Apesar do frenesim mediático que as acompanha e que, da génese local, se impõe depois ao resto do Mundo, as eleições presidenciais norte-americanas raramente são cerradamente disputadas. O sistema eleitoral, compartimentando as disputas ao nível de cada um dos cinquenta estados e fazendo com que o vencedor o seja em absoluto (i.e., sem consideração pela representação da minoria), permitiu antecipar na grande maioria das vezes como seria o desfecho das eleições. A maioria dos estados têm um voto tradicional: o mapa acima mostra como votaram os estados nas últimas dez eleições presidenciais, desde 1976. Na legenda, a variação vai desde o vermelho mais claro da extrema direita, representando os estados onde o candidato republicano venceu em todas as eleições deste 1976, até à extrema esquerda em azul mais claro, os estados do Minnesota e a capital, Washington D.C., onde o mesmo aconteceu pelo lado dos democratas - 10 vitórias dos candidatos democratas. Os estados mais escuros são os mais indecisos, mas uma apreciável parte deles não mudam - ou raramente mudam - de opinião. Mas, além de firmes, quando de cada eleição, as opiniões exprimem-se maciçamente. Este outro mapa abaixo, mostra-nos em que estados, nos últimos 48 anos (e doze eleições presidenciais), é que o candidato vencedor, fosse qual fosse a sua cor, venceu a eleição por uma margem inferior a 3% dos votos e também quantas vezes isso aconteceu. Não é coincidência que as áreas mais escuras dos dois mapas tenham algo de sobreponível. Esses são os estados onde, antecipadamente, se pode perceber o sentimento da opinião pública e o desfecho do resultado da eleição presidencial. Há quem os designe por swing states e é aí que os candidatos têm tendência a fazer incidir a esmagadora maioria dos recursos das suas campanhas, numa bizarra confusão entre causa e efeito - é que, reverter uma situação desvantajosa num desses estados, à custa de uma esforçada campanha de promoção, não implica necessariamente que a situação desvantajosa global da candidatura se reverta também... Mas as múltiplas sondagens que têm sido publicadas e que dão vantagem a Hillary Clinton em estados como a Virginia, o Ohio ou a Florida acabam por ter um significado mais consistente do que as sondagens nacionais.
Não interessa aos media reconhecerem que a eleição está decidida, senão deixam de ter assunto. Não interessa à candidatura de Hillary Clinton, por receio que esse reconhecimento desmobilizasse o seu eleitorado. E não interessaria também a Donald Trump, não fosse ele um marginal que só aceita as regras que lhe convêm. Ainda não houve eleições mas, ao permitir que aconteça o que está a acontecer em seu nome (afinal Trump é um candidato republicano), o aparelho do partido republicano já se tornou antecipadamente no maior vencido delas.
"O sistema eleitoral, compartimentando as disputas ao nível de cada um dos cinquenta estados e fazendo com que o vencedor o seja em absoluto (i.e., sem consideração pela representação da minoria)"
ResponderEliminarO panorama e na sua esmagadora maioria decidido da forma indicada mas, em abono da precisao, existem duas excepcoes: os Estados de Maine e Nebraska.
Que nao invalidam o argumento principal no entanto.
Tem toda a razão: se o processo excepcional se aplicasse na Califórnia, que elege 55 dos 538 delegados (10,2% do colégio), seria importante referir-me a essa particularidade. Porém, essas excepções desses dois estados aplicam-se a apenas 9 dos 538 membros do colégio eleitoral, ou seja 1,7% do total. Historicamente, essa excepcionalidade resultou até agora num único caso de um eleito pela formação contrária à vencedora no estado: foi no Nebraska em 2008. Talvez este ano se venha a repetir no Maine, mas o "gerrymandering" como são desenhados os distritos eleitorais intraestaduais torna esses casos pouco prováveis. E, quando se referem estas excepções, elas não são acompanhadas, para balanço, da menção às tentativas frustradas de revisão do processo de representação, contemplando as minorias, como aconteceu no Colorado, por exemplo, em 2008.
ResponderEliminarUm desafio que não é para levar muito a sério mas quer apostar qual a percentagem de leitores que consegue identificar a localização do Maine e do Nebraska nos mapas que publiquei?
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