09 maio 2024

A GREVE DE 8 E 9 DE MAIO DE 1944

Se há alguma coisa que faz pouco sentido em Democracia é que, à censura oficial que se verificava sob o Estado Novo, que impedia que os pontos de vista do regime fossem contraditados, se sucedeu, depois do 25 de Abril, outro género de unilateralismo, que peca por omissão, em que agora as narrativas dos acontecimentos são feitas apenas pelo outro lado. Por exemplo, a greve de 8 e 9 de Maio de 1944, que foi fomentada e organizada pelo Partido Comunista Português torna-se numa narrativa heróica, com um generalizado apoio popular, um acontecimento sem mácula, quando é evocada por aquela organização. Do lado direito da imagem temos um panfleto da altura e a primeira página da edição seguinte do jornal clandestino Avante! E no entanto, e como já aqui se verificara aquando da evocação do 75º aniversário da prisão de Álvaro Cunhal, uma consulta aos jornais da época, mostra todo um distanciamento em relação às acções dos comunistas. Aquilo que aconteceu não foi nada como eles agora contam e os comunistas estavam muito longe de granjear o apoio popular que se subentende das suas narrativas. E repare-se como acima, do lado esquerdo, a notícia de dia 9 de Maio, que dá conta dos acontecimentos, é antecedida de um editorial intitulado A Ordem. Pelo menos para o editorialista do Diário de Lisboa (presumivelmente o seu director Joaquim Manso), fomentar greves num país neutral numa Europa em guerra não lhe parecia gesto que se saudasse.

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