70º aniversário da morte de Catarina Eufémia. Republicação
A fotografia acima é um retrato (como então se dizia) típico dos anos cinquenta de uma mulher pobre – uma verdadeira proletária, no sentido marxista do termo – como se comprova pela modéstia dos adornos visíveis que usa: um colar simples com uma medalha. Chamava-se Catarina Eufémia, era uma trabalhadora rural que encabeçava uma manifestação reivindicativa quando foi morta pela GNR em 19 de Maio de 1954 em Baleizão no Baixo Alentejo. A sua condição de proletária e de analfabeta torna muito improvável a afirmação que ela fosse uma militante clandestina do PCP, conforme este último ainda hoje reclama.
Mas uma coisa é certa: o PCP dispôs de outros candidatos a santos mártires pela causa (como será o caso de José Dias Coelho), mas foi nela que apostou decisivamente para esse papel, sobretudo depois do 25 de Abril. Como aconteceu com Ribeiro Santos, a representação de Catarina Eufémia tornou-se estilizada, usando um jogo de padrões claro/escuro que se tornasse reconhecível nas pinturas murais (acima). E houve até quem tivesse ido mais longe e tentado tornar a imagem da Santa um pouco mais misteriosa e atractiva, invertendo-a no seu eixo vertical, como se pode observar neste cartaz abaixo, datado de 1980…
Mas uma coisa é certa: o PCP dispôs de outros candidatos a santos mártires pela causa (como será o caso de José Dias Coelho), mas foi nela que apostou decisivamente para esse papel, sobretudo depois do 25 de Abril. Como aconteceu com Ribeiro Santos, a representação de Catarina Eufémia tornou-se estilizada, usando um jogo de padrões claro/escuro que se tornasse reconhecível nas pinturas murais (acima). E houve até quem tivesse ido mais longe e tentado tornar a imagem da Santa um pouco mais misteriosa e atractiva, invertendo-a no seu eixo vertical, como se pode observar neste cartaz abaixo, datado de 1980…
Em complemento ao texto inicial, vale a pena publicar a notícia da época, publicada no Diário de Lisboa do dia seguinte, que dá conta da «impressionante manifestação de pesar» do seu funeral. Como a realidade frequentemente vem acompanhada de ironia, o nome da vítima aparece trocado: Maria da Graça Sapinho, em vez de Catarina Eufémia... O episódio é dado como acidental e o autor dos disparos, o tenente Carrajola, é dado como estando sob prisão, em Évora. E vale a pena assinalar que, pelo conteúdo, parece não ter havido intervenção da censura na publicação da notícia. É um daqueles casos em que agora não se menciona esse aspecto, mas, caso tivesse havido censura à notícia, a propaganda do PCP não deixaria de o realçar.
Eu, que não professo qualquer “religião”( como as classifica), quando li este poste, lembrei-me do santo ofício.
ResponderEliminarOfereço-lhe estas duas memórias vivas. Se lhe apaziguarem a alma pode chamar-lhes orações:
http://www.youtube.com/watch?v=9N4IBo_ntUo
http://www.youtube.com/watch?v=2yZkC3YCU20
O JRD, na sua modéstia, ao confessar-se "não praticante" e ao deixar-me os links que deixou (e que agradeço) faz-me lembrar aqueles católicos que se confessam "não praticantes" mas que, quando confrontados com uma cerimónia em que tenham de participar (casamento, baptizado, funeral...), mostram saber as orações todas: o Padre Nosso, o Avé Maria, o Credo e até o Salvé Rainha!
ResponderEliminarA. Teixeira,
ResponderEliminarJá tardava(!) a "insinuação", Meu caro.
Mas não colhe. Estou vacinado há muito contra essa dedução simplista (sem ofensa) e vulgarizada.
Sou distanciado mas não equidistante, tal como o A. Teixeira, simplesmente, movimentamo-nos em espaços diferentes, com tendência para opostos. Nada de irremediável.
E acrescento: os postes selectivamente habilidosos, justificam comentários à altura, passe a imodéstia e o incómodo.
Aguardemos então a próxima "procissão", se for o caso, mas não conte comigo para andar de joelhos...
Ah! E sobre as orações, reservo-lhe o "acto de contrição" (se é assim que se chama).
Deliciosos os comentários feitos nos camarotes lidos aqui da frisa...
ResponderEliminar:))
Seja bem reaparecida, Maria do Sol.
ResponderEliminarE de retrato novo!
;)
Estive a vestir-me! rsrsrsr
ResponderEliminarOra, eu nunca desapareci! Só que nem sempre saem palavras, ainda que modestas!
:))
Admirável!
ResponderEliminarNão resisto a deixar aqui 2 registos, salvaguardando o respeito pelo sacrifício de uma morte bem como do sofrimento daí decorrente.
ResponderEliminar1 - Abaixo a Catarina Eufémia, Viva a Catarina Eumacho. (piada anarquista)
2- Os filhos desta mulher, alguém me contou, eram filiados na UDP. Um terrível contratempo para os estalinistas do PC quando se deslocavam a Baleizão a fim de homenagearem alguém que, tanto quanto se sabe, não foi nunca militante das suas fileiras. Ah, e o cabo da GNR que a matou acabou louco e sozinho em estado miserável.
Como diria o BB: "Eu achei que devia dizer isto"
Olá, Artur. Voltaste e logo a blasfemar!...
ResponderEliminarAssim já não vais para o Paraíso... mas, agora me lembro que já cá recebemos muitos imigrantes ucranianos e moldavos vindos do paraíso que nem se tinham apercebido do sítio bestial de onde vinham...