Sob o título de Rich province, poor province a The Economist desta semana dedica um interessante artigo às assimetrias do desenvolvimento económico da China. Quem acompanha estes assuntos está habituado a ouvir falar do desenvolvimento e da prosperidade das províncias costeiras da China quando em contraste com as do interior e das consequências disso, nomeadamente ao nível demográfico, com centenas de milhões a deslocarem-se internamente na China em resposta às necessidades de mão de obra, do campo para a cidade e do interior para o litoral, enquanto ao mesmo tempo o governo chinês promove políticas de sentido inverso, arranjando polos de desenvolvimento no interior para aí fixar populações locais e migrantes vindos doutras partes da China - políticas que são mais sentidas nas províncias da China onde predominam minorias étnicas como serão os casos do Xinjiang, do Tibete ou do Ningxia que, como se lê no artigo, foi visitado este Verão pelo presidente Xi Jinping (ao centro, no mapa abaixo).
Um mapa em que as províncias são coloridas de acordo com a capitação do PIB em cada província da China fornece-nos uma outra panorâmica da assimetria das desigualdades internas. Segundo o que se pode ler no artigo da The Economist, para além das desigualdades, outro factor de preocupação está a ser a diminuição do ritmo a que essas desigualdades têm sido atenuadas (veja-se o gráfico abaixo, que cobre o período dos últimos 40 anos, depois da morte de Mao Zedong). Estão a ser as províncias mais ricas a manter as taxas de crescimento económico mais elevadas, acentuando as disparidades. E elas (as disparidades) parecem ser muito elevadas. Como se pode ler no próprio artigo: A China tem uma distribuição de riqueza muito assimétrica; a cidade de Xangai, que é equiparada a uma província, é cinco vezes mais rica que Gansu, com uma população equivalente. É uma diferença superior à que se regista num Brasil notório pelas suas desigualdades, onde o estado mais rico, o de São Paulo, é-o apenas quatro vezes mais que o do Piauí, o mais pobre dos 27 estados brasileiros.
E, só por curiosidade, e tendo em consideração o que acabámos de saber a respeito da China e do Brasil, o que acontece quanto se verifica como são as assimetrias dos 28 países da União Europeia? Aí podemos constatar que o PIB per capita da Suécia é sete vezes maior que o da Bulgária; que o da Dinamarca é seis vezes maior que o da Roménia; e que o do Luxemburgo é cinco vezes maior que o da Grécia (e de Portugal)*. Eu não tenho a The Economist como uma daquelas publicações mais descabeladamente europeístas, mas confesso a minha dificuldade em perceber esta sua preocupação em ir analisar preferencialmente as disparidades da distribuição de riqueza para o outro lado do Mundo, quando convive aqui na Europa com exemplos bem mais excessivos do que aqueles que apontou. É verdade que a União Europeia não é uma entidade política como a República Popular da China, mas cada vez mais vêmo-la a comportar-se como tal e não se pode esquecer o discurso oficial de Bruxelas sobre a coesão económica, social e territorial do espaço europeu... O discurso, porque a prática e os resultados são os que são.
* Considerados os casos extremos de riqueza do Luxemburgo e de pobreza da Bulgária (como o fez o autor do artigo da The Economist), um luxemburguês tem um rendimento médio mais de quatorze vezes superior ao de um búlgaro (2014).
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