(Republicação)
29 de Maio de 1974. Os trabalhadores da revista "Gente" estavam em luta. A notícia que a noticiava (à luta) na edição de há 43 anos do Diário de Lisboa perdia-se, de resto, no meio de várias outras lutas semelhantes que haviam surgido com a percepção da alteração súbita do poder nas relações laborais, provocada pelo 25 de Abril (que ocorrera há pouco mais de um mês). E esse combate até se aplicava a uma revista de futilidades (burguesas) como era o caso da revista "Gente". Assim, os seus trabalhadores haviam ocupado a redacção da publicação e forçado uma reunião com Artur Anselmo, que era o administrador-delegado da empresa detentora do título. Dá-se a curiosidade do administrador ser uma daquelas jovens (34 anos) estrelas em ascensão da estrutura social que o 25 de Abril de 74 acabara de abalar até às fundações (abaixo vêmo-lo com Carlos Cruz numa aparição televisiva anterior a essa data). A descrição do processo negocial mostra que, como muitos outros na sua posição por aqueles dias, Artur Anselmo fora completamente ultrapassado pelos acontecimentos. A sua ameaça de que «os accionistas individuais se viessem a desinteressar da empresa» (i.e., que a fechassem), foi pura e simplesmente rejeitada «por maioria» numa votação dos trabalhadores (que, quase apostaria, terá sido de braço no ar...). Juntando o insulto à injúria, ficou prometido que Artur Anselmo ainda teria que se vir a haver com uma nova comissão recém nomeada, «destinada ao apuramento (...) das reivindicações do pessoal das outras secções da publicação», pessoal considerado ainda «mais desfavorecido». Até os próprios que a viveram já se terão esquecido do que então passaram, mas não era fácil ser-se patrão por aqueles dias. E visto pelos olhos da actualidade o que se descreveu parece "ficção científica".
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