16 de Março de 1968. Há cinquenta anos tinha lugar o mais famoso massacre da Guerra do Vietname. O mais famoso, o que não quer dizer que tenha sido necessariamente o maior, que isto de massacres de civis, os que importam foram aqueles que puderam ter repercussões no ânimo dos combatentes. E nesse aspecto, o elo mais fraco do conflito vietnamita eram mesmo os norte-americanos. E porque o eram e porque em 1968 já lhes passara o ânimo para prosseguirem o seu envolvimento na guerra do Vietname, é que o Massacre de My Lai assumiu tanta visibilidade mediática. O julgamento do caso em tribunal militar, que teve lugar nos Estados Unidos, culminou dois anos depois com a condenação à prisão perpétua do oficial subalterno que comandara o pelotão que acabou sendo considerado o autor material do massacre, o tenente William Calley. Não apenas as responsabilidades da cadeia de comando foram ignominiosamente esquecidas, como a pena acabou sendo reduzida para três anos e meio de prisão domiciliar. Em valor absoluto, a leniência das sanções é escandalosa, quando se toma em conta a dimensão do massacre - entre 350 a 500 civis assassinados. Em valor relativo, a condenação é um absurdo, considerando o número e a gravidade dos massacres de civis que ocorreram durante aquele conflito, massacres esses que foram perpetrados por todas as partes beligerantes, e que ficaram todos, ou praticamente, por sancionar.
Uma esmagadora maioria deles, mesmo ainda da primeira fase do conflito, apenas se depreende que aconteceram, mas nunca foram devidamente comprovados. Outros massacres foram-no, de que é um exemplo a conduta das unidades sul-coreanas destacadas do Vietname do Sul. Mas os sul-coreanos, que haviam sofrido eles próprios os horrores de uma guerra civil (1950-53), permaneceram perfeitamente indiferentes a complexos de culpa quanto às crueldades que infligiam a outros povos. Também indiferentes às consequências do massacre de populações que lhe fossem politicamente hostis, os adversários de sul-coreanos e norte-americanos, os guerrilheiros do Viet Cong, apenas três meses antes de My Lai, haviam liquidado 250 civis numa outra aldeia, denominada Dak Son (fotografia a preto e branco). Como se depreende, e mau grado o cinismo, a relevância destes massacres acaba por ter de ser avaliada pelo seu valor como arma de propaganda utilizada pela parte adversária. Nesse aspecto, e porque a sociedade do Vietname do Norte se apresentava completamente blindada a muitas iniciativas inimigas, os Estados Unidos acabaram sendo nitidamente derrotados. Um pormenor interessante, embora de somenos importância, aprecie-se no memorial que os vietnamitas erigiram ao massacre, o relevo que estes dão ao facto de uma apreciável percentagem dos soldados norte-americanos serem negros... Terrível incorrecção política (pelos padrões americanos), mas deve ser para o lado que os vietnamitas dormem melhor.
Sem comentários:
Enviar um comentário