Sinto-me tentado a concordar com José Pacheco Pereira: algumas notícias que se publicam na actualidade não estão concebidas para destinatários que tenham memória e a usem. Embora os seus textos se cinjam aos aspectos políticos do jornalismo (O esquecimento como arma política), noutros aspectos importantes, como é este caso acima do transporte aéreo, aquilo que se escreve hoje desdiz completamente o que foi o encadeado da argumentação que nos apresentaram no passado. É que eu lembro-me e os textos confirmam que a liberalização do transporte aéreo nos Estados Unidos em 1978 é que foi o grande indutor para que a União Europeia procedesse de igual modo, a partir da década de 90. Estávamos então por cá, e isso era um factor de pressão, com quase 20 anos de atraso em relação aos Estados Unidos. A concorrência iria fazer com que os preços dos bilhetes descesse por aí abaixo - e é verdade que eles desceram. Mas entrementes, explicavam-nos que era porque nos Estados Unidos existia uma verdadeira concorrência entre transportadoras aéreas que companhias de referência como a Pan Am ou a TWA acabavam por falir. E alertavam-nos para que, por cá, ou as companhias de bandeira (como a TAP) se adaptavam, ou sofreriam essa mesma sorte como de facto veio a suceder com a Sabena belga ou a Swissair suíça. Pois então agora, em 2016, a The Economist anuncia-nos que as transportadoras aéreas norte-americanas estão a ser ameaçadas pelas europeias? Como é possível tal fragilidade, depois de quase 40 anos de apuramento da espécie pelas saudáveis leis do mercado? E são as suas rivais europeias, comparativamente mais novas, que as ameaçam? Querem ver que a liberalização do transporte aéreo nos Estados Unidos não era afinal muito liberal? Ou então é a liberalização do transporte aéreo na Europa que afinal não é muito liberal... Seja qual for a verdadeira razão, para os consumidores comuns há as companhias low-cost, há as outras, e cá para mim a narrativa do transporte aéreo liberalizado perdeu coerência ideológica algures a meio do voo...
Estranho, de facto.
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