22 fevereiro 2008

OS PRINCÍPIOS DE GUILHERME OLIVEIRA MARTINS

O chumbo que o Tribunal de Contas aplicou ao pedido de empréstimo da Câmara Municipal de Lisboa é um daqueles acontecimentos políticos que são interessantes mas que a comunicação social não consegue tornar populares. Sendo a fractura entre jogadores do mesmo clube e sóbrios no seu discurso, não há na divergência nada que interesse às massas e dê audiências: nem dali se espreme um tabu... Mas não se subestime a capacidade de influência dos blocos que cada um representa: se ontem, António Costa apareceu na RTP a dizer de sua justiça para, nem passado um par de horas, Guilherme Oliveira Martins apresentou a sua versão na SIC Notícias.

Não me sinto qualificado para me pronunciar sobre a causa que ali os levou, nem é esse o propósito deste poste. Desde o princípio que discordei (e mantenho essa opinião) quanto à nomeação de Guilherme Oliveira Martins para o cargo que agora ocupa. Ontem, ao ouvi-lo discursar sobre os princípios subjacentes à decisão do Tribunal a que preside, mesmo que aquilo contrariasse fosse quem fosse, lembrei-me da questão nunca respondida (também é possível que nunca lha tenham colocado…) dos princípios que nortearam a sua decisão de aceitar a pasta das Finanças naquela fase do estertor final dos governos de António Guterres…

Não parece previsível que Guilherme Oliveira Martins se venha a candidatar futuramente a cargos públicos que o levem a ficar sob a pressão de ter de prestar contas públicas sobre essas suas decisões do passado. Mas que não fiquem dúvidas como, sem que tenha havido qualquer explicação do próprio, ainda hoje não consigo compreender uma decisão que acabou por contribuir para o adiar penoso do colapso do governo que, visto do lugar que ocupava, se anunciaria mais que inevitável. Sabendo apenas o que se sabe, nem que o recusasse por cima das sussurradas razões de amizade por Guterres, verdadeiramente por questões (aí sim!) de princípio…

De Setembro de 2001 a Dezembro de 2004, Portugal deve ter atravessado um dos períodos politicamente mais deprimentes da sua História recente. Para além daquelas figuras que estiveram em primeiro plano de responsabilidades durante aquele ciclo (António Guterres, Durão Barroso, Pedro Santana Lopes e o omnipresente apelante Jorge Sampaio) convém não esquecer as responsabilidades daqueles que foram então os figurantes de segundo plano, como é o caso de Guilherme Oliveira Martins... Resta-me reafirmar que, nesta disputa, tudo o que disse não é sinónimo de simpatia pela posição de António Costa…

1 comentário:

  1. Será que a dimesão do intervalo entre os dedos determina a dos princípios. Convenhamos que é curta.
    Digo eu, que apenas me sinto credor da CML do ponto de vista moral.

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