Sobre aquilo que representa tecnologicamente o feito reclamado pela Space X, já aqui publiquei em 27 de Maio um poste em que enfatizava que se tratava de uma repetição de algo que fora alcançado há 55 anos! Só isso, tornava logo absurdo e ridículo o embandeirar em arco como o acontecimento foi publicitado nos Estados Unidos, envolvendo a presença do próprio presidente Trump e tudo! Compreende-se a intenção: é preciso tentar distrair as atenções dos americanos, quando se atinge a marca dos 100 mil mortos provocados pela covid-19, quando o número de pedidos de subsídio de desemprego supera os 40 milhões, e quando há 25 cidades americanas onde foi imposto o recolher obrigatório - e não por causa da pandemia. Mas nesta América de Trump consegue-se sempre levar o ridículo um pouco mais adiante. Uma das imagens de marca do presidente em exercício é a de culpar o seu antecessor, Barack Obama, por tudo aquilo em que o possa fazer. Neste caso, seria por ter descurado o financiamento do programa espacial americano que transforma a reedição de uma proeza tecnológica com 55 anos em algo passível de ser destacado (acima). Porém, ontem, quando Trump teria podido culpar Obama por isso e até desta vez tinha razão para o fazer, é que Trump se esqueceu de falar de tal... Mais do que ridícula, a administração Trump está a tornar-se balofa.
31 maio 2020
PELO NONAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DO MANOEL DE OLIVEIRA AMERICANO
31 de Maio de 1930. Clint Eastwood completa hoje 90 anos. Teve uma excelente carreira como actor e realizador de cinema. Mas não precisa de a prosseguir até ultrapassar os cem anos realizando obras-primas atrás de obras-primas. Escrever coisas como «cada filme de Clint Eastwood em que a câmara do realizador filma o actor Clint Eastwood está destinado a ser uma obra-prima.» é, não apenas excessivo, como o ridiculariza desnecessariamente. Que neste dia lhe façam homenagens sim, mas que sejam contidas nos encómios. Já basta o que aconteceu com o cineasta português Manoel de Oliveira (1908-2015) que, dos noventa anos até à sua morte dirigiu nada menos do que quatorze(!) obras-primas, das quais desafio qualquer leitor a mencionar de memória hoje, cinco anos depois da sua morte, o título de cinco delas...
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30 maio 2020
O HOMEM POR DETRÁS DO TWEETOGRAMA
Cada vez que a situação interna aperta para Donald Trump, arranjam-lhe mais qualquer coisa para ele dizer a respeito da relação dos Estados Unidos com a Organização Mundial de Saúde. Tantas vezes já se recorreu ao expediente que se descredibilizou e assumiu a aparência de uma novela. Numa semana em que os Estados Unidos superaram as barreiras psicológicas dos cem mil mortos devido à covid-19 e dos quarenta milhões de pessoas a apresentarem pedidos de subsídio de desemprego, aquilo que o presidente tem para dizer pessoalmente numa conferência de imprensa nos jardins da Casa Branca é que está muito chateado com a OMS, e que vai deixar de financiar a organização. Já desconfiávamos, mas também não há direito a que os jornalistas presentes façam perguntas. Que diferença a deste Donald Trump de carne e osso, para o outro Trump do tweet, que insulta, mata e esfola! Para além da palavra holograma, será que existe a palavra tweetograma?...
QUANDO (e não se) A UNIÃO SOVIÉTICA ATACAR O JAPÃO...
30 de Maio de 1945. Duas notícias discretas da última página do Diário de Lisboa desvelam aquilo que serão as intenções futuras da União Soviética em relação ao Japão, países que até aí se haviam mantido numa não beligerância, que contrastava com o que acontecia pelo resto do Mundo. Numa das notícias, oriunda de Washington, esclarecia-se que «nos círculos diplomáticos bem informados» daquela capital se afirmava que «durante a próxima reunião de Truman, Churchill e Estaline (...) será resolvida a data em que a Rússia (sic) entrará em guerra com o Japão»(...também sic). Na outra notícia, essa oriunda de Xunquim (que era então a capital provisória da China nacionalista), lia-se que os jornais locais haviam recebido «a informação de que os russos (sic) estão a concentrar importantes efectivos militares e muito material blindado e motorizado nas proximidades da fronteira da Manchúria». As duas notícias, conjugadas, forneciam uma imagem nítida das intenções soviéticas de atacar o Japão - o que só virá a acontecer daí por mais de dois meses. Já aqui falámos do assunto mas voltaremos a ele por ocasião destes 75º aniversários dos acontecimentos.
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29 maio 2020
UMA DAS «VÍTIMAS» DA COVID-19...
...foi a fa...fa...fa...fama súbita de Joacine Katar Moreira que se desvaneceu, assim como aparecera. E ainda bem. Para a próxima, Joacine tem que arranjar outra organização que a patrocine e as gentes do Livre têm que ser mais criteriosas no processo de composição das suas listas de deputados. Ah, e tem que haver eleitores para votarem neles.
POSTAS DE PESCADA...
...especialmente se for cozida, acompanhadas de umas batatinhas e uns verdes, é um daqueles pratos da cozinha tradicional portuguesa que se reveste de um certo cunho quando é ingurgitado e de um outro, mais qualificado, não quando é regurgitado, mas quando é arrotado.
28 maio 2020
A CAPITULAÇÃO DA BÉLGICA
28 de Maio de 1940. Convém não esquecer que, em 1940, esta data de 28 de Maio era a da referência da implantação do Estado Novo de que, neste dia, se celebrava o 14º aniversário. O que só vem trazer significado ao facto de que a notícia da capitulação dos belgas capturou toda a primeira página do Diário de Lisboa daquele dia. Para os leitores do jornal terá sido uma notícia totalmente inesperada. E uma constatação de que a guerra não estaria afinal a correr como a propaganda franco-britânica a descrevera até então. Cumulativamente, o teor do comunicado alemão que anunciava a rendição dos belgas não era de molde a granjear simpatias: «Sob a impressão da eficácia exterminadora das armas alemãs, o rei dos belgas decidiu cessar a resistência insensata e pediu um armistício. O rei aceitou a exigência alemã de uma capitulação incondicional. Assim, o exército belga depôs hoje as armas e deixou de existir. (origem D.N.B.)» Ao ler isto percebe-se que Adolf Hitler teria podido ir inspirar-se à locução de Cícero: «Oderint, dum metuant».
