07 maio 2024

A «ALMOÇARADA» NA TRAFARIA

(Republicação)
Domingo, 7 de Maio de 1944. «O 1º batalhão da Brigada Naval da Legião Portuguesa, acampado desde ontem na mata da Trafaria, terminou hoje o seu exercício de campo. Esta manhã, depois da alvorada e da missa campal, com a presença do sr. comandante Henrique Tenreiro, efectuou-se um exercício de progressão na praia entre a Cova do Vapor e a Trafaria.
Partia-se da hipótese que os legionários tinham levado a cabo um desembarque naquela zona, onde encontraram resistência. O exercício, dirigido pelo comandante do 1º batalhão, 1º tenente Horácio de Carvalho, desenvolveu-se normalmente e o batalhão, utilizando todos os serviços de transmissões, fez a sua progressão até ao local do acampamento.
Ás 13 e 30 realizou-se, á sombra do pinhal, um almoço de confraternização, a que presidiu o sr. comandante Henrique Tenreiro e com as presenças dos srs. capitão de mar e guerra Alberto dos Santos e major Nascimento, Chefe de Estado Maior da Brigada Naval, bem como de muitos oficiais, graduados, etc.
Aos brindes, usou da palavra o sr. comandante Henrique Tenreiro, que pronunciou um caloroso discurso, entrecortado de grandes aplausos.
Começou por lembrar que o sr. comandante Alberto dos Santos, grande amigo da Brigada Naval, completava hoje 70 anos, passando por isso à reforma, motivo pelo qual traçou o seu elogio.
Continuando, o sr. comandante Tenreiro afirmou que, "certos da vitória de Salazar, os legionários continuam unidos e prontos a obedecer-lhe à primeira voz".
Acentuou que a união da Brigada Naval tem sido timbre daquela corporação, sendo necessário que continue a sê-lo enquanto Salazar assim o entender.
Terminou lembrando aos legionários navais, que, sendo eles soldados da Revolução Nacional, cumpre-lhes manter cabeças ao alto, fé em Deus e na política do Estado Novo.
O sr. major Carlos Nascimento, chefe de Estado Maior da Legião, exaltou depois o espírito de unidade e a força espiritual e material dos legionários, afirmando que o comandante Henrique Tenreiro tinha na Brigada Naval um dos grande expoentes do seu espírito de grande organizador.
Por último, o sr. comandante Alberto dos Santos agradeceu as palavras que lhe tinham sido dirigidas e incitou os legionários a cumprirem sempre os seus deveres.
O batalhão regressou a Lisboa ao fim da tarde
O que acabaram de ler é a transcrição completa da notícia. Num Mundo então em guerra, esta história de umas manobras navais na outra banda quase parece uma paródia provocatória. Se do outro lado do Mundo fuzileiros navais americanos arriscavam e perdiam a vida em operações anfíbias, por cá esses exercícios eram encenados com a seriedade de um piquenique ao fim de semana: houvera uma noitada de acampamento, seguida de alvorada e missa (não houve café da manhã?...), com o prato de resistência a ser constituído por uma passeata de uma meia hora entre duas praias (cova do vapor e trafaria) para apanhar a brisa do mar e assim se ir abrindo o apetite para o almoço, servido à sombra dos pinheiros, a seguir ao qual houve uma sequência de discursos para ajudar a digestão. Houvesse ele invasão e a Pátria estava salva graças ao 1º batalhão da Brigada Naval da Legião Portuguesa!

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