Cada sociedade tem uma forma distinta de lidar com as condecorações. Entre os britânicos, por exemplo, foi sempre de bom-tom, pelo menos entre as suas elites, menosprezar a sua posse quando em conversa social mas, por outro lado, num cartão de visita ainda hoje é normal adicionar-se ao nome e aos graus académicos e profissionais, as condecorações possuídas, mencionadas por um código de abreviaturas, que qualquer britânico culto sabe decifrar. Em baixo podemos ver a fotografia do Marechal britânico Sir John French (1852-1925), GCB, OM, GCVO e KCMG e outras coisas mais…
No outro extremo da Europa, os russos também sempre deram um valor desmesurado às condecorações embora o façam de uma forma menos hipócrita. Sobretudo, mais do que o seu valor simbólico, também na sociedade russa se deu sempre valor à própria condecoração como ornamento e não era incomum vê-las a ser usadas em trajes de passeio. Num militar de alta patente, que tradicionalmente em qualquer exército do mundo é alguém com muitas condecorações, essa propensão russa levava a alguns exageros como vemos abaixo no General Alexis Brusilov (1853-1926), onde quase não se vê a farda…
Na nova sociedade soviética de 1917 que desvalorizava, por razões ideológicas, as recompensas monetárias, as condecorações tornaram-se no seu equivalente, e aplicavam-se a situações tanto militares como civis, mas numa escala que não tinha precedentes. Em consequência da Segunda Guerra Mundial, houve quase 15 milhões de condecorados com a Medalha da Vitória Sobre a Alemanha (militar) e 16 milhões com a do Trabalho Heróico Durante a Grande Guerra Patriótica (civil). Em média, cerca de 10% dos 170 milhões de cidadãos soviéticos receberam uma medalha ou outra…
Mas claro que havia as outras condecorações, mais clássicas, a principal das quais era a Ordem de Lenine (acima). Essas eram distribuídas naturalmente com muito mais contenção. Mesmo assim, olhando para a fotografia de um General soviético da Segunda Guerra Mundial devidamente ornamentado (Pavel Batov, 1897-1985), ele parece ainda mais couraçado do que o seu homólogo da Guerra precedente. Os padrões são diferentes dos ocidentais: Batov (abaixo) foi um dos grandes generais daquela Guerra (apesar de ser praticamente desconhecido no Ocidente) recebeu por oito vezes a Ordem de Lenine…
Mas, ao contrário do que se poderia esperar, o recorde de Ordens de Lenine atribuídas a uma só pessoa, não pertence a Batov, nem a nenhum dos grandes Marechais da União Soviética que se houvessem distinguido na Segunda Guerra Mundial como Zhukov (4), Koniev (2), Rokossovsky (3), Vasilevsky (8) ou Malinovsky (5). O feito pertence a Dmitriy Ustinov (abaixo), que teve uma carreira de sucesso como administrador de programas sensíveis (como o programa espacial), tendo chegado a Ministro da Defesa da União Soviética de 1976 a 1984 (a sua morte) e que foi distinguido com a máxima condecoração soviética por 11 vezes!
Cada época é livre de escolher e galardoar os seus heróis, mas suponho que também há que saber manter a proporção dos feitos… Pode ser a partir destes pormenores que se consegue compreender melhor, em retrospectiva, que espécie de evolução degenerativa estava a afectar o regime soviético, que acabou por levar ao seu desmoronamento… Tipicamente, Brejnev condecorou-se (em 1978!) com a Ordem da Vitória, uma condecoração extremamente rara e selecta atribuida politicamente apenas aos representantes dos vencedores da Segunda Guerra Mundial... Em 1989, quando Gorbachev revogou a ridícula decisão, já era tarde...
