04 fevereiro 2008

A ÉTICA CORPORATIVA

É particularmente interessante o episódio, apesar de antigo de 10 anos, que é contado no seu blogue por Francisco José Viegas, quando ele teve oportunidade de entrevistar o jornalista José António Cerejo (abaixo) e o confrontou com uma pergunta de teor muito semelhante ao do tipo de jornalismo de investigação em que ele se notabilizou: – Tem os seus impostos em dia? A resposta em forma de defesa de José António Cerejo, tal qual foi percebida e foi sintetizada por Francisco José Viegas, parece constituir toda uma interessante mas controversa postura ética: – Mas eu não sou um político.
Pelos vistos, interpretando aquela sua resposta, até pode parecer que haverá uma ética para cada corporação… Ou, então, na opinião do entrevistado, o desrespeito pela ética terá uma relevância jornalística diferente conforme a profissão que se exerce… Ou ainda, ele consideraria despropositado ou pouco solidário que fosse questionada a coerência de um jornalista que, como Francisco José Viegas esclarece no mesmo poste, naquela época investigava (e divulgava) as irregularidades da situação fiscal de um político de nomeada (António Vitorino).
Talvez José António Cerejo possa ter tido uma sensação parecida à de um utilizador de binóculos, quando alguém lhe prega a partida de aproveitar as lentes de fora para lhe espreitar para os olhinhos lá ao fundo e não tenha gostado de se sentir assim observado… Ninguém costuma gostar de se submeter às regras da própria corporação: é muito comum que um médico seja um mau paciente ou que um piloto deteste viajar como passageiro… Mas, como acontece no futebol, às vezes a bola pode ressaltar no árbitro que não está em campo para jogar, mas que faz parte do jogo. A situação fiscal de um jornalista também pode ser notícia...

3 comentários:

  1. Desculpe,venerável Herdeiro, mas as palavras de Cerejo apenas traduzem aquilo que todos sentimos e que é uma extrema desconfiança no que toca à seriedade dos políticos.
    Ou seja, Cerejo apenas terá querido dizer:
    "Claro que tenho os impostos em dia! Ou julga que sou político?!!"

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  2. Levando o seu comentário para o lado sério, desculpe, venerável Carteiro, mas se "aquilo que todos sentimos" fosse uma genuína "extrema desconfiança" "no que toca à seriedade dos políticos", então o comportamento dos políticos - que saem do nosso meio - teria de ser completamente diferente...

    Porque, colectivamente, tendemos a hostilizar, e por atitudes, aquilo de que desconfiamos da seriedade - veja-se, por exemplo, o caso dos ciganos...

    Nem o desgraçado do Ricardo Quaresma escapa...

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  3. O problema é que a alternativa é não votar.
    Em geral (se não somos bruxos) só nos apercebemos da (má) qualidade dos políticos quando já nada podemos fazer, uma vez que eles já "lá" estão, no poleiro, com o nosso voto.

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