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27 maio 2020
COMO TRANSFORMAR EM NOVIDADE UMA «PROEZA» TECNOLÓGICA QUE JÁ TEM 55 ANOS...
Há cinquenta e cinco anos a separar as duas notícias dos extremos deste poste e, no entanto, elas anunciam o mesmo feito tecnológico: a colocação de dois astronautas americanos em órbita terrestre... Quanto ao facto da SpaceX, que irá ser a responsável pelo lançamento, ser uma sociedade privada, isso é mesmo conversa ideológica, que não tem qualquer pertinência para o assunto. Sociedade privada também a era a Martin Marietta que construiu o foguetão Titan II, que propulsionava a cápsula «Gémeos» de há 55 anos (vídeo abaixo). A corrida espacial foi disputada, do lado americano, por empresas privadas. A agência (estatal!) responsável, a NASA limitava-se a programar, especificar, coordenar e a criar concursos a que essas empresas privadas (Boeing, North American, McDonnell Douglas, etc.) concorriam. Foi com esse material construído por essas construtoras privadas que os americanos chegaram à Lua. A NASA ainda hoje existe, continua a funcionar do mesmo modo, e o logotipo da agência continua ostensivamente visível nas fotografias acima, tanto nos macacões dos dois futuros astronautas como no dispositivo da cápsula que os transportará para órbita.
O que acontecerá de novo é que os Estados Unidos recuperarão a sua capacidade de colocar astronautas em órbita, mas isso dificilmente poderá ser levado à conta de uma proeza. Será antes e apenas a correcção de uma asneira das administrações Bush (2001-09) e Obama (2009-17) que, subfinanciando o programa espacial norte-americano, os deixaram na contingência de depender exclusivamente dos meios disponibilizados pelos russos para a colocação de tripulações em órbita. A propensão (natural) de uma empresa privada (SpaceX) para se promover apenas preenche mais um pouco do absurdo* acima. Em contraste com a exuberância que acima se pode ler, a China testou no princípio deste mês uma nova nave espacial, mas como não publicou fotos, nem fez muito fogo de artifício, o acontecimento passou praticamente desapercebido. Mas o copo cheio do disparate é constituído pela demissão da responsabilidade de quem notícia estes assuntos, quando o faz sem qualquer preocupação crítica, limita-se a republicar o que o pessoal das RP da empresa em causa lhes forneceu. Por muito que a comunicação social se queixe, sobre estes assuntos, que necessitam de conhecimentos prévios superiores à tradicional tudologia, há sempre alguém numa qualquer rede social que aparece a comentar o assunto com mais profundidade do que aquilo que os profissionais fazem. Ainda por cima quando os das redes sociais o costumam fazer de borla.
* O absurdo de promover como excepcional a reedição de uma proeza tecnológica com 55 anos de idade.
GOLPE DE ESTADO NA TURQUIA
27 de Maio de 1960. Golpe de estado na Turquia. Estávamos num tempo em que os golpes de estado perpetrados pelos militares ainda eram tolerados nos países sob a tutela dos Estados Unidos, desde que, e note-se a redacção dada à notícia acima, se tratasse de criar um período intercalar «até à realização de novas eleições». O problema destas iniciativas costumava ser o grau de liberdade como se realizavam essas eleições prometidas pelos militares. Mas aqui na Turquia e neste caso, pôs-se um outro problema mais imediato: o que fazer com as eminências do regime deposto? (que vemos na fotografia abaixo, da direita para a esquerda: o presidente Celâl Bayar (1883-1986), o primeiro-ministro Adnan Menderes (1899-1961), o ministro das Finanças Hasan Polatkan (1915-1961) , o ministro dos Negócios Estrangeiros, Fatin Rüştü Zorlu (1910-1961), etc.) Num julgamento dinâmico e rápido, realizado em Setembro de 1961 (quando a fotografia foi colhida), todos foram condenados à morte e, com excepção do septuagenário ex-presidente, cuja pena veio a ser comutada, todos foram realmente executados. As execuções foram um desastre de relações públicas da imagem do regime militar turco diante de toda a comunidade internacional. Por todo o Mundo, as cliques militares com ambições de intervir sob qualquer pretexto na arena política perceberam a mudança dos tempos, até - ou sobretudo... - na América Latina. Só ficou mesmo o general Alcazar do Tintin...
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26 maio 2020
O LUÍS DE MATOS COSTUMA FAZER A MESMA COISA MAS É COM CARTAS DE JOGAR...
«Isto é do programa do (Paulo) Portas, (ante)ontem, na tvi e respeita a países (...) mais ou menos com a mesma população (que Portugal).» Por acaso, a Bélgica (11,4), a Suécia (10,2) e a Grécia (10,7) não constavam do mapa. Se calhar, porque os dois primeiros países esquecidos por Portas apresentem números quanto ao covid que desalojariam Portugal daquele primeiro lugar do quadro onde Portas o queria exibir. E depois o outro (Luís de Matos) é que faz truques na televisão!
«NYET» - O VETO RUSSO
26 de Maio de 1945. Nas negociações que estavam a decorrer então em São Francisco, a respeito do funcionamento da futura Organização das Nações Unidas (ONU), ficava-se a saber que aqueles que a notícia designava por «Quatro Grandes» haviam chegado a acordo quanto à concessão do direito de veto a qualquer dos países assim considerados: a notícia enumera as «delegações britânica, norte-americana, russa e chinesa», mas o estatuto de «Grande» também fora reconhecido à França. Cinco países que tinham assento permanente no conselho de segurança da ONU e que, com o seu voto negativo, podiam impedir a aprovação de qualquer resolução emitida por aquele órgão, mesmo que a votação fosse maioritária. Como na notícia se explica, a figura do veto fora uma insistência russa, que se mostrava temente que a composição da nova organização colocasse a União Soviética em posição minoritária quanto à composição de países membros da nova organização. Durante os primeiros anos da ONU, o recurso ao veto pelos russos (soviéticos) foi um expediente tão frequentemente usado por estes, que se tornou recorrente empregar a expressão russa nyet (não) como sinónimo de uma atitude não cooperativa nem colaborante. Entre os vetos russos desses tempos contam-se dois, em Agosto de 1946 e em Agosto de 1947, que nos dizem directamente respeito, quando a admissão de Portugal à ONU nessas duas ocasiões foi vetada por eles. Mas, para aqueles que queiram ver nesse duplo veto fundamentos ideológicos anti-salazaristas, desenganem-se: precisamente nas mesmas duas ocasiões a União Soviética vetou as admissões da Irlanda e da Jordânia...
