O Festival RTP da Canção de 1970 foi organizado com um certo espírito de desagravo pela classificação obtida no ano anterior pela canção portuguesa no Eurofestival. Ainda hoje se lê num site dedicado aos Festivais RTP da Canção que, naquele ano, A RTP não participou, por sua opção, no Eurofestival. Nesse ano apenas concorreram 12 países. O Festival RTP da Canção realizou-se depois do Eurofestival. Portugal inteiro viveu com intensidade a injustiça feita a Simone de Oliveira no ano anterior e solidarizou-se com a RTP em não participar em 1970. Para quem considerar que a afirmação «a vitória do Zé Maria no Concurso Big Brother resultou da escolha dos portugueses» é um excesso, aqui está uma outra expressão – Portugal inteiro – que é sua precursora longínqua…
As histórias interessantes desses Festivais antigos não se fazem das canções vencedoras, mil vezes repetidas, mas antes das outras, esquecidas. Neste caso do Festival de 1970, realizado a 22 de Maio no Teatro Monumental (na fotografia inicial), apresentado por Carlos Cruz e Maria Fernanda e ganho por um concorrente das ilhas adjacentes (apesar do júri nacional não contemplar nenhum representante dessas ilhas…) de seu nome Sérgio Borges (acima), com uma canção intitulada Onde Vais Rio que Eu Canto contou com alguns momentos castiços, hoje infelizmente esquecidos, três dos quais pretendo aqui recuperar. O primeiro dos quais, até se liga com a grande injustiçada da época transacta, em nome da qual o desagravo boicotante se organizara, Simone de Oliveira.
O intérprete da Canção nº 3 era o estreante Hugo Maia de Loureiro (acima), que levava uma canção bastante complicada de cantar, intitulada Canção de Madrugar, não se tendo saído particularmente bem. De então para cá e, nestes quase 38 anos, vezes demais para o que pareceria conveniente, Simone de Oliveira deu sempre esse exemplo como o de um caso de uma excelente canção que acabou menos bem classificada por ter sido mal defendida, embora costume embrulhar o comentário de um prévio (mas hipócrita) como eu já disse ao meu querido amigo Hugo Maia de Loureiro. Ele lá saberá, mas a amigas queridas destas, suponho que ele deverá preferir as outras, não tão queridas mas menos desbocadas…
Outro estreante naquele Festival, predestinado para ainda mais altos voos, foi Paulo de Carvalho (acima) com uma canção que se apresentou em nono lugar, intitulada Corre Nina. Ao contrário de Hugo Maia de Loureiro, Paulo de Carvalho deverá estar inocente da decisão que arruinou a canção – um final onde Paulo de Carvalho foi obrigado a fazer um falsete medonho… É mesmo preciso procurar meticulosamente – talvez só em Benvindo Mr. Chance (Being There), um filme de Hal Ashby de 1979 – para encontrar um final em que se consiga assassinar com tanta eficácia todo o resto da obra – ali, os créditos finais passam por cima dos out-takes em que Peter Sellers se enganara nas deixas, descredibilizando a personagem que ele passara todo o filme a construir… Em Corre Nina, o equivalente em descrédito foi o tal falsete no final, vindo de nenhures, assustando e indispondo a audiência…
Duas características marcaram a última canção da noite, intitulada Folhas Verdes: a letra e a intérprete, outra estreante, chamada Maria da Glória (acima). No primeiro caso, há um verso repetido com tal frequência (As folhas verdes não caem) que apetece mesmo dizer deixem lá as folhas cair para ver se muda o estribilho… Maria da Glória é uma revelação, tem uma voz grave e marcante e, apesar da frescura da sua juventude, é um daqueles casos em que não é preciso grande imaginação para se antecipar logo ali a mulher potente (vulgo dragão) em que aquela rapariga se virá transformar no futuro... Tinha todo o aspecto de vir a ser o tipo de mulher que ganharia qualquer altercação doméstica por K.O técnico e ao primeiro assalto a qualquer marido…
As histórias interessantes desses Festivais antigos não se fazem das canções vencedoras, mil vezes repetidas, mas antes das outras, esquecidas. Neste caso do Festival de 1970, realizado a 22 de Maio no Teatro Monumental (na fotografia inicial), apresentado por Carlos Cruz e Maria Fernanda e ganho por um concorrente das ilhas adjacentes (apesar do júri nacional não contemplar nenhum representante dessas ilhas…) de seu nome Sérgio Borges (acima), com uma canção intitulada Onde Vais Rio que Eu Canto contou com alguns momentos castiços, hoje infelizmente esquecidos, três dos quais pretendo aqui recuperar. O primeiro dos quais, até se liga com a grande injustiçada da época transacta, em nome da qual o desagravo boicotante se organizara, Simone de Oliveira.
