18 de Março de 1938. Há oitenta anos, num discurso radiodifundido, o presidente Lázaro Cárdenas (1895-1970) anunciava a expropriação da indústria petrolífera no México, que fora até aí detida por empresas de capital maioritariamente norte americano (de que a maior era a Standard Oil de New Jersey) mas também capital anglo-holandês (uma sucursal da Shell). Nesses anos, quando as jazidas da Arábia Saudita apenas haviam acabado de ser descobertas, o México era o sexto produtor mundial de uma commodity onde os Estados Unidos detinham 60% da produção mundial. O que podia ter sido um episódio canónico, em que as forças do nacionalismo se enfrentavam contra o internacionalismo capitalista, acabou por não o ser. Não que as reacções das empresas expropriadas fossem distintas da hostilidade expectável: em conjunto, as multinacionais adoptaram um conjunto de medidas tendo por objectivo dificultar a actividade da nova empresa nacional de petróleos, a Pemex. Contudo, tanto o presidente Roosevelt, quanto britânicos e holandeses em menor destaque, tiverem que contemporizar, reconhecendo que, quanto maior a hostilidade demonstrada para com os mexicanos, mais os induziriam a aprofundar laços comerciais com alemães e italianos, manobra que se revelaria contraproducente numa época em que a tensão já aumentava na Europa (Hitler acabara de entrar em Viena). No quadro da grande disputa ideológica do século XX, este episódio é desconhecido porque se mostra imprestável para a propaganda dos dois lados. Porque houve razoabilidade das partes, esta derrota do capitalismo não foi uma vitória do comunismo. Dali por um pouco mais de vinte anos em Cuba, vai-se ver como é possível fazer-se diferente...
Adenda:
Se no México a notícia valia (naturalmente) o exclusivo da primeira página, em Portugal a questão valia o destaque que se pode apreciar numa página interior.
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