30 de Maio de 2014. O jornal Público dá um destaque de duas páginas à história de um treinador de futebol português chamado Paulo Morgado que fora procurar fazer carreira para o Brasil. O retrato é de uma mediocridade confrangedora: «São clubes profissionais que trabalham como amadores. Os jogadores não respeitam os horários e os dirigentes são demasiado emocionais, chegando ao ponto de despedir treinadores no intervalo de um jogo. A maior parte dos técnicos não tira cursos há 15 ou 20 anos. E sem qualidade de treino, não há qualidade de jogo. Os jogos aqui não têm muita qualidade, são anárquicos. Os sistemas tácticos são ultrapassados. Ainda se usa muito o 3 ˣ 5 ˣ 2 e o chuto para a frente.» Se então se presumia que continuava a ser verdade que o Brasil era uma potência futebolística, nomeadamente por causa do manancial de jogadores dotados que gerava, a verdade é que parecia constituir uma benesse que esses craques fossem desde cedo jogar para o estrangeiro, para se habituarem a processos de trabalho verdadeiramente evoluídos. O que era irónico naquela situação é que o diagnóstico parecia estar bem feito, mas os próprios brasileiros recusavam-se a compreender que, sendo jeitosos a jogar a bola, eram uma merda em tudo o resto que se relacionava com a indústria do futebol. Incluindo a actividade de paineleiro de televisão. Cinco anos depois da notícia acima, podemos apreciá-los a boicotarem com toda a veemência a contratação do treinador português Jorge Jesus pelo Flamengo (abaixo).
...creio que aqui todos conhecerão o resto da história e os cinco títulos conquistados pelo Flamengo numa época (2019/20). Ao nível técnico de treinadores, já se ultrapassou a fase d«o 3 ˣ 5 ˣ 2 e o chuto para a frente» e o Brasil evoluiu imenso nestes últimos cinco anos, porque outros treinadores portugueses se seguiram a Jorge Jesus. Ao nível de dirigentes desportivos e, sobretudo, de paineleiros televisivos, isso é que eu já não sei, porque, mesmo já tendo abordado o assunto aqui no blogue, na verdade não presto grande atenção ao tópico. Também, não vale a pena: tendo evoluído bastante, o futebol no Brasil continua a ser, comparativamente, uma merda em relação ao futebol europeu. Espero, ao menos, que a maioria dos brasileiros se tenha tornado mais modesta e menos xenófoba no futebol, porque a lição que apanharam sobre qualidade do futebol foi dolorosa. Não todos: este exemplar da mediocridade vigente que aparece abaixo, por exemplo, resolveu fazer uma fita quando confrontado com aquilo que lhe tínhamos ouvido previamente mais acima sobre Jorge Jesus.
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