Nesta passagem do artigo de opinião de João Miguel Tavares há ainda uma quinta grande diferença entre 2022 e 2004, uma diferença que me parece tão provável não lhe ter ocorrido, como será provável que ele não tenha coragem de a assumir, considerando a sua imagem de marca do seu discurso anti-socrático. E essa diferença é que em 2004, antes de sabermos o que sabemos hoje a respeito de José Sócrates, 5) ele parecia uma alternativa admissível aos disparates do primeiro-ministro em exercício. Mas agora, dezoito anos passados, por culpa desse mesmo José Sócrates, e também de Pedro Passos Coelho, a atitude deixou de ser a que era, essa disposição não desconfiada de como os portugueses acolhem as alternativas políticas. Esse temor à mudança já se exprimiu nas urnas no princípio deste ano com uma maioria parlamentar absoluta conferida ao PS. E é preciso que agora haja um desespero tremendo - tremendo mesmo! - para que seja levada a sério a hipótese de criar condições para que Luís Montenegro, que nunca fez parte de qualquer governo(!), venha a chefiar um, assim do pé para a mão.
Eu recordo-me de que José Sócrates, nos tempos em que foi Ministro do Ambiente no Governo de António Guterres, já tinha andado metido nas confusões da co-incineração e da Cova da Beira, bem como que o seu carácter de "animal feroz" já havia sido directamente sentido por não poucos jornalistas. Em 2005, Sócrates não era, portanto, nenhuma "vestal" impoluta.
ResponderEliminarSem prejuízo, concordo a sua conclusão geral: nesta altura da corrida, um governo Montenegro - e nada nos garante que o PS não voltasse a vencer eleições - seria um susto e um horror.
Concordo consigo José Lima. Espero que não tenha dado a impressão, pelo que descrevi, que José Sócrates era alguma "vestal". Era apenas uma «alternativa admissível», como antes haviam sido Durão Barroso, apesar do seu passado exuberantemente maoista e das sacanices que pregara ao ministro que o tutelava nos Estrangeiros, ou como o fora antes dele António Guterres, apesar das "conspirações no sótão" que os soaristas estavam sempre a atirar-lhe em cara. Líderes "imaculados" é de uma outra fase mais infantil da política portuguesa, tempos de Sá Carneiro ou de Cavaco Silva.
EliminarMas agora chegamos a uma fase III ou IV, em que os dois grandes partidos elegem líderes em que a percepção fora dos partidos é muito do género: «Deus nos guarde deste gajo vir a encabeçar um governo!» (exemplos: António José Seguro pelo PS ou Luís Filipe Menezes pelo PSD)