01 fevereiro 2008

CORRIDA ESPACIAL (O Marketing Capitalista e a Informação e Propaganda Socialista)

Mesmo sendo um curioso pelo assunto, só depois de 1989 é que pude reparar como as fotografias normalmente publicadas das naves espaciais habitadas soviéticas, como era o caso da Vostok (acima) eram apresentadas para que os leigos ficassem com uma falsa impressão das suas dimensões e, consequentemente, da sua segurança.
Compare-se a primeira fotografia com este segundo diagrama acima, comparando até a dimensão da nave com a do seu tripulante, a ideia da sua fragilidade, e conclua-se pelo cuidado estético como os sucessos do socialismo eram transmitidos para o exterior, o que não invalida que o socialismo estivesse, naquele campo científico, nitidamente em vantagem na altura.
Para concluir isso, basta comparar no diagrama de cima a nave Vostok (à esquerda), com a sua rival norte-americana dessa época, logo ao seu lado direito, a Mercury, impressionantemente ainda mais pequena e frágil. Só que os norte-americanos ameaçavam recuperar o atraso com o lançamento do programa Gemini (a nave que aparece no lado direito e imediatamente abaixo)…
As naves Gemini destinar-se-iam a dois tripulantes, muito embora a União Soviética estivesse a desenvolver um programa concorrente (Soyuz), concebido para ser muito mais avançado. Quarenta anos depois do seu início, o programa contínua e as naves russas utilizadas actualmente são evoluções directas desse programa…
Mas a Corrida Espacial tinha uma outra lógica, diferente da dos ritmos naturais da investigação técnica. Corria a história* que Nikita Krushchev (acima), o líder soviético daquela época, ao ter conhecimento do programa dos norte-americanos, terá tido uma conversa com o chefe do programa espacial soviético, Sergei Korolev (abaixo).

- Como sabe, camarada, os americanos preparam-se para pôr uma nave com dois homens no espaço. Antes que eles mandem dois, nós temos que mandar três… O resultado desta directiva foi uma gigantesca improvisação (impossível de acontecer entre os rivais, onde predominavam ainda os cérebros alemães**…), designada por programa Voshkod
A proeza consistiu em fazer caber três no espaço que fora destinado a um. Como se pode ver no diagrama acima, houve que mudar a disposição dos tripulantes (mas não a do painel de instrumentos que passou a ficar ao lado - a 90º - de um dos cosmonautas…) e, para caberem, estes tiveram que viajar sem fatos espaciais*** (era outra vitória da tecnologia soviética…).
Os dois únicos voos da Voshkod foram as últimas grandes demonstrações do pioneirismo soviético no espaço: num caso, foi a primeira nave com três tripulantes; noutro, foi o primeiro passeio no espaço de um cosmonauta (acima) – para isso, houve que reduzir a tripulação para dois para que os tripulantes envergassem os indispensáveis fatos espaciais…
Mas, para não nos esquecermos do que estava em jogo, compare-se uma das fotografias genuínas desse passeio, com a devidamente retocada, onde se pode ler claramente o CCCP**** identificativo no capacete. Foi um jogo onde não havia inocentes: compare-se em baixo a dimensão do verdadeiro habitáculo da Gemini em relação ao conjunto da nave…

* Provavelmente será factualmente falsa, mas corresponde integralmente ao espírito da época.
** A começar pelo homólogo de Korolev, Werner von Braun.
*** A maior parte dos sistemas de segurança da Vostok não podiam estar instalados na Voshkod. A hipótese de que, na dúvida, o cosmonauta pudesse abandonar a nave na reentrada e acabasse o voo num salto de para-quedas (como acontecera com Gagarin) tornava-se impossível.
**** Iniciais em alfabeto cirílico de URSS.

2 comentários:

  1. ... Yuri Gagarin tinha 1m55 de altura e pesava menos de 60 kgs quando voou.

    De notar que, dos três tripulantes da Voshkod, nenhum tinha mais que 1.65 m e 65 kgs.

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  2. É natural: uma das claúsulas do processo de selecção dos primeiros cosmonautas soviéticos era a altura (inferior a 170 cm) e o peso (inferior a 70 kg).

    Em contrapartida, entre os norte-americanos contavam-se astronautas com 179 cm (John Glenn) ou mais (Walter Schirra).

    Outra curiosidade quanto às diferenças quanto ao perfil dos seleccionados nos dois programas rivais, reflectia-se na idade média dos seleccionados: os 7 escolhidos finais nos USA eram, em média, 8,5 anos mais velhos do que os 6 da URSS...

    Veja-se em http://www.astronautix.com/astros/gagarin.htm

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