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25 maio 2020
E DE REPENTE... COMEÇA UM TERRAMOTO
Um terramoto foi o que aconteceu ainda ontem à primeira-ministra neozelandesa, Jacinda Ardern, quando ela dava uma entrevista a um canal de televisão. Jacinda transformou-se numa coqueluche da comunicação social internacional (especialmente depois de discursar numa das recentes sessões da Assembleia Geral da ONU, onde protagonizou um significativo contraste com Donald Trump), mas o episódio que o vídeo acima exibe, demonstra o quanto ela tem pinta... e sangue frio. A pinta (muita) e o sangue frio (nenhum) que faltaram ao Chicão quando ele aqui há coisa de dois meses e meio se viu numa situação precisamente idêntica enquanto discursava no Funchal (abaixo). Para aqueles (como eu) que gostam de escrutinar os assuntos até ao pormenor (para estragar o trabalho dos encarregados de arranjar desculpas e obrigá-los a arranjá-las, às desculpas, ainda mais estúpidas e inverosímeis), esclareça-se que o terramoto da Jacinda (5,8 graus na escala de Richter) foi maior do que o do Chicão (5,2). Em contrapartida a expressão do Chicão é visivelmente mais assustada do que a da Jacinda (tipo 2,0 graus na escala da Cueca Borrada). Estes momentos são minudências numa carreira política, mas não se fingem nem se forjam. Estão lá. E é por isso que , por muito que ele venha a fazer, perdura a impressão que o Chicão não vai levar o CDS a lado nenhum.
O INÍCIO DAS TRANSMISSÕES DA PROGRAMAÇÃO DE TV À HORA DE ALMOÇO
25 de Maio de 1970. Como se anunciava acima de véspera, a RTP passava a transmitir durante um novo espaço televisivo durante a hora de almoço, com uma duração aproximada de duas horas (das 12H45 às 14H40, quando começavam as transmissões da telescola, aulas pela televisão, processo que foi recentemente redescoberto por causa da pandemia). O assunto já foi objecto de uma das minhas evocações nostálgicas (TV Nostalgia - 89) aqui no Herdeiro de Aécio, mas trata-se de tópico que não resisto a revisitar. Seja pelo genérico dos desenhos animados de Tintin:
Seja pela possibilidade de ver o próprio primeiro episódio completo da série «Ele & Ela» das 13 e 15 (embora neste caso ele tenha que ser visto, naturalmente, sem legendas).
Seja para recordar a crítica televisiva dessa primeira emissão, publicada no dia seguinte, arrasadora como era então convencional que o fossem todas as críticas de televisão (a fazer lembrar o espírito do comentário de rede social da actualidade).
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A EVACUAÇÃO ISRAELITA DO SUL DO LÍBANO
25 de Maio de 2000. Cumprindo uma promessa eleitoral do primeiro-ministro Ehud Barak, o exército israelita evacua todas as posições militares que ocupava no sul do Líbano. As imagens acima exibem o tradicional regozijo exuberante que as populações árabes daquela região tanto gostam de fazer, para satisfação dos operadores de câmara das televisões para ali destacadas. Neste caso, as imagens até são consistentes com o resto. Os israelitas haviam ocupado aquela região-tampão desde a sua primeira invasão do Líbano em 1978 (Operação Litani), já ia para 22 anos. As populações libanesas locais professam maioritariamente o xiismo e eram, por isso, insuspeitas de grandes simpatias pelos ocupantes israelitas, uma antipatia que era, de resto, recíproca. A grande força político-religiosa (e também militar, que naquele país tudo isso está associado) no Líbano meridional era o Hezbollah, apoiado pelo Irão. Contudo, aqueles que Israel consideraria os inimigos prioritários eram a Síria (que também ocupava outra parcela do Líbano) e a OLP. Esta é uma retirada, cuja promoção do facto de ter sido o cumprimento de uma promessa eleitoral de Barak, ilude o problema de que, nem Barak, nem o seu muito mais agressivo rival Ariel Sharon, sabiam o que fazer depois de 22 anos na posse de um território-tampão que só lhe tinha trazido chatices (a começar pelas resoluções da ONU e a acabar nas iniciativas das guerrilhas locais), e nenhuma vantagem substantiva na mesa das negociações. Sem a exuberância dos árabes, a suspeita é que os israelitas também deviam estar muito aliviados, que por ali ninguém dá nada a ninguém se, em alternativa, puder ser vendido ou trocado. E todavia o tempo veio demonstrar que fora uma má opção para os israelitas - em 2006, já eles estavam de volta ao sul do Líbano, só que a realidade militar mudara sobremaneira.
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24 maio 2020
OS CAMARADAS DA SEITA RELIGIOSA
24 de Maio de 1990. Num artigo de opinião publicado no semanário Tempo (jornal que irá deixar de se publicar no final daquele ano), o autor compara o comportamento dos comunistas a uma fé fanática e considera o ambiente vivido no PCP como sendo ainda mais retrógrado e menos adaptável às novas circunstâncias do que o da igreja católica. A associação entre o comunismo e uma forma de vivência religiosa, mais do que político-social, não é, como se vê, nada original e tem muitos anos - no caso, comprovadamente trinta. E, no entanto, ainda hoje, os visados (comunistas), cada vez que são menorizados por tal subserviência, assumem um comportamento ultrajado como se nunca tivessem ouvido falar de tal analogia.
23 maio 2020
O FIM DA AUTORIDADE FRANCESA SOBRE A SÍRIA E O LÍBANO
Ainda 23 de Maio de 1945. A reinstalação da autoridade francesa naqueles que haviam sido os seus mandatos no Próximo Oriente (Síria e Líbano) mostra-se mais do que problemática. Os dois países haviam aproveitado o período de extrema fraqueza da França depois da sua derrota de 1940 para ambos ganharem autonomia e até proclamarem a sua independência (1943 e 1944), sob a tutela das tropa de ocupação britânicas que ocupavam os países desde 1941. Com o fim da Guerra em 8 de Maio de 1945, pensara-se em Paris reencetar os programas de autonomia progressiva que haviam sido previsto ainda antes de 1939. Era esquecer cinco anos de acontecimentos decisivos, contar com a colaboração benévola dos britânicos, mais a solidariedade de americanos e russos, e ainda presumir a complacência benévola dos árabes. A França comportava-se como um daqueles seus aristocratas que foram corridos dos seus domínios por ocasião da Revolução de 1789 e que agora regressava a tomar posse dos seus palácios, pretendendo que nada de substantivo se alterara com os anos de ausência. Fica por saber se era ingenuidade ou se era apenas petulância gálica, mas iriam confrontar-se com uma resistência militar que superava a capacidade militar francesa em lhes fazer face - os exércitos coloniais locais haviam-se bandeado em peso (70% dos quadros e 40% dos soldados) para o lado das forças independentistas. Dia 28 de Maio os franceses viriam a receber uma nota americana a respeito da sua política na região e a 31 de Maio seriam os britânicos a exigir que os franceses aceitassem um cessar fogo. Os dias da França no Próximo Oriente estavam contados. Na revanche, nos anos que se seguiram, os franceses iriam cuidar de contribuir para emerdar o mais possível todas as iniciativas britânicas para resolver o problema palestiniano, do qual o Reino Unido iria sair dali por três anos e com o rabo entre as pernas...
