28 de Maio de 1974. Se Mário Soares, recém-apontado ministro dos Negócios Estrangeiros do governo provisório que se formara depois do 25 de Abril, estava a contar com um desfecho rápido das negociações que se haviam encetado em Londres entre o novo poder português e o PAIGC, então o melhor era tirar o cavalinho da chuva, porque a parte contrária não se apresentava nada disponível para embarcar na narrativa simples e ingénua que os antigos oposicionistas (como Soares) haviam criado para a resolução do problema colonial português. Os sorrisos de Mário Soares e de Almeida Santos que acompanham a notícia acima são mesmo só para a fotografia. Muito pelo contrário, os do outro lado sentiam a falta de força anímica da parte portuguesa e subiam a parada negocial a pontos que tornavam a predisposição portuguesa de aceitar imensas coisas, na situação em que se tornava humilhantemente impossível aceitar para uma potência colonial. As negociações, concebidas para uns dias, arrastavam-se perante um silêncio constrangedor. Chegado para a fotografia da assinatura de qualquer coisa, Soares foi-se embora com as mãos a abanar dias depois e o assunto ficou entregue aos profissionais. Vinte dias depois (a notícia de baixo é de 17 de Junho) ainda não se havia chegado a lado nenhum e o tempo parecia correr a favor da organização nacionalista.
Mas vale a pena rematar esta evocação esclarecendo que, se a ingenuidade era a de Mário Soares e do restante elenco governativo português, o oportunismo e a falta de empatia para connosco de quem esteve a negociar do lado da Guiné não são para esquecer nem para perdoar. Se a Guiné-Bissau actual é o país de merda que é, eles merecem-no, sem qualquer rancor mas também sem qualquer simpatia. Tiveram cinquenta anos de independência para construir o que têm hoje.
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