22 março 2018

O MOVIMENTO do 22 de MARÇO

22 de Março de 1968. Mais do que acontecerá com este blogue, há um vento nostálgico que parece varrer uma data de sites franceses na evocação deste acontecimento de há cinquenta anos, que é considerado o detonador do que veio a acontecer posteriormente em Maio daquele ano em França, sobretudo em Paris. Se o despojarmos de misticismos, aquilo que aconteceu foi a ocupação das instalações administrativas da universidade de Nanterre, a que se seguiu a publicação de um manifesto por parte dos ocupantes a que se deu o título de Manifesto dos 142 (o número de estudantes envolvidos, depreende-se, e vale a pena lê-lo, já que o texto foi aprovado por esmagadora maioria, com apenas 2 votos contra e 3 abstenções). O episódio foi também a revelação de Daniel Cohn-Bendit, que virá a ser um dos três líderes mais conhecidos (com Alain Geismar e Jacques Sauvageot) da revolta estudantil. Mas não valerá a pena desenvolver por agora muito mais o tema, já que isso me privaria de tópicos de um assunto ao qual conto regressar daqui a dois meses, noutras evocações sobre os momentos mais quentes dos acontecimentos de Maio de 1968.
Mas dá para perceber por estas fotografias já dessa altura, que a referência ao Movimento constituído nessa data perdurava simbolicamente. Era uma designação literalmente brandida pelos cartazes, mas que todos os estudos ulteriores têm uma enorme dificuldade em definir do ponto de vista ideológico em que é que consistia o seu azimute: entre os 142 encontraram-se comunistas das mais sortidas orientações (ortodoxos, heterodoxos, trotskistas, maoistas,...), anarquistas e até mesmo prosaicos reformistas, que a dinâmica da proclamação, da agenda reivindicativa facilmente engajou. Ao ouvir o veterano dos acontecimentos do vídeo abaixo, que até lá estava, constatamos que ele se lembra bem do que se propôs, não se lembra de quem o propôs e não se refere o quanto foi discutido o porquê das propostas terem sido aquelas (e não outras). E contudo, o expediente pegou de estaca: quando os membros de um movimento contestatário nada têm em comum a não ser a dinâmica da contestação, baptiza-se a coisa com uma data para que não haja engajamentos doutrinários que provoquem desagrados: ainda há alguns anos apareceu por cá o Movimento 12 de Março.

E, apesar dos cinquenta anos entretanto transcorridos, 22 de Março é uma boa data evocativa para fazer greve em França...

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