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A DISSOLUÇÃO DO ÚLTIMO GOVERNO NAZI
23 de Maio de 1945. Desde a data da rendição alemã em Berlim, que pusera fim à Segunda Guerra Mundial na Europa, pairava no ar o espectro da indecisão quanto ao que fazer com o governo alemão que sucedera ao de Adolf Hitler. Sediado no porto de Flensburgo, no Norte da Alemanha, junto à fronteira com a Dinamarca, aquele governo era encabeçado pelo Reichspraesident Karl Doenitz, a ocupar um cargo para o qual fora nomeado pelo próprio Adolf Hitler no seu testamento. Seguiam-se os titulares das pastas, de que o mais conhecido era Albert Speer, o ministro do Armamento de Hitler que transitara para a nova equipa governativa. Verdade seja que a capacidade de actuação da equipa que se reunia todos os dias pelas 10H00 era nula numa Alemanha fortemente destruída e onde os exércitos invasores haviam assumido as responsabilidades administrativas. Mas punha-se sempre a questão do carácter simbólico de tal equipa governamental, por muito que ela nada tivesse para fazer. Neste dia de há precisamente 75 anos, Doenitz, Speer, e o general Jodl, que ficara com o comando militar dos restos da Wehrmacht, foram convocados pelo general norte-americano Lowell W. Rooks para comparecerem logo pela manhã no paquete alemão Patria (que havia sido requisitado pelas autoridades aliadas) e ai foram presos. Exibidos perante os correspondentes da imprensa convocados previamente para o efeito, conjuntamente com eles, foi preso um verdadeiro exército de burocratas fardados, cujas cenas serviram para alimentar o noticiário cinematográfico dos aliados em mais uma humilhação dos alemães vencidos (acima).
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22 maio 2020
UM FESTIVAL RTP DA CANÇÃO FORA DA DATA DO COSTUME
22 de Maio de 1970. Por razões que já expliquei num poste publicado já há muitos anos (pode lê-lo aqui), o tradicional festival RTP da canção teve lugar em finais de Maio. Venceu a canção nº 6 - Onde vais rio que eu canto, mas desta vez limito-me a assinalar o cinquentenário do concurso e a publicar os vídeos de todas as canções concorrentes, sem a adição da crónica subsequente - e frequentemente maledicente - de Mário Castrim no Diário de Lisboa.
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A UNIFICAÇÃO DO IÉMEN
22 de Maio de 1990. Unificação do Iémen. O Iémen fica longe e a notícia mereceu apenas uma breve referência no jornal daquele dia (acima). Na época, pareceu mais um daquelas rectificações de fronteiras que se haviam tornado possíveis por causa da distensão da situação internacional depois da Guerra Fria. Mas não. Repare-se como a expressão empregue é unificação e não reunificação. Os dois Iémenes vieram a mostrar-se quanto estavam muito longe de constituir uma entidade social comum ou de, então, compartilharem aspirações para um futuro comum. A histórica política naquele canto da península Arábica sempre foi turbulenta, pautada por múltiplas entidades políticas, num espaço de autoridade(s) muito fragmentada(s). E assim iria tender a continuar. Houve uma guerra civil em 1994 para reverter esta unificação de 1990, mas as forças secessionistas foram derrotadas. Mas essas forças secessionistas subsistem, embora ultimamente estejam coligadas com o governo central, por causa de uma outra guerra civil em curso no Iémen. Quando aparecem aqueles analistas com pretensões que as situações internacionais a que se referem pode descrever-se de forma muito simples - modelo Pedro Marques Lopes - fico sempre com ganas de os mandar escrever um texto sucinto em que descrevam a situação politico-militar iemenita, mesmo para lhes tirar as peneiras.
21 maio 2020
CASAMENTO DE HUMPHREY BOGART E LAUREN BACALL
21 de Maio de 1945. Casamento das duas estrelas de Hollywood. O noivo tinha 45 anos e a noiva 20. Neste blogue gosta-se de assinalar estes casamentos improváveis mas que depois se vieram a revelar duradouros. Como o de Chaplin com Oona O'Neill um ano antes, também este irá durar até à morte de um dos cônjuges, Bogart, em 1957.
20 maio 2020
PARA QUE... «TENHAM(OS) NOÇÃO!»
Esta é a lista de apoios estatais aos órgãos de comunicação social nestes tempos de crise. Uma lista que provoca ciúmes entre órgãos de comunicação rivais de ideologia liberal, que nestes tempos de aperto mandam a ideologia e a independência do estado às urtigas. Uma lista que é encabeçada pela SIC de Rodrigo Guedes de Carvalho, pivot televisivo que se celebrizou nestes tempos difíceis que atravessamos por instar os espectadores a que... «tenham noção!». (abaixo) Por acaso, eu não tinha noção que as estações de televisão, a começar por aquela onde trabalha aquele pivot, saíam assim comparativamente tão beneficiadas neste regime de apoios... Algo que não enquadra nada bem com anos a transmitir uma imagem de opulência nas remunerações praticadas no segmento.
REFERENDO DO QUÉBEC (1980)
20 de Maio de 1980. Na província canadiana do Québec realiza-se um referendo incidindo sobre a soberania daquela província no quadro da confederação do Canadá. Na prática, patrocinado pelas forças separatistas francófonas locais, tratava-se de um primeiro passo para a secessão do Québec. Os eleitores quebequenses rejeitaram a proposta por uma maioria de 60%.
