02 maio 2024

ARGUMENTAÇÃO EM ESTILO «PEGA DE CERNELHA»

Repare-se acima como, se embarcarmos na estrutura como João Miguel Tavares argumenta o episódio das declarações do ministro da Defesa, deixa de ser primordial aquilo que o ministro disse, para a importância se transferir para as reacções ao que ele, Nuno Melo, teria dito. O teor das suas declarações deixa de ser o núcleo do problema, já que terá sido apenas «algo vagamente surpreendente». Não. O que Nuno Melo disse foi particularmente estúpido e é isso que explicará a amplitude do ribombar das reacções. O exercício a que João Miguel Tavares acima se dedica é o de (tentar) inverter o nexo entre a causa e o efeito, será como tentar pegar um touro mas sem lhe tocar nos cornos (os cornos são os disparates proferidos por Nuno Melo). Em tauromaquia (e é o próprio João Miguel Tavares que evoca a metáfora tauromáquica no seu artigo, quando compara Nuno Melo a «um forcado do Aposento da Moita»), chama-se a esse expediente uma «pega de cernelha» (veja-se imagem acima). Emprega-se quando não se quer ou não se pode pegar o touro de caras. Quanto a forcados, ainda que metafóricos, João Miguel Tavares também não se sai muito bem como cabo honorário dos Amadores de Portalegre.

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