O império colonial português foi sempre representado pela propaganda do Estado Novo predominantemente pelas suas características geográficas físicas, em detrimento das características humanas. Estas tinham o interesse do exotismo da multirracialidade mas nada mais. A reforma constitucional de 1951, suprimindo o acto colonial, nada conseguiu fazer para mudar essa percepção. Típico daquela perspectiva, Angola aparecia considerada sempre como a maior colónia (depois província ultramarina...) portuguesa, quando isso só era verdadeiro em área geográfica, porque a população moçambicana sempre foi superior à angolana. Populacionalmente, Moçambique era maior do que Angola. Típico disso também, mas agora mais consequente do ponto de vista político, é a letra do hino Angola é nossa, aparecido em consequência da insurreição nacionalista angolana de 1961. É um sentimento de posse que não leva em linha de conta os angolanos. Na propaganda, Portugal podia ser do Minho a Timor, mas o Minho e Timor não eram realidades da mesma natureza.
Apesar das doses de propaganda, havia um pensamento corrente, claro e circunscrito do que se considerava Portugal. Típico ainda de como esse era o pensamento prevalecente entre o português comum, mesmo já durante o período das guerras em África, um júri nacional - no caso retratado acima é o do Festival RTP da canção de 1972 - aparecia composto por representantes dos distritos da metrópole, quiçá pelos das ilhas adjacentes, mas naturalmente sem a presença dos das províncias ultramarinas. É neste ambiente que, influência de um marcelismo que quereria mudar essa percepção (em 1972 elevara-se Moçambique e Angola à categoria de Estados), a mesma RTP passou a emitir em 1973 um programa de variedades intitulado Vinte e cinco milhões de portugueses (abaixo). Percebia-se a ideia: depois das misses*, era (mais) um espectáculo de variedades exibindo um modelo mais eclético, modernizado, do Portugal pluricontinental. Mas o título, bem intencionado de agregador de uma realidade nacional que afinal tinha 22 anos, acabava por causar desconforto em quem tivesse conhecimentos mínimos de geografia humana: os metropolitanos e os insulares haviam-se tornado numa minoria entre esses tais 25 milhões...
* Concorrentes de Angola (1971) e de Moçambique (1972) haviam ganho os concursos de Miss Portugal em espectáculos também transmitidos pela RTP e que tiveram uma grande repercussão social.
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