Na nova sociedade soviética de 1917 que desvalorizava, por razões ideológicas, as recompensas monetárias, as condecorações tornaram-se no seu equivalente, e aplicavam-se a situações tanto militares como civis, mas numa escala que não tinha precedentes. Em consequência da Segunda Guerra Mundial, houve quase 15 milhões de condecorados com a Medalha da Vitória Sobre a Alemanha (militar) e 16 milhões com a do Trabalho Heróico Durante a Grande Guerra Patriótica (civil). Em média, cerca de 10% dos 170 milhões de cidadãos soviéticos receberam uma medalha ou outra…
Mas claro que havia as outras condecorações, mais clássicas, a principal das quais era a Ordem de Lenine (acima). Essas eram distribuídas naturalmente com muito mais contenção. Mesmo assim, olhando para a fotografia de um General soviético da Segunda Guerra Mundial devidamente ornamentado (Pavel Batov, 1897-1985), ele parece ainda mais couraçado do que o seu homólogo da Guerra precedente. Os padrões são diferentes dos ocidentais: Batov (abaixo) foi um dos grandes generais daquela Guerra (apesar de ser praticamente desconhecido no Ocidente) recebeu por oito vezes a Ordem de Lenine…
Mas, ao contrário do que se poderia esperar, o recorde de Ordens de Lenine atribuídas a uma só pessoa, não pertence a Batov, nem a nenhum dos grandes Marechais da União Soviética que se houvessem distinguido na Segunda Guerra Mundial como Zhukov (4), Koniev (2), Rokossovsky (3), Vasilevsky (8) ou Malinovsky (5). O feito pertence a Dmitriy Ustinov (abaixo), que teve uma carreira de sucesso como administrador de programas sensíveis (como o programa espacial), tendo chegado a Ministro da Defesa da União Soviética de 1976 a 1984 (a sua morte) e que foi distinguido com a máxima condecoração soviética por 11 vezes!
Cada época é livre de escolher e galardoar os seus heróis, mas suponho que também há que saber manter a proporção dos feitos… Pode ser a partir destes pormenores que se consegue compreender melhor, em retrospectiva, que espécie de evolução degenerativa estava a afectar o regime soviético, que acabou por levar ao seu desmoronamento… Tipicamente, Brejnev condecorou-se (em 1978!) com a Ordem da Vitória, uma condecoração extremamente rara e selecta atribuida politicamente apenas aos representantes dos vencedores da Segunda Guerra Mundial... Em 1989, quando Gorbachev revogou a ridícula decisão, já era tarde...
Não vejo o caso soviético como reprovável.
ResponderEliminarCom o peso da idade seria apenas uma "ajuda" para obrigar o condecorado a não engordar: ou fazia exercício para aguentar o peso ou morria debaixo dele. Com a tendência estalinista para fazer desaparecer os sujeitos "incómodos", esta solução até nem era das mais cruéis!
Deve ser por isso que não encontrei nenhuma daquelas tradicionais fotografias oficiais de Ustinov com as respectivas medalhas.
ResponderEliminarComo era um gestor depois transformado em Marechal, não devia ter a preparação física para tanto peso...
Ainda a tempo.
ResponderEliminarAs lojas de antiguidades de Tallin devem ter amontoadas "mais de metade" destas condecorações todas.
Talvez daqui a uns tempos possamos vir a encontar algures por aquí, algumas das do nosso 10 de junho, passadas a pataco.
Está sempre a tempo, JRD.
ResponderEliminarPenso que em todas as capitais dos países da Europa de Leste se encontram lojas de antiguidades com medalhas soviéticas, normalmente daquelas que foram distribuídas aos milhões, que eu acho que é um delicioso souvenir genuinamente soviético - veja-se a fotografia do blogue Água Lisa.
Depois há aquele mundo muito mais selecto dos verdadeiros coleccionadores de condecorações: ficaria surpreendido quanto lhe podem pedir por uma Ordem de Lenine ou por uma Cruz de Guerra portuguesa do período da Guerra Colonial...
Acredito, mas o que vi em Tallin excedeu todas as expectativas.
ResponderEliminarQunto ao valor das condecorações que refere, nem me atrevo a imaginar.