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19 maio 2020
UMA NOTÍCIA QUE «SÓ PODIA» SER PUBLICADA ANTES DO 25 DE ABRIL
19 de Maio de 1970. Uma notícia interior dá conta do início do julgamento de quatro trabalhadores de um sindicato - o sindicato nacional dos profissionais de propaganda médica - todos acusados do desvio de fundos. Muito se costuma falar, e com toda a razão, do leque alargado de assuntos sobre os quais não havia liberdade de noticiar, antes do 25 de Abril, por causa da censura. Mas, muitas vezes mais poderosa do que os mecanismos de censura, será a assumpção da auto-censura por parte daqueles que redigem as notícias. E este exemplo com 50 anos que aqui recupero é muito interessante quanto a esse aspecto. Porque, apesar de se ter a certeza que a natureza humana continuou a ser a mesma, antes e depois do 25 de Abril, e se continuarem a registar certamente desvios e apropriações ilegais de fundos entre quem os movimentava nas organizações sindicais, um título com este destaque e esta crueza será impensável de aparecer assim publicado no Diário de Lisboa e em quase todos os jornais portugueses nos anos imediatamente subsequentes ao 25 de Abril. E isso aconteceu não por uma questão de falta de liberdade de o poder noticiar. Mas por uma espécie de imposição de um novo paradigma, que estabeleceu que a defesa dos trabalhadores era uma causa quase sagrada, e que seria mau para a moral pública revelar-lhes que as associações que os devem defender, os sindicatos, também podiam ser vigarizadas, como qualquer outra instituição. Este novo paradigma durou uns bons quinze anos, até à época do cavaquismo e só veio a ser rompido por um jornal da direita, O Independente, perante o caso escabroso da UGT e do aproveitamento que essa central sindical fizera dos fundos de formação europeus (abaixo). Mas nesse intervalo de tempo que vai de 1970 a 1990, nunca pôde ser grande notícia a de sindicalistas em tribunal por apropriação de fundos.
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FERNANDO SANTOS, SALVADOR SOBRAL E MÁRIO CENTENO
Ainda não sei como terminará o «folhetim» Mário Centeno. Mas considero propositado recordar por onde andávamos há sete anos (acima), com o ministro das Finanças de então, Vítor Gaspar, a não ter outras ideias para a redução do défice público senão cortes vigorosos nas áreas sociais, nas pensões e nos salários da função pública. Quando a notícia foi publicada, a 28 de Abril de 2013, ainda ninguém saberia que Vítor Gaspar estaria a dois meses de apresentar a sua demissão. Uns meses depois dessa demissão, veio a apurar-se que o saldo do défice que legara à sua sucessora, Maria Luís Albuquerque, havia sido de 7,1%, uma evolução miserável dos 8,3% que recebera em Junho de 2011 de Teixeira dos Santos. A sua sucessora havia de o reduzir para uns ainda preocupantes, mas mais aceitáveis, 4,9%, dali por outros dois anos. Mas é a Mário Centeno que se deve a sua redução para valores compatíveis. E sem os tais imprescindíveis cortes nas áreas sociais, os tais para os quais nos fartavam de martelar que «não havia alternativa». Por sinal e em contraste, ele há três coisas que Portugal alcançou nestes últimos anos ao arrepio daquilo que ficara convencionado. Ganhou a final do Euro 2016, sem que Cristiano Ronaldo tivesse praticamente jogado nesse jogo. Venceu o Eurofestival de 2017 sem que se apresentasse com uma canção comercial para agradar ao ouvido dos espectadores europeus. E equilibrou o seu défice orçamental sob a égide de um ministro das Finanças que nunca gozou do apreço dos seus pares - ao contrário dos antecessores. Tenho muita simpatia por qualquer dos três protagonistas - Fernando Santos, Salvador Sobral e Mário Centeno.
18 maio 2020
UM CONGRESSO EXTRAORDINÁRIO COMO HABITUALMENTE
18 de Maio de 1990. Início do XIII congresso (extraordinário) do PCP em Loures. Tudo aquilo que o partido defendera durante décadas ruíra fragorosamente na Europa comunista (seguir-se-á a pátria do socialismo propriamente dita), mas isso parecia ser irrelevante, porque em Portugal ser-se comunista não era uma opção política, mas antes uma profissão de fé. Nesta fotografia acima da cerimónia de encerramento realizada dois dias depois, o pontifex maximus caminha humildemente para o lugar mais destacado do altar, que os acólitos directos ciosamente conservaram para si. Quanto aos outros, aqueles fiéis que haviam substituído a confiança no clero pela leitura das escrituras e que pensavam que o partido incorporaria as lições do que estava a acontecer, «a porta da rua era serventia da casa» como se percebia logo no primeiro dia de trabalhos por estas notícias do, já algo distanciado, Diário de Lisboa. Como acontecera cinquenta anos antes do lado oposto do espectro político com Salazar, esta obediência devota também era uma maneira de «viver-se habitualmente» na extrema esquerda não democrática portuguesa.
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Dialéctica
UM CONSELHO DE MINISTROS COMO HABITUALMENTE
18 de Maio de 1940. Como anunciava uma discreta e muito sintética notícia do jornal, pelas 17H30 reuniu-se no palácio de S. Bento, o Conselho de ministros. No fim do mesmo foi emitida uma nota oficiosa que dava conta que se examinara a situação internacional - estava em curso a batalha de França - e que o governo resolvera manter ainda assim a realização dos actos solenes das comemorações centenárias (previstas para o mês seguinte). A sobriedade, a discrição e mesmo a contenção com que tudo isto aparecia noticiado era a melhor expressão do «viver habitualmente» que tanto agradava a Salazar.
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17 maio 2020
EVOCAÇÕES DE UMA ÉPOCA EM QUE O MALCRIADO QUE ESTRAGAVA A CIMEIRA ERA O RUSSO E NÃO O AMERICANO
17 de Maio de 1960. Em Paris, estava em curso uma cimeira dos dirigentes dos "Grandes" (para adoptar a terminologia do Diário de Lisboa): Eisenhower pelos Estados Unidos, Kruchtchev pela União Soviética, MacMillan pelo Reino Unido e o anfitrião, de Gaulle. E a notícia do dia era que o russo se baldara à reunião: fora passear para os arredores de Paris, amuado, porque os outros três participantes não haviam contemporizado com a cena dramática que ele havia montado, à conta do abate do avião espião U-2 dos americanos.
