco...
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