24 fevereiro 2008

A CONFISSÃO DE PHILIPPE LECLERC

Já aqui tive oportunidade de me referir num poste anterior a Philippe Leclerc de Hautcloque (1902-1947), um general francês que se distinguiu durante a Segunda Guerra Mundial. Reza a história (ou talvez a lenda) que numa determinada ocasião, ainda no princípio da década de 1930, quando Philippe de Hautecloque ainda não adquirira o seu pseudónimo de guerra (Leclerc) e era apenas um jovem oficial subalterno de cavalaria, quando comandava o seu esquadrão a cavalo nuns exercícios nocturnos de orientação, o seu adjunto lhe observou como o esquadrão montado que ele comandava estava a caminhar directamente para um campo de obstáculos, cheio de arame farpado.
A história continua, atribuindo a Leclerc uma resposta seca e desagradável à observação; uma outra tentativa de aviso foi igualmente repelida, até que, de repente, os elementos da frente do esquadrão, que seguia em trote rápido, se viram emaranhados numa confusão de arame farpado rasteiro, seguido da inevitável confusão de cavalos que relinchavam e escoiceavam ao contacto com os picos do arame, seguido das pragas dos cavaleiros desmontados ao ferirem-se por sua vez… Enfim, uma verdadeira bagunçada geral! Lá da frente, ainda mais emaranhado que os outros, do meio do escuro, ouviu-se a voz do capitão: - Estou no meio do arame farpado. Levem o esquadrão para as estrebarias e esperem por mim sem desmontar.
Dez minutos passados depois da chegada geral é a vez de de Hautecloque aparecer nas estrebarias, a cavalo e a passo: - Meus Senhores, quando se faz uma asneira imperdoável, nunca se deve ter receio de a confessar. Acabo de cometer uma diante de todos. Desmontar… Depois de ter deixado passar aquilo que considerei um razoável número de dias pela clarificação da questão das identidades múltiplas do autor do blogue Câmara Corporativa (como prometia um dos intervenientes), parece-me possível constatar que o assunto, outrora tão sério, implodiu tão depressa quanto havia explodido. Afinal, julgo que até teria sido bem simples sustentar as acusações com dois, três nomes, contrariando quem afirma o contrário
Aos autores de todas aquelas acusações que faziam do blogue acima referido uma espécie de central de desinformação governamental na blogosfera, escrito por vários assessores que se escondiam debaixo de um mesmo pseudónimo, e que afinal se supõe que obtinham essas certezas da mesma forma que o famoso anúncio do Pilhão (era um primo que tinha um amigo que falara com um senhor que certa vez pensava que havia avistado um…), o que esta história apócrifa de Philippe de Hautecloque pretende recordar é que é sempre possível sair-se das situações mais embaraçosas com categoria. Tem é que se ter categoria. Ou não reconhecer o embaraço da situação, o que vem dar ao mesmo...

4 comentários:

  1. Excelente a analogia.
    Só que nem toda a gente teve lições de equitação, alguns até montam ao contrário...

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  2. Mais uma vez fiquei completamente siderada com as analogias, (parafraseando jrd) que tu vais desencantar apenas para dizer que há por aí uns quantos tipos que não têm nível nenhum nem assumem com hombridade o que dizem.
    Parabéns. Fico completamente deleitada com os teus postes pois quando os começo a ler, geralmente não faço a mais pequena ideia onde irás parar mas, normalmente vais longe. E, assim como assim, no emtretanto vou aprendendo umas curiosidades, geralmente no âmbito da história, que muito me agradam.

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  3. Claro que queria dizer entretanto.

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  4. Regozijo-me e agradeço-vos os vossos comentários elogiosos.

    Enquanto for sobrando alguma imaginação para associar quase tudo com quase tudo...

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