A cimeira foi evidentemente um fiasco, uma perda de tempo para todos, enquanto o dirigente soviético consolidou a imagem internacional, que já viera adquirindo anteriormente, de pessoa instável, dada a temperamentos. Nikita Kruchtchev foi afastado dos cargos que ocupava em 1964 e durante décadas, os "Grandes" não tiveram dirigentes pitorescos do mesmo calibre, até à eleição de Donald Trump. Com ele, as cimeiras passaram a ser novamente uma animação (veja-se abaixo), só que agora a vedeta deixou de ser russa e passou a ser americana.
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RECORDAÇÕES DE UMA OUTRA ERA EM QUE OS CABELEIREIROS NÃO SERIAM TÃO APRECIADOS QUANTO HOJE
Mais do que a música, já de si não propriamente notável, o que torna verdadeiramente memorável neste disco americano de 1964 é a sua capa. Qualquer das raparigas não é bonita, mas reconheça-se que o efeito de conjunto é potenciado pela habilidade do cabeleireiro - presumivelmente o mesmo - que as alindou para a fotografia de capa. Cabeleireiros como este deviam ter ido todos à falência durante o confinamento. Senão, agora regressam pujantes e com uma carteira de clientes ansiosos dos seus serviços, mais uma das tragédias colaterais da pandemia. Quanto ao disco propriamente dito, há quem tenha ido muito longe para se certificar que o que vemos (e ouvimos) é (foi) mesmo um disco a sério ou se se trata de uma encenação. Quando se lê o empenho das posições assumidas em defesa de qualquer das opiniões, percebe-se que um outro problema das redes sociais é que se discute este assunto menor (um disco medíocre!...) com o mesmo fervor e escrutínio como se discute a questão se a presença de Neil Armstrong na Lua foi genuína ou encenada em estúdio. E a irredutibilidade das partes é a mesma.
16 maio 2020
A QUEM POSSA INTERESSAR...
O que é importante na notícia abaixo é o facto de ela não ser notícia. Confuso? Por décadas a fio a opinião publicada brindou-nos incessantemente com as travessuras e deambulações de Pedro Santana Lopes, como se tudo aquilo que ele fez e também o que andou por aí a fazer, por ser feito por ele, tivesse um interesse supletivo para a opinião pública. Atrás de si, Pedro Santana Lopes deixou um rastro de desgraças das quais a mesma comunicação social que o promovia nunca teve a ousadia de mencionar, fossem elas - as desgraças - um clube de futebol (Sporting), duas autarquias hiper-endividadas (Figueira da Foz e Lisboa), um governo sem rei nem roque (XVI governo constitucional), uma passagem para esquecer por uma IPSS (Santa Casa da Misericórdia). Quando se vier a fazer o computo destes anos, Pedro Santana Lopes personificará a impunidade política (e vamos a ver se José Sócrates não personificará a impunidade criminal...). Uma impunidade que se prolongou até há bem pouco tempo, quando, depois de se candidatar a regressar à liderança do PSD sob o slogan da unidade do partido, o abandonou pouco depois para fundar um novo. Um novo partido que, mau grado a promoção da opinião publicada, conseguiu o inconseguimento de não eleger um único deputado - o próprio Pedro Santana Lopes - nas eleições do passado Outono, ficando aquém do Chega, da Iniciativa Liberal e do Livre. O eleitorado, a opinião pública, teve finalmente a oportunidade de, através do seu voto, esclarecer a opinião publicada onde que esta última podia enfiar a pretensa popularidade de Pedro Santana Lopes. De há sete meses para cá, criador (PSL) e criatura (Aliança) debatem-se num estertor agónico para chamar a atenção sobre si, no meio das deserções dos admiradores do Pedro, mas o mais interessante desta notícia abaixo é o facto de que o pedido de dispensa de Pedro Santana Lopes (naturalmente deferido!...) já ter ocorrido há uns dias e só ter sido notícia no jornal Sol. Por todas as outras paragens mediáticas, já se terá chegado à conclusão - finalmente! - que a pessoa de Pedro Santana Lopes já foi chão que deu uvas?...
O CONFINAMENTO NÃO ESTÁ A FAZER MUITO BEM A NUNO MELO...NEM A PACHECO PEREIRA
Durante anos, a estupidez do eurodeputado Nuno Melo foi um dos segredos bem guardados dentro do CDS. O confinamento parece estar a tornar mais difícil preservar esse segredo. Neste último episódio temos um deputado europeu que vem, como convidado, ao parlamento nacional, dissertar e pedir que se investigue as relações entre um país (China) e uma organização do âmbito da ONU (OMS). O que fica por perceber, da leitura da notícia, é a identidade de quem ele pensa que devia realizar essa investigação: o parlamento português que o acolhia? o parlamento europeu de que ele faz parte? outro organismo, de maior peso político, para que as conclusões dessa investigação não sejam previsivelmente ignoradas? E que nos poderá ele dizer antecipadamente sobre as eventuais sanções?
Vale a pena recordar que Nuno Melo pode ser de uma superficialidade assustadora, verdadeiramente estúpida, mesmo quando não implica com a escolha de Rui Tavares para protagonista de uma aula da telescola (acima). A verdade é que, lêem-se os jornais de fim de semana, e conclui-se que todo este ambiente do confinamento não só agudiza as pulsões e os disparates de Nuno Melo como não nos faz bem a todos os restantes, imagine-se lá que, provavelmente por uma falta desesperada de assunto que estivesse à altura do seu intelecto e n"um surto de pedantismo incontrolável" (nas palavras do próprio), José Pacheco Pereira dedica o seu artigo de opinião de hoje a desancar a opinião de Nuno Melo sobre o marxismo cultural! Que distinção, Nuno, para mais vinda de alguém que se obstina em não nomear pelo nome qualquer dos membros do elenco do programa rival do governo-sombra! Qualquer dia, e por ser eurodeputado, Nuno Melo ainda ombreia com o Vasco Graça Moura!
