1 de Maio de 1945. Foi o dia em que a fotografia acima foi tomada. A bandeira soviética é hasteada sobre o edifício do Reichstag e a imagem é considerada a consagração da vitória sobre a Alemanha. Nesse mesmo dia 1 de Maio, a 3 km do Reichstag que aparecia agora enfeitado com a foice e o martelo, Joseph Goebbels, que fora o ministro da Propaganda dessa mesma Alemanha em colapso, e que se tornara no dia anterior chanceler do III Reich por disposição testamentária de Adolf Hitler, fazia-se assassinar a tiro de metralhadora por dois SS emboscados, que haviam recebido ordens expressas para proceder daquele modo. Até neste momento supremo do suicídio, Goebbels foi mais pessoa de induzir outros a fazer, do que a fazê-lo ele próprio. Terá sido coerente até ao fim nessa sua ilusão de que o poder da palavra (e a convicção como essa palavra era transmitida) podia tornar-se infinito. Para Goebbels a imagem que o poder consegue transmitir de si é que é o primordial, e se a propaganda alemã tivesse conseguido persuadir os berlinenses que aqueles senhores de fardas esquisitas, modos bruscos e língua incompreensível, não iriam conseguir chegar a Berlim, e manter-se lá, então a continuação do III Reich ainda teria tido as suas possibilidades... Terá sido um acordar tremendo para o novo chanceler do Reich: aquela bandeira vermelha dependurada mostrava à evidência que a opinião dos berlinenses, dos alemães e a convicção de quem se esforçava por lhes moldar as opiniões se tornara completamente irrelevante mas ele há ocasiões em que descubro que há pessoas que continuam a pensar como Goebbels, não ideologicamente, mas estruturalmente.
E, de uma certa maneira, é assustador quando se pensa nas ocasiões em que é necessário empregar a força bruta para demonstrar (como aconteceu há 75 anos) que, quem assim pensa, nem sempre tem razão...
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