23 março 2018

O CENTENÁRIO DO «PARIS GESCHÜTZ»

23 de Março de 1918. Cerca das 7H20 da manhã, a cidade de Paris é atingida por um primeiro disparo, seguido de outros de que não se consegue identificar a proveniência. Como se percebe pelo encadeado de comunicados oficiais publicados acima, primeiro pensou-se que se trataria de bombas que eram lançadas de aviões a altitudes extremas, só de tarde, já os disparos haviam cessado por volta das 15H00, é que se conseguiu atribuir conclusivamente a sua origem a um canhão de longo alcance, estacionado na discreta comuna de Crépy, situada para lá das linha alemãs, a uns 130 km de Paris. A nova arma é um aprimoramento do que já existia, um canhão naval de 380 mm recalibrado para 210 mm com o cano prolongado até aos 34 metros. O conjunto de adaptações tornava possível que um projéctil de 106 kgs percorresse, em cerca de três minutos, uma trajectória de 130 km em que chegava a alcançar mais de 40 km de altitude. Porém, a precisão era mínima, assim como o era o seu poder destrutivo, limitado a uns 7 kg de TNT. A arma valia pelo seu impacto psicológico junto das populações civis, não por qualquer valor militar directo nas frentes de batalha, como acontecia, por exemplo, com a introdução contemporânea dos carros de combate (tanques). Rebaptizado (mal) de Grande Berta pela opinião pública parisiense, o Canhão de Paris terá estado na origem de várias manifestações de mau estar social ao fim de três anos e meio de guerra, rapidamente abafadas pelas autoridade. No total, entre a data de hoje de há cem anos e os princípios de Agosto de 1918, virão a ser disparados entre 320 e 360 tiros nestas condições sobre Paris. O total de vítimas cifrar-se-á nos 250 mortos e 620 feridos. Apesar de mínimas, estas baixas humanas tornavam os parisienses muito mais sensíveis à guerra do que os seus homólogos berlinenses que chegariam ao fim dela sem serem submetidos a provações equivalentes. Talvez essa falta de contacto com a frente de batalha explique porque milhões de alemães, entre os quais os berlinenses, estariam no futuro propensos a acreditar que a derrota no conflito fora uma questão de traição, conforme argumentarão Adolf Hitler e os nazis.
Em paralelo, nesta mesma data, os Aliados decidiram-se a requisitar todos os navios holandeses que estavam internados nos seus portos. Os Países Baixos até eram um país neutral mas as fortes perdas de navios mercantes que continuavam a ser provocadas pela guerra submarina dos alemães, faziam com que os beligerantes se dispensassem de cortesias mesmo para com terceiros. Recorde-se que fora por adoptar uma atitude semelhante para com os navios alemães e austríacos nos portos portugueses que, dois anos antes, Portugal se vira arrastado para a Primeira Guerra Mundial.

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