O intérprete da Canção nº 3 era o estreante Hugo Maia de Loureiro (acima), que levava uma canção bastante complicada de cantar, intitulada Canção de Madrugar, não se tendo saído particularmente bem. De então para cá e, nestes quase 38 anos, vezes demais para o que pareceria conveniente, Simone de Oliveira deu sempre esse exemplo como o de um caso de uma excelente canção que acabou menos bem classificada por ter sido mal defendida, embora costume embrulhar o comentário de um prévio (mas hipócrita) como eu já disse ao meu querido amigo Hugo Maia de Loureiro. Ele lá saberá, mas a amigas queridas destas, suponho que ele deverá preferir as outras, não tão queridas mas menos desbocadas…
Outro estreante naquele Festival, predestinado para ainda mais altos voos, foi Paulo de Carvalho (acima) com uma canção que se apresentou em nono lugar, intitulada Corre Nina. Ao contrário de Hugo Maia de Loureiro, Paulo de Carvalho deverá estar inocente da decisão que arruinou a canção – um final onde Paulo de Carvalho foi obrigado a fazer um falsete medonho… É mesmo preciso procurar meticulosamente – talvez só em Benvindo Mr. Chance (Being There), um filme de Hal Ashby de 1979 – para encontrar um final em que se consiga assassinar com tanta eficácia todo o resto da obra – ali, os créditos finais passam por cima dos out-takes em que Peter Sellers se enganara nas deixas, descredibilizando a personagem que ele passara todo o filme a construir… Em Corre Nina, o equivalente em descrédito foi o tal falsete no final, vindo de nenhures, assustando e indispondo a audiência…
Duas características marcaram a última canção da noite, intitulada Folhas Verdes: a letra e a intérprete, outra estreante, chamada Maria da Glória (acima). No primeiro caso, há um verso repetido com tal frequência (As folhas verdes não caem) que apetece mesmo dizer deixem lá as folhas cair para ver se muda o estribilho… Maria da Glória é uma revelação, tem uma voz grave e marcante e, apesar da frescura da sua juventude, é um daqueles casos em que não é preciso grande imaginação para se antecipar logo ali a mulher potente (vulgo dragão) em que aquela rapariga se virá transformar no futuro... Tinha todo o aspecto de vir a ser o tipo de mulher que ganharia qualquer altercação doméstica por K.O técnico e ao primeiro assalto a qualquer marido…
Não creio que a antiga Europa tivesse dado pelo nosso boicote, assim como a URRS não terá sentido a nossa falta nos Jogos Olimpicos de 1980.
ResponderEliminarNão me lembro de outros boicotes. Antes me lembrasse como, por exemplo, à guerra do Iraque.
Consigo estabelecer um fio condutor em tudo isto, mas se calhar o "defeito" é meu.
Cumpts
Não houve boicote português aos JO de 1980, meu caro JRD. Como atitude de protesto pela invasão do Afeganistão, a delegação portuguesa (como a da maioria dos países da Europa Ocidental - Reino Unido, França, Itália, Holanda, Espanha, Bélgica,...) apresentou-se sob a bandeira olímpica e teria sido o hino olímpico a ser tocado em caso de cerimónia protocolar.
ResponderEliminarConcedo que "boicote" é uma conclusão excessiva, o termo mais correcto será participação sob protesto.
ResponderEliminarA guerra fria já lá vai há muito, a actual é morna e as invasões são outras.
Vendo bem, onde as cantigas nos podem levar, salvo seja, até havia uma que (nos) dizia "levados, levados, sim...
Peço desculpa pela especulação. O defeito é mesmo meu.
Continuo a lê-lo com muito interesse e a aprender.
Cumpts.
Muito obrigado pelo interesse demonstrado. Perdoar-me-á o caos dos temas, mas a vantagem dos blogues é a da liberdade de escrever sobre o que apetece à inspiração...
ResponderEliminarCumprimentos
lololol
ResponderEliminarAh... adorei o artigo, mas devo dizer-te três coisas:
- primeira, adoro a Canção de Madrugar, é lindíssima, tem um poema que acho um belo poema de amor, mas é muito difícil de cantar, não sei teria sido a melhor escolha para o Hugo Maia de Loureiro... Ele era muito inexperiente, na verdade. Já ouvi cantada por outros cantores, e é realmente uma das mais belas canções que conheço. Agora, concordo contigo, com amigas destas, quem precisa de inimigas? ;)
- segunda - Independentemente do horrível falsete do final da acanção Corre Nina, ele foi uma lufada de ar fresco e o Paulo de Carvalhao foi e é uma das nossas melhores vozes, não? Eu continuo a gostar de Corre nina, de Flor sem Tempo, de Lisboa Menina e Moça... Enfim, só para exemplificar. Tive pena de não ter visto ontem o espectáculo dele na Casa da Música.
- terceira - em relação à Maria da Glória, francamente, nunca me lembrei dela!! Mas concordo em absoluto contigo ;)
lolol
Eu não queria estar perto quando ela tivesse um ataque de fúria :P
A história do boicote foi uma patetice... Na eurovisão devem ter ficado muito preocupados...
Beijinhos :))
(podes continuar)
;)
Cristina Loureiro dos Santos)
Continuarei, mas apenas a um ritmo proporcional ao de certas pessoas que, desapontadoramente, parecem não apreciar a boa investigação histórica...
ResponderEliminar:)
Essa historia do boicote está mal explicada. Acontece que vários países como Portugal ou a Finlândia levaram belas canções mas foram prejudicados com o sistema de notação e exigiram outro. Graças ao boicote de 1970, no ano seguinte o sistema de votação mudou radicalmente, dos 12 paises de 1970 passou-se a 18 e a representante de Portugal, Tonicha com a sua menina conseguiu um 9° lugar, a melhor colocação de sempre até então. Por isso quem zomba do boicote de 1970 apenas está sendo ignorante e desinformado.
ResponderEliminarEntão, se "está mal explicada", explique-a melhor, à história do boicote. É que afinal já passaram quase cinquenta anos, até mesmo os segredos de Estado acabam por se saber passado tanto tempo. E este não deve ser sequer um segredo desses: quem é que pressionou quem e em que circunstâncias para que as classificações das canções portuguesas (e outras) melhorassem a partir daí. Mostre-nos lá então como não "está sendo ignorante e desinformado"...
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