11 outubro 2016

O PROCURADOR ESPECIAL

A recente promessa de Donald Trump de nomear um procurador especial para olhar para a situação de Hillary Clinton deve ter produzido em muitos milhares (senão mesmo milhões) de espectadores a associação com o exemplo histórico do procurador (também) especial Kenneth Starr que se celebrizou mundialmente por ter olhado - há quem opine com uma insistência desmesurada... - para a situação do marido de Hillary, Bill Clinton, enquanto este ocupava a presidência (1993-2001). No meio das memórias já confusas de acontecimentos com mais de vinte anos, há que recordar que a situação para onde originalmente Kenneth Starr olhou, se denominava Whitewater. Estava-se então em 1994. Tratava-se de um escândalo em potencial envolvendo os investimentos do casal Clinton num empreendimento imobiliário falhado quando Bill era governador do Arkansas, nos finais da década de 70. Como seria de antecipar, rapidamente se fez o trocadilho e o caso veio a ser conhecido pelo nome de Whitewatergate. Mas, só para continuar em jeito de trocadilhos, Kennneth Starr deu com os burrinhos na água quanto às acusações que dali procurou desenterrar. Porém perseverou e acabou por descobrir que o ponto fraco de Bill Clinton eram afinal os sarilhos de saias. Havia uma colecção de incidentes em que Bill se metera com mulheres mas foi com o da estagiária Mónica Lewinsky em 1998 (havia-se passado quatro anos - e uma reeleição - em investigações...) que Kenneth Starr alcançou o pináculo da glória do olhar para uma situação. Foi, conjuntamente com o seu alvo, o homem do ano da revista Time desse ano (abaixo). Nem até aí, nem depois disso, nunca mais um fellatio foi e veio a ser descrito e comentado de maneira tão composta, no apuramento de saber se a prática se enquadraria ou não na definição de relações sexuais...
E Kenneth Starr atravessou todo esta última fase com aquele ar bem comportado de quem sublimaria pela teoria aquilo que nos parecia que lhe faltava em prática... No fim, Starr falhou nos seus propósitos de o depor, Bill Clinton terminou o seu mandato e o procurador especial desapareceu esquecido, embora houvesse quem não pareça ter-lhe perdoado. Em Maio deste ano o New York Times deu-lhe o destaque de um desenvolvido artigo quando ele estava imerso por sua vez no seu próprio escândalo: a dirigir a universidade texana de Baylor desde há 6 anos, o outrora severíssimo Kenneth Starr deu à instituição que dirige uma imagem de inconveniente tolerância em relação a repetidos casos de assaltos sexuais verificados na instituição. Quem mostrou tal intolerância para os pecadilhos de um presidente não tem latitude para mostrar leniência para com alguns atletas com excesso de testosterona, numa atitude que era descrita como o silêncio de Ken Starr. Em 1 de Junho de 2016 o antigo procurador especial demitiu-se da universidade. Mas o mal maior do artigo do Times nada tinha a ver com alguma inconsequência da maneira como dirigia a universidade, era um verdadeiro assassinato de carácter, saboreado a frio, como a vingança sabe melhor, mostrando um Kenneth Starr que actualmente parece só ter elogios a fazer àquele que outrora tão empenhadamente perseguiu... Querem ver que José Sócrates e Carlos Alexandre ainda vão acabar excelentes amigos?...

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