A CANONIZAÇÃO DE JOANA D'ARC
16 de Maio de 1920. Em Roma, o papa Bento XV canoniza Joana d'Arc (1412-1431), 489 anos depois da sua execução em Rouen. O processo que a conduzira até à sua nova condição de santa fora prolongado porque controverso. Apesar de ser uma figura típica da Europa medieval, por causa do seu percurso histórico e pela sua combatividade, a direita política e religiosa francesa apoderou-se da figura recém santificada. (compreende-se: para os franceses defensores de uma certa religiosidade combatente, santa Joana d'Arc é uma figura religiosa muito mais potente do que, por exemplo, santa Teresinha de Lisieux, canonizada em 1925, ou santa Bernadette Soubirous, canonizada em 1933)
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15 maio 2020
OS MENTIROSOS E... OS OUTROS
Que, nas ditaduras, as estatísticas dizem aquilo que as autoridades querem que seja dito, é um dado adquirido. Em Portugal, ficou famoso o episódio de finais de Novembro de 1967 em que, perante o número crescente de vítimas das enxurradas que haviam ocorrido ao redor de Lisboa em 25 daquele mês, a censura decidiu que na comunicação social se deixava de poder noticiar mais mortes quando elas começaram a atingir a escala das várias centenas. Ainda no mesmo registo se anda hoje lá pelas paragens das grandes ditaduras do oriente, da Rússia à China. Só que com uma diferença: enquanto que na Rússia ainda há quem, em liberdade, se disponha a escrutinar aquilo que está a ser por lá publicado como dados oficiais sobre a pandemia (primeira das notícias acima), na China, ou melhor, a respeito da China, não aparece quem se disponha a denunciar a plausibilidade das coisas absurdas que ali se escrevem. Note-se: eu até posso aceitar a versão que a pandemia está dominada na China; é suspeito, mas seria preciso investigar no local para comprovar o contrário e isso não posso fazer. Agora: pretende-se que num mês e num país com 1.400 milhões de habitantes não morreu NINGUÉM por causas que sejam atribuíveis ao coronavírus?! Investigaram bem?... Não estarão a ser os chineses ainda mais aldrabões do que os russos? Claro que nada disto é inocente e nós só o seremos (inocentes) se acreditarmos naquilo que a China escreva depois de gerar este ambiente de (des)confiança: quando nos tentam persuadir que «a produção industrial da China superou as expectativas», digam-nos lá quem é que as tinha (às expectativas) e quem são os "analistas" que "previam" coisas, que "apontavam" crescimentos...
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O AJUSTE DE CONTAS COM OS COLABORACIONISTAS E OS COMPROMETIDOS
15 de Maio de 1945. Terminada há uma semana a Segunda Guerra Mundial, por toda a Europa começava o ajuste de contas com o passado recente, tivesse ele sido na Checoslováquia anexada ao Reich, na Dinamarca ocupada pelo Reich ou ainda na França que colaborara com esse mesmo III Reich. E estes eram apenas alguns exemplos recolhidos de notícias várias da edição daquele dia do Diário de Lisboa. Os ajustes de contas multiplicavam-se por todos os países da Europa que se haviam visto nas mesmas condições. Em todos eles, há 75 anos, a germanofilia era um predicado muito pouco saudável.
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14 maio 2020
COBERTORES (ESTILO) TRUMP
Num muito curto espaço de tempo e ao ritmo semanal a que se anunciam os pedidos de subsídios de desemprego nos Estados Unidos (36 milhões nos últimos dois meses), os cobertores (ao estilo) trump parecem vocacionados a deixarem de ser - infelizmente - os modelos coloridos que eram anunciados nas páginas da Amazon para passarem a ser outros, de um estilo mais sóbrio, a preto e branco, mais em exibição ao ar livre...
DEDICADO ÀQUELES QUE CONFIAM EM TODOS... E TAMBÉM AOS QUE DESCONFIAM DE TODOS
Chamo a atenção para os resultados desta sondagem da CNN, de onde se pode extrair a conclusão segura que, porque 67% + 36% = 103%, há na América quem confie simultaneamente em Donald Trump e no seu muito mediático assessor científico para estas coisas das pandemias, Anthony Fauci. O que não deixa de ser surpreendente, considerando que, nestas últimas semanas de pandemia, aquilo que ambos disseram a respeito do tema raramente esteve alinhado. E é uma pena que, a partir dos resultados da sondagem supra, não se saiba qual é a representatividade dessas almas crédulas, a que há que contrapor as almas incrédulas, as que não confiam nem em Donald Trump nem em Anthony Fauci. Aparentemente, para qualquer dos dois grupos, o conteúdo do que lhes for dito parece ser perfeitamente irrelevante. Mas isso não é propriamente surpresa: uma sondagem na América pode concluir que a esmagadora maioria dos americanos (numa proporção de 2 para 1) não quer que se ensine a numeração árabe nos seus estabelecimentos de ensino...
O PRINCÍPIO DO FIM DA BATALHA DE FRANÇA
14 de Maio de 1940. A última página do Diário de Lisboa é completamente dedicada ao que se ia sabendo sobre os acontecimentos na frente ocidental. Era perceptível o carácter decisivo das batalhas que se travavam. Porém, a informação estava (sabe-se hoje) um dia atrasada. No dia anterior e «nos arredores de Sedan» a Wehrmacht havia conseguido atravessar o rio Mosa e logo em quatro locais distintos: Houx e Dinant na Bélgica, Monthermé e Sedan em França. Os franceses costumam reescrever este episódio como se se tivesse tratado de uma brecha cunhada pelas armas alemãs por causa de razões circunstanciais. Nada menos verdadeiro: a superioridade táctica alemã era tal que os seus exércitos forçaram não uma, mas quatro brechas no dispositivo defensivo franco-belga. E depois continuaram em frente... Que há oitenta anos um jornal lisboeta não acompanhasse a situação militar nas frentes de combate, desculpa-se; o problema é que no GQG francês, nesse mesmo dia, procurava-se colmatar as brechas mas ainda sem se compreender quais eram as intenções do inimigo.
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13 maio 2020
O PRIMEIRO GRANDE PRÉMIO DE FORMULA 1
Ainda 13 de Maio de 1950. No circuito britânico de Silverstone, disputa-se a primeira prova a contar para o primeiro campeonato do Mundo de Fórmula 1. Venceu-a o italiano Giuseppe Farina, ao volante de um (também italiano) Alfa Romeu. Naquela época, as corridas de automóveis deste cariz possuíam uma conotação aristocrática, equivalentes às corridas equestres ou aos torneios de ténis. Este grande prémio contou com a presença do rei Jorge VI, da rainha e da princesa Margarida e ainda dos antigos vice-reis da Índia Lorde Mountbatten e a sua esposa Edwina.
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PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA
Os dois meses que separam estas duas notícias podem ser uma eternidade em termos do ritmo a que hoje se processam as notícias, mas a inflexão que elas mostram pode representar imenso no quadro das relações internacionais.
