Subitamente, parece que houve uma espécie de concentração no aparecimento de variados artigos de opinião, descrevendo como os Estados Unidos parecem haver definitivamente atingido o estágio final do ciclo kennedyano das potências, o da sua decadência. O Kennedy em questão, não é da família que estão a pensar, chama-se Paul, é um académico britânico especializado em Relações Internacionais e Grande Estratégia e escreveu há cerca de 20 anos* um livro que lhe trouxe a fama e, suponho, também proveito: chama-se a Ascensão e Queda das Grandes Potências.
Passe a simplificação necessária quando se faz uma síntese compacta, pela descrição do livro, todas as grandes potências estão destinadas a passar por um ciclo de crescimento e declínio, e este último ocorre quando o crescimento do poder e dos interesses de que a potência tem de cuidar vêm a ultrapassar os recursos de que ela pode dispor. Claro que nos exemplos históricos escolhidos por Paul Kennedy tudo isso acontece de uma forma gradual mas progressiva, mas o encadeamento do ciclo parece inevitável e, como no passado, conclui-se que as relações de poder entre as grandes potências tenderão a mudar no futuro.
Para a actualidade, a aceitação daquela tese implica que a decadência dos Estados Unidos será uma certeza, a questão é o ritmo a que ela se processará e quais serão os seus substitutos de entre as novas potências emergentes. Como curiosidade, refira-se que, forte na doutrina e na capacidade de análise, Paul Kennedy se revelou muito mais frágil na capacidade de antecipação: a pentarquia em que organizou o que considerava serem os pólos de poder para o futuro (Estados Unidos, União Soviética, China, Japão e a CEE), deixou de fora a Índia e outras economias emergentes, o que é incompreensível, visto pela realidade actual…
De facto, as opiniões pela insustentabilidade financeira dos Estados Unidos face ao exterior, em consequência da política desenvolvida pela Administração Bush não são nenhuma novidade. Pelo menos durante o último quinquénio, os Estados Unidos têm pedido emprestado ao estrangeiro cerca de 5 a 6% dos recursos financeiros de que têm precisado e, durante esse período, foram imensos os alertas quanto à impossibilidade de que aquela situação se eternizasse. À delicadeza económica da situação adiciona-se a delicadeza estratégica: o maior credor dos Estados Unidos deverá ser a China, também o seu maior rival.
O autismo com que a Administração norte-americana tem encarado todos esses alertas culminou ainda ontem com a apresentação do orçamento ao Congresso (é o último que apresentará…) para o ano fiscal de 2008-9 que é estruturalmente, muito idêntico ao que foram os anteriores – um aumento nas despesas militares e um aumento na despesa global. Não sendo do lado dos decisores políticos norte-americanos que se corrige, o equilíbrio global em que se vive actualmente parece ser demasiado instável para que não se excluam quaisquer hipóteses que ele se possa vir a romper por um outro lado qualquer…
Passe a simplificação necessária quando se faz uma síntese compacta, pela descrição do livro, todas as grandes potências estão destinadas a passar por um ciclo de crescimento e declínio, e este último ocorre quando o crescimento do poder e dos interesses de que a potência tem de cuidar vêm a ultrapassar os recursos de que ela pode dispor. Claro que nos exemplos históricos escolhidos por Paul Kennedy tudo isso acontece de uma forma gradual mas progressiva, mas o encadeamento do ciclo parece inevitável e, como no passado, conclui-se que as relações de poder entre as grandes potências tenderão a mudar no futuro.
Para a actualidade, a aceitação daquela tese implica que a decadência dos Estados Unidos será uma certeza, a questão é o ritmo a que ela se processará e quais serão os seus substitutos de entre as novas potências emergentes. Como curiosidade, refira-se que, forte na doutrina e na capacidade de análise, Paul Kennedy se revelou muito mais frágil na capacidade de antecipação: a pentarquia em que organizou o que considerava serem os pólos de poder para o futuro (Estados Unidos, União Soviética, China, Japão e a CEE), deixou de fora a Índia e outras economias emergentes, o que é incompreensível, visto pela realidade actual…
De facto, as opiniões pela insustentabilidade financeira dos Estados Unidos face ao exterior, em consequência da política desenvolvida pela Administração Bush não são nenhuma novidade. Pelo menos durante o último quinquénio, os Estados Unidos têm pedido emprestado ao estrangeiro cerca de 5 a 6% dos recursos financeiros de que têm precisado e, durante esse período, foram imensos os alertas quanto à impossibilidade de que aquela situação se eternizasse. À delicadeza económica da situação adiciona-se a delicadeza estratégica: o maior credor dos Estados Unidos deverá ser a China, também o seu maior rival.
O autismo com que a Administração norte-americana tem encarado todos esses alertas culminou ainda ontem com a apresentação do orçamento ao Congresso (é o último que apresentará…) para o ano fiscal de 2008-9 que é estruturalmente, muito idêntico ao que foram os anteriores – um aumento nas despesas militares e um aumento na despesa global. Não sendo do lado dos decisores políticos norte-americanos que se corrige, o equilíbrio global em que se vive actualmente parece ser demasiado instável para que não se excluam quaisquer hipóteses que ele se possa vir a romper por um outro lado qualquer…
Uma dessas hipóteses, que foi abordada num artigo da revista Atlantic (A Questão dos 1,4 biliões**), poderá ser a própria China, cujo governo até agora tem obrigado a sua população, por causa da estabilidade dos fluxos do comércio externo (veja-se abaixo), a manter uma atitude de aforrador perante o despesismo descontrolado norte-americano. Assim, segundo o artigo, os dirigentes chineses poderiam dispor-se a começar a utilizar uma parte do seu tesouro acumulado de 1,4 biliões de dólares, explorando as potencialidades do seu mercado interno e melhorando o nível de vida da sua população em detrimento do do Estados Unidos.
Em contrapartida, um artigo do Monde Diplomatique, Porque é que os Estados Unidos foram realmente à falência, atribui ao peso desmesurado das despesas militares no orçamento norte-americano, a causa do descrédito em que vive a sua economia, outro sintoma de uma grande potência em declínio. Tem bastante impacto um quadro desse artigo onde se demonstra que os Estados Unidos estão a ser os responsáveis por mais de metade das despesas militares do Mundo… Quando se conclui, conjugando com o artigo anterior, que essas despesas apenas se suportam por causa dos empréstimos chineses então algo vai mal no Império Americano…
Enquanto se assiste à enorme animação que cerca a próxima disputa presidencial, imagina-se quão difícil será a tarefa futura de quem vier a sair vencedor daquelas eleições. Os Estados Unidos parecem aproximar-se de grandes mudanças, e pelas decisões que se adiaram durante o ciclo da Administração Bush, ter-se-ão que vir a fazer sacrifícios, onde quem estiver a dirigir o país terá, muito provavelmente, de transmitir à população mensagens que a esta não lhe agradará ouvir. Há reestruturações que vingam, mas também é frequente que falhem, e são essas perspectivas sombrias que se defrontam a qualquer dos candidatos… * Antes do fim da Guerra-fria, portanto.
** Triliões no original, segundo a nomenclatura norte-americana.
É um mal que não atinge apenas as nações poderosas.
ResponderEliminarEu próprio já estou a sentir o declínio da grande potência...