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A PRISÃO DE KURT MÜLLER
13 de Maio de 1950. A notícia era pequena mas, para os atentos, o interesse que ela despertava era grande. Se repararem bem, Kurt Müller (1903-1990) era vice-presidente do Partido Comunista na Alemanha Ocidental, mas fora preso em Berlim e presumivelmente em Berlim Oriental, dado que quem anunciava a sua prisão era o Ministério da Segurança do Estado da Alemanha Oriental (a famigerada Stasi). Mais do que isso, Müller era um dos quinze deputados comunistas da Alemanha Ocidental, eleitos nas eleições (livres) que haviam tido lugar nove meses antes nessa parte (de cá) da Alemanha. Como parlamentar, ele deveria ter direito àquelas imunidades que as Democracias costumam conceder nestas circunstâncias. Havia naquela notícia óbvias ressonâncias de um choque de soberanias entre as duas Alemanhas, a Ocidental do lado de cá e a Oriental do lado de lá. Hoje sabe-se que Kurt Müller fora atraído a uma armadilha em Berlim Leste pelo seu camarada Artur Illner (mais conhecido pelo pseudónimo de Richard Stahlmann, ou seja, o homem de aço daquelas paragens...), a metade da cidade onde vigorava a jurisdição da República Democrática Alemã e onde ele fora preso pela Stasi sob as ordens directas de Erich Mielke. Naquele dia, os leitores mais esclarecidos do Diário de Lisboa apenas poderiam suspeitar que os comunistas alemães também se preparariam para realizar uma purga interna ao estilo das que estavam a decorrer nos outros países do Leste da Europa, alguns casos já aqui mencionados como os da Hungria ou da Bulgária. Como Rajk no primeiro caso e Kostov no segundo, Müller fora capturado para ser acusado de todas as perfídias e sacrificado como um cordeiro pascal no altar do que parecia estar a ser um obrigatório ritual de purificação marxista-leninista para aplacar os deuses de Moscovo. Apesar das previsíveis acusações (terror, espionagem, sabotagem, formação de grupos e actividades terroristas), foi completamente irónico que tivesse sido Moscovo a salvar a vida de Müller, ao julgá-lo num tribunal militar soviético. A pena foi pesada, é certo, 25 anos, para mais quando era para ser cumprida num campo do Gulag soviético na Sibéria. Só que, ao contrário dos outros sacrificados, Rajk, Kostov e tantos outros que os seguiram no patíbulo, era uma sentença reversível. A Alemanha Ocidental não deixou de protestar junto dos soviéticos pelo retorno de Kurt Müller ao país, para mais considerando as circunstâncias equívocas desta sua detenção de há 70 anos. Müller veio a ser libertado do seu cativeiro na União Soviética em 1955, conjuntamente com os últimos prisioneiros de guerra da Segunda Guerra Mundial. Estabeleceu-se na Alemanha Federal e transferiu a sua militância política para uma esquerda mais tolerante. Em 1957 filiou-se no SPD e durante 25 anos (1960-1985) trabalhou como investigador para a Fundação Friedrich Ebert. Em 1990, cinco meses antes de morrer, o PDS, partido que herdara os despojos da Alemanha Oriental e do comunismo alemão, «reabilitou» politicamente o octogenário (86 anos) Kurt Müller, considerando que ele havia sido vítima da «repressão estalinista». Deixo-vos com uma fotografia final, onde Kurt Müller é a pessoa que aparece ao fundo, entre as duas figuras que se cumprimentam em primeiro plano, Pieck e Grotewohl; aparece na fotografia da esquerda... e depois desaparece na da direita, retocada depois de 1950.
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12 maio 2020
«- VOU AO CINEMA. ESTÁ ESGOTADO? ENTÃO VOU ABORTAR!»
Numa das paródias políticas mais bem sucedidas deste século, os Gato Fedorento puseram-se a imitar o nosso actual presidente num manifesto contra a aprovação da despenalização do aborto. Tanto assim, que a paródia (abaixo) se tornou muito mais famosa do que o original. Num dos trechos da paródia, e assestando na leveza como o então professor Marcelo evitara referir-se às causas sociais que provocavam a prática, Ricardo Araújo Pereira fazia uma piada ferina: - Vou ao cinema. Olha, está esgotado?! Vou abortar! (a partir dos 0:38) Tratava-se de um excesso ridículo para demonstrar que as causas das coisas não costumam ser assim tão simples. A diferença para o jornalista que escolheu o título acima, é que este último não parece estar a escrever um texto humorístico. Contudo, aquilo que se depreende do título que escolheu para sintetizar o relatório é que, ou a União Europeia acolhe os imigrantes que o desejem, apesar da pandemia, ou então eles podem ir para outro lado fazer a sua vida, no Daesh, por exemplo...
AS ILUSÕES DA ESQUERDA INTELECTUAL
12 de Maio de 1980. Uma das páginas interiores do Diário de Lisboa fazia a promoção a um livro no prelo da ex-primeira-ministra Maria de Lurdes Pintassilgo que se intitularia «Sulcos do nosso querer comum». A descrição do que o comporia, "recortes de várias (catorze) entrevistas" concedidas "enquanto fora primeira-ministra", confere-lhe o estatuto de um daqueles tradicionais manuais de arremesso político, que ninguém está interessado em (re)ler, mas que é importante ter estado presente e ter sido visto na cerimónia do lançamento, de preferência a pedir um autógrafo à autora. Talvez para tornar o livro mais aliciante, a notícia dá grande destaque ao prefácio, assinado por Eduardo Lourenço:
«Original no seu perfil mítico, a nossa Revolução esgotou depressa o cabedal de imaginação que parecia destiná-la a exemplo alheio e redenção própria. Só não esgotou a esperança nem os sonhos acessíveis que pareciam tão próximos das nossas mãos frustradas. Sob a decepção, criada a meias pelos que nos falharam as promessas e os que as estrangularam com paciência e método, a viva memória do que foi um momento de fervor colectivo sem igual permanece intacta. Se nada mais a tivesse caracterizado, a experiência governativa de Maria de Lourdes Pintassilgo bastaria como prova dessa memória activa que só espera, como no verão de Sá Carneiro, o «vento propício» para renascer.»
Foi este último prefácio lírico que me despertou a atenção, uma profissão de esperança de uma certa esquerda intelectual que nunca teria tido ocasião de beijar o poder como o fez não tivessem sido as circunstâncias muito peculiares dos governos de iniciativa presidencial, e que ali o grande pensador Eduardo Lourenço não dava mostras de ter percebido a excepcionalidade. Em 1986 foram a votos: Pintassilgo recolheu 